Quem responde é
a educadora Magda Soares, fundadora do Ceale e professora emérita da
Faculdade de Educação da UFMG, que foi a primeira entrevistada do
jornal, lançado em 2005.
Na hora
de organizar o espaço físico da sala de aula, sempre me pergunto quais
materiais seriam indispensáveis e auxiliariam em minha rotina escolar,
sem causar poluição visual.
Uana Tereza Amaral de Araújo – E.M. Waldir Ferreira Mendes –1º, 2º e 3º anos
Ferreira Gomes – AP
Há alguns
materiais que são, sim, indispensáveis, por duas razões: primeiro porque
introduzem a criança na cultura da escola e, segundo, porque a
introduzem no contato com a língua escrita. Quais são esses que
introduzem a criança na rotina escolar? Pela primeira vez, ela tem
contato com isso que se chama ‘chamada’. Então, um material na sala de
aula para o controle diário da professora e dos alunos é importante: um
cartaz ou outro suporte em que a criança veja a ‘chamada’, participe
dela, e já vá se acostumando com a escrita dos nomes. Outro aspecto é
que, quando a criança entra na cultura da escola, tem que aprender uma
série de comportamentos que são próprios daquele ambiente. Por exemplo,
não falar ao mesmo tempo que outros, pedir licença para falar: são os
chamados ‘combinados’. É interessante que isso fique escrito na sala de
aula, para que a professora possa se remeter aos combinados sempre que
for necessário. E é interessante também para as crianças observarem que o
que elas sugeriram oralmente a professora registra sob a forma de
escrita.
Um terceiro
material importante é o alfabeto inteiro na sala de aula. De princípio, a
criança ter as letras diante dela é importante para que vá se
habituando com essas formas. O conhecimento do significado, do valor, do
que as letras representam, virá aos poucos e progressivamente. Também é
importante pensar a localização dos materiais escritos na sala de aula.
Por exemplo, é muito frequente o alfabeto, por falta de espaço, ser
colocado lá no alto, em cima do quadro de giz; então a criança olha as
letras de baixo para cima e tem uma visão um pouco distorcida. Todos
esses materiais, quanto mais ficarem na altura da visão das crianças,
melhor. Por outro lado, é preciso evitar mesmo, como diz a pergunta,
excesso de materiais em volta da criança, criando ‘poluição visual’,
dispersando a atenção da criança. Há materiais que devem estar
permanentemente na sala, porque são usados diariamente ou com muita
frequência: os citados acima – a lista dos alunos, os ‘combinados’, o
alfabeto, o calendário, atualizado diariamente... a maioria, porém, são
materiais que ocupam a sala provisoriamente, enquanto são desenvolvidas
atividades baseadas neles.
Minha maior dificuldade é fazer com que o aluno reconheça a letra.
Sabrina Ramos da Silva – E. M. Amélia Schemes
1º ano / Gravataí - RS
Minha
maior dificuldade é fazer com que os alunos reconheçam as letras do
alfabeto. Este é o processo mais demorado na minha opinião... Eles
sentem muita dificuldade em memorizar as letras maiúsculas e minúsculas.
Marivane Pereira Borges - E.E. XV de Novembro - 3º ano
Tocantinópolis – TO
O que significa
reconhecer a letra? Há vários aspectos nisso. É preciso que a criança
reconheça que as letras são usadas para visualizar a fala. Quando a
professora fala “vou escrever aqui essa parlenda que nós cantamos”, a
criança vai reconhecendo as letras como algo que representa o som das
palavras.
Mas ela tem de
reconhecer as letras também enquanto um conjunto de traços e círculos,
que são arbitrários. A criança, quando olha o material escrito, vê uma
variedade de sinais, e precisa distinguir o que é letra e o que é outra
coisa. O trabalho com o nome das crianças também ajuda muito. A criança
que se chama Maria, na hora em que escreve seu nome, vê que escreve
cinco letras e que a outra, que se chama Mariana, escreve mais letras, e
ainda observa que a primeira letra dos dois nomes é igual, a primeira
sílaba também.
Outra questão
interessante é que, para a criança, no primeiro momento, a letra é um
objeto como qualquer outro. Mas os objetos são simétricos: se você vê
uma xícara com a asa para o lado de cá e a boca para cima, é uma xícara.
Você pode virar para o outro lado, continua sendo uma xícara. A letra
não é assim. Se você toma um ‘p’ minúsculo, vira para o lado, vira um
‘q’, vira para cima, vira um ‘d’. Para a criança, é difícil
desconsiderar a simetria dos objetos. As letras não são simétricas.
Começa-se a
alfabetização sempre, em geral, com as letras maiúsculas, porque elas
são mais fáceis para a criança traçar. E elas são independentes uma da
outra: a criança vê cada letra, o que não acontece na cursiva, em que as
letras ficam emendadas. Mas a minúscula não pode ser deixada de lado,
porque a escrita é quase toda em minúscula; a maiúscula é para certos
casos. Então a criança tem que se habituar também a fazer essa relação
da maiúscula com a minúscula. É interessante que o alfabeto que fica
exposto na sala de aula tenha a letra maiúscula e a letra minúscula, e
ao mesmo tempo algum desenho, alguma figura, cujo nome comece com aquela
letra, portanto, com o fonema que a letra representa. Porque aí a
criança já vê três aspectos das letras: por exemplo, primeiro, vê a
letra ‘D’ maiúscula; também vê que a letra ‘d’ minúscula é completamente
diferente; e tem ainda o desenho de um objeto em que a letra inicial é o
D e, ao dizer o nome do objeto, percebe o fonema que essa letra
representa. A professora deve sempre destacar a sílaba inicial, para a
criança identificar na sílaba o fonema que a letra representa. E não
errar, porque costuma-se ver, nas salas de aula e até mesmo em livros de
alfabeto, a figura de um anjo como exemplo de palavra que começa com a
letra ‘A’, quando em ‘anjo’ o fonema representado não é o ‘A’ oral, mas o
fonema /ã/, o ‘A’ nasal; o mesmo se pode dizer de ‘índio’ para ilustrar
a letra I, ou ‘onça’ para ilustrar a letra O, etc.
Quando
alfabetizamos, no início do processo, devemos apresentar o nome das
letras ou o som das letras, ou mediar para que as crianças, no uso,
descubram o som e o nome das letras ?
Viviane Beckert Spiess - E. M. Dr. Amadeu da Luz - 3º ano
Pomerode – SC
Minha
maior dificuldade é fazer com que o aluno identifique a letra pelo nome e
entenda que, juntando a outras, terá um outro som, e assim forma uma
palavra.
Janece Godinho Soares – E. E. Vale do Guaporé - 2º ano
Pontes e Lacerda – MT
No
início do processo de alfabetização, o alfabetizador não deve se
centralizar na letra nem no som da letra. Por quê? Sobretudo porque a
letra corresponde a um fonema, e os fonemas linguisticamente não são
pronunciáveis. A única exceção são as vogais, em que o nome da letra
corresponde ao fonema que ela representa, embora uma letra vogal possa
corresponder a mais de um fonema: o ‘a’ representa o /a/ [como em ‘abrir’], mas também representa o /ã/ [como em ‘anjo’]; o ‘o’, que representa a vogal fechada, como em olhar, a vogal aberta, como em ódio, a vogal nasal, como em onça; o mesmo ocorre com as demais vogais. Fala-se muito que as vogais são cinco e na verdade elas são doze.
Então, não se
trata de uma escolha entre representar o nome da letra ou o som da
letra, porque não é possível pronunciar o som das letras, das
consoantes. Você até pode apresentar o nome das letras, e isso costuma
ajudar, porque uma boa parte das letras do nosso alfabeto tem um nome em
que está presente o fonema que ela representa. Por exemplo, o nome da
letra ‘p’ é uma sílaba [pê], que começa com o fonema que essa letra
representa. Em outras letras, o fonema a que a letra corresponde aparece
no meio do nome. Por exemplo, na letra ‘m’, que tem o nome ‘eme’, que
se pronuncia ‘emi’, o fonema /m/ está no meio do nome da letra. Tanto é
assim que é frequente, por exemplo, a criança transformar uma letra
numa sílaba: ao escrever, por exemplo, ‘peteca’, ela coloca apenas o ‘p’
representando a sílaba ‘pe’. Isso mostra que o nome da letra ajuda a
criança a perceber o fonema que ela representa. Mas o que é fundamental é
sempre trabalhar a letra na palavra, ou na sílaba, e não a letra
isoladamente representando um som, porque não é possível pronunciar o
som da letra, o fonema a que ela corresponde. Assim, não se trata de
apresentar o nome da letra ou o som da letra. É um processo integrado:
letras, sons das letras acompanhando o desenvolvimento da criança nas
etapas psicogenéticas. A aprendizagem do sistema alfabético se dá pelo
desenvolvimento simultâneo da conceitualização da escrita (as fases
psicognéticas), o conhecimento das letras e a identificação dos fonemas a
que as letras correspondem.
Trabalhar consciência fonológica é focar o som da letra ou da sílaba? É importante trabalhar rima e aliteração? Por quê?
Maria José Dias - E. M. José Brasil Dias - 1º ano
Nova Lima – MG
Tenho
dúvida em relação ao que enfatizar primeiro, se o som das letras ou seu
formato. A criança primeiro formula suas hipóteses com os códigos ou
cria uma consciência fonológica?
Rejane Antunes Monteiro – C. E. Félix da Cunha - 1º ano
Pelotas – RS
Logo
que nasce, a criança põe o foco sobretudo nos sons das palavras que as
pessoas falam em volta dela. Tanto que começa a repeti-los, em geral os
mais fáceis, que são os bilabiais [como em ‘pá-pá-pá’ e ‘mã-mã-mã’]. À
medida que vai dando sentido a esses sons, a criança vai se desligando
deles e passando a se fixar no significado. O que a gente precisa fazer
na alfabetização é levar a criança a voltar a prestar atenção no som das
palavras, pois a escrita alfabética representa o som das palavras, não o
significado delas. Por isso, é importante desenvolver, desde a Educação
Infantil, a consciência fonológica. Por exemplo, para que se trabalha
rima? Se a professora trabalha bem uma parlenda em que a rima está
presente, ela chama a atenção para o final igual: "Capelinha de melão /É de São João".
A criança vai percebendo sons iguais, coloca sua atenção no som da
parlenda, não só em seu significado. A aliteração, quando se focalizam
palavras que começam com a mesma sílaba ou o mesmo fonema, que é o tipo
de aliteração mais fácil para a criança em fase de alfabetização, o
objetivo é também chamar a atenção para sons iguais, independentemente
do significado das palavras; por exemplo: “vamos encontrar palavras que
começam igual a ‘maçã’, ‘ma-çã’,
que comece com ‘ma’. Igual a meu nome, Ma-gda. Quem me fala uma palavra
que começa com ‘ma’?” E as respostas costumam ser: pera, laranja,
abacaxi. Porque estão pensando na fruta maçã, o foco está no campo
semântico da palavra, frutas. Essa passagem do foco no significado para o
foco no som da palavra é um dos aspectos do desenvolvimento da
consciência fonológica fundamental para a alfabetização: levar a criança
a perceber os sons das palavras prepara-a para compreender que registra
os sons das palavras, quando escreve, não o significado delas.
Uma outra
dimensão da consciência fonológica é a criança perceber que a palavra
pode ser dividida, segmentada, que é possível dividir ‘boneca’ em
‘bo-ne-ca’, ‘mesa’ em ‘me-sa’. Quando percebe essa possibilidade de
segmentação, e põe o foco no som das sílabas, e não no significado da
palavra, é que a criança chega à fase silábica, e é a sílaba que vai
permitir que ela chegue ao fonema, confrontando sílabas em que apenas
uma letra – um fonema – é diferente, porque só se chega ao fonema pela
oposição. Quando a criança opõe ‘mar’, com ‘par’, com ‘lar’, vai ter
possibilidade de identificar, pelo confronto, os fonemas representados
pelas letras M, P, L, e observa que o sentido da palavra muda porque
mudou o fonema inicial. Quando se fala em consciência fonológica, se
está falando em um conjunto que envolve: a consciência do som da
palavra, de partes iguais das palavras (rima e aliteração), da
segmentação da palavra em partes, de consciência silábica e finalmente
de consciência fonêmica. É um processo de desenvolvimento da criança que
ocorre conjugando a aprendizagem das letras com a correspondência delas
a fonemas, o que depende do desenvolvimento da consciência fonológica
em seus vários níveis.
Existe
muita cobrança dos pais e até de outros professores para que os alunos
saiam do 1º ano alfabetizados. Sendo assim, ao final do 1º ano, todos os
alunos devem estar alfabetizados?
Poliana Adelize Antoniazi Redondo –E. M. João Seber - 1º ano
Torrinha - SP
Tenho alunos que ainda não estão alfabetizados. O que fazer?
Cristiana Maria da Silva – E. M. Vereador Dormelino de Souza - 1º ano
Campo Florido – MG
A alfabetização
é um processo contínuo, em que não é possível definir uma linha de
corte e dizer: “aqui, nesse momento, esta criança está alfabetizada”.
Isso vai depender do conceito de alfabetização que se adota. Se a
criança está alfabética, na terminologia da psicogênese, ou seja, se ela
descobriu que se escreve com letras e que as letras representam sons,
pode-se considerar essa criança alfabetizada? É pouco, mas pode-se
considerar. Isso acontece, em geral, no 1º ano, ou mesmo no fim da
Educação Infantil, caso essa etapa tenha trabalhado sistematicamente não
propriamente a alfabetização, mas tenha orientado e incentivado o
processo progressivo de compreensão da escrita pela criança. Essa ideia
de que no fim do 1º ano as crianças têm que estar alfabetizadas é uma
ideia mais do senso comum do que propriamente de teorias de
alfabetização e até mesmo das políticas públicas. As políticas públicas
determinam que, ao fim do 3º ano, aos 8 anos de idade, a criança deve
estar alfabetizada, isso significando que ela já seja capaz de escrever e
ler pequenos textos e que leia com razoável fluência. Essa definição é
fundamentalmente política, e se orienta pelo critério de atendimento às
demandas sociais básicas de domínio da leitura e da escrita.
O mais
importante, para responder a essas perguntas, é que não há
possibilidade, do ponto de vista conceitual, de definir um ponto preciso
em que a criança esteja alfabetizada. Como a alfabetização é um
processo contínuo, há crianças que estão alfabetizadas, no conceito que
as políticas propõem, já no 1º ano; outras, no 2º ano; outras só quando
chegam ao 3º ano. E há as que demoram ainda mais tempo. É um processo
muito complexo e muito abstrato aprender a língua escrita, depende de
muitos fatores que atuam de forma diferente sobre as crianças.
Qual
seria a melhor estratégia para que os alunos de melhor desempenho na
leitura avancem e ao mesmo tempo os demais, que ainda não consolidaram o
processo de leitura, possam alcançá-lo?
Leni Aparecida Pereira Almeida – E. M. Eva Adeilda de Oliveira Almeida - 1º ano
Engenheiro Navarro – MG
Hoje
em dia é dito que devemos respeitar cada criança em seu tempo de
aprendizagem, mas como equacionar isso numa sala de aula durante as
atividades?
Claudia Cardamone - E. R. Profª Avani da Silva Santos - 1º ano
Paulo Lopes – SC
Realmente, toda
professora alfabetizadora encontra na sua turma alunos em níveis
diferentes no processo de descoberta do que é a escrita alfabética.
Mesmo depois que todos já se tornaram alfabéticos, ainda há alunos que
já estão lendo com mais fluência, outros com menos, os que já conseguem
escrever uma sentença, outros que ainda não chegaram aí. O mais
importante é que a alfabetizadora conheça muito bem o processo de
aprendizagem da língua escrita pela criança, sob vários aspectos: do
ponto de vista da psicogênese, do ponto de vista da psicologia
cognitiva, e do ponto de vista linguístico; que compreenda que a criança
está aprendendo um objeto linguístico que tem características
específicas. Se a professora conhece bem isso, ela é capaz de orientar a
criança, de detectar em que ponto cada criança está e que interferência
pode ou deve fazer para que cada uma avance. Ao compreender o processo,
a professora se torna capaz de encontrar soluções e vai saber o que
fazer com cada aluno, com cada grupo de alunos. E são vários os
procedimentos para trabalhar com grupos. Uma possibilidade é dar
atividades para alguns grupos enquanto a professora trabalha com outro,
sem deixar de passar de grupo em grupo. Ou reunindo num mesmo grupo
alunos em diferentes níveis, de modo que os mais adiantados impulsionem e
ensinem os colegas. São procedimentos vários para diferenciar a
alfabetização para alunos que são diferentes e avançam em ritmos
diferentes. Mas insisto que o mais importante é a alfabetizadora
conhecer o processo de desenvolvimento e de aprendizagem da criança, e
como se organiza o sistema de representação que é esse objeto
linguístico, a língua escrita, para que possa articular esses
conhecimentos com os níveis dos alunos e trabalhar com segurança as
diferenças.
Em
relação à meta do governo federal, de alfabetizar todas as crianças, no
máximo, até o final do 3º ano do Ensino Fundamental, os alunos com
dificuldade de aprendizagem também estão incluídos?
Ana Célia de Araujo Arantes Batista –N. E. M. Antonio Pereira dos Santos – 3º ano
Nova Olinda – TO
Quando
a política pública estabelece que todas as crianças devem estar
alfabetizadas no máximo até o 3º ano, é interessante observar que, na
legislação, no Plano Nacional de Educação, a expressão é “no máximo até
o 3º ano”. Ou seja, é possível que seja antes disso. Mas aqui entra de
novo o que eu já disse ao responder a perguntas anteriores: o que está
se entendendo por uma criança alfabetizada? Qual é o conceito de
alfabetização que está presente aí? É um problema em nosso país o fato
de que o que vem determinando o que é uma criança alfabetizada no 3º ano
é a prova de Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA). O que a ANA
avalia acaba sendo a visão que a política pública tem do que é uma
criança alfabetizada: uma criança capaz de responder àquela prova. Mas
será que é isso mesmo? A definição teria que partir não de uma prova,
mas de uma reflexão teoricamente fundamentada, cuidadosa, sobre quais os
comportamentos, habilidades e conhecimentos que a criança deve ter no
3º ano para que se possa considerá-la alfabetizada. Aqui entra a questão
da Base Nacional Comum Curricular, atualmente em discussão, que tem o
objetivo, entre outros, de definir o que se espera que as crianças
tenham atingido, ao final do 3º ano, como conhecimentos e habilidades na
área da aprendizagem da leitura e da escrita. E aí, sim, as avaliações
externas avaliariam aquilo que foi definido na Base Nacional Comum,
aquilo que orientou os alfabetizadores em seu ensino.
Mas a pergunta
menciona, com toda razão, que há crianças que chegam ao terceiro ano num
ponto do processo de alfabetização diferente das outras: são aquelas
consideradas com ‘dificuldades de aprendizagem’. Eu costumo dizer que,
mais frequentemente, são “dificuldades de ensinagem”... já que
frequentemente ocorrem porque alfabetizadoras, não tendo um pleno
domínio do processo de aprendizagem da criança, não sabem como ajudá-la a
tempo. Há crianças que ficam para trás, e não são acudidas naquilo que
precisam ser acudidas. Há inúmeras sugestões nas resoluções, nas leis,
nos decretos de conselhos estaduais e federal de que, desde o primeiro
momento em que se identifica que a criança tem dificuldades, já se tem
de dar uma atenção especial a ela. O que é, em tese, muito bom, mas as
escolas públicas não têm tido condição de dar esse atendimento pessoal.
Consequência: as crianças têm ido para a frente sem condições para
isso.
O professor que usa uma miscelânea de métodos na alfabetização mais ajuda ou atrapalha na hora de alfabetizar?
Naia Araújo Rodrigues - E.M. Professora Hilda Carvalho Mendes - 2º ano
Montes Claros – MG
Qual o melhor método para alfabetizar?
Cecilia Santana Jurec Kania –E. M. Antônio Andrade - 1º ano
Pinhais - PR
Na verdade, a
questão mais importante, na alfabetização, não é ter um método, nem ter
vários métodos e fazer uma miscelânea, ou aquilo que as professoras
chamam de ‘método eclético’ – que revela, no fundo, uma certa sabedoria,
porque, quando você examina os métodos de alfabetização que foram
surgindo ao longo do tempo (fônico, silábico, global, etc), vê-se que
cada um deles considerou um lado da alfabetização, ignorando os outros
lados. O problema dos métodos chamados ‘tradicionais’ é que eles
consideram ou um lado ou outro do multifacetado processo de
alfabetização. Na alfabetização, é preciso desenvolver vários e
diferentes aspectos simultaneamente. O que até permite admitir uma certa
vantagem de quem faz uso de vários métodos, chamado aqui de
‘miscelânea’. O nome, porém, não é muito adequado, porque não se trata
de fazer uma ‘miscelânea’ e, sim, de usar procedimentos adequados para
cada meta, cada objetivo, considerando o ponto em que a criança está, de
acordo com o processo cognitivo da criança e sua aprendizagem
linguística. Para mim, a questão, como já disse em respostas anteriores,
não é haver ‘um’ método para alfabetizar. Eu gosto de trocar a ordem
dessa expressão e propor que o que é preciso é “alfabetizar com método”:
o alfabetizador que entende o processo da criança trabalha com clareza,
com sistematicidade, com sequência, de acordo com aquilo que é preciso
fazer em cada faceta do processo, em cada etapa em que as crianças
estão. Não se alfabetiza desenvolvendo uma atividade aqui, outra ali, um
dia isso, outro dia aquilo, mas se alfabetiza tendo uma visão do
processo como um todo e orientando a criança ao longo desse processo.
Minha maior dúvida é se ainda é importante trabalhar a letra cursiva na alfabetização.
Maria Amélia de Ávila Madruga –E. E. República Riograndense - 1º ano
Piratini – RS
Posso
permitir que, mesmo no 3º ano, apesar de conhecerem as duas escritas,
meus alunos continuem com a escrita da letra palito, ou devo cobrar o
uso da letra cursiva?
Zaira Maria Soares Vargas - E. M. Zeferino Antunes de Almeida - 2º e 3º anos
Entre-Ijuís – RS
Quando
as professoras perguntam se ainda é importante trabalhar a letra
cursiva, se a criança pode optar por não usar a letra cursiva, está
subjacente às perguntas o reconhecimento de que a letra cursiva vem
sendo cada vez menos usada, porque realmente a tendência é que a
tecnologia leve as pessoas a digitarem mais que a escreverem com lápis e
papel. Mas acho que ainda é cedo para acreditar que, em curto prazo, as
pessoas não vão mais escrever à mão, embora em alguns países já esteja
sendo retirado da escola oficialmente o ensino da letra cursiva. Eu não
sou tão avançada assim para concordar com isso... acho que a cursiva
ainda é necessária em várias situações, nas práticas cotidianas. No
entanto, é preciso reconhecer que, se antigamente era realmente
necessário que a criança dominasse a cursiva, e eram comuns as aulas de
caligrafia, hoje em dia cada vez menos esse ensino é necessário; mas é
importante que a criança pelo menos saiba ler um texto em letra cursiva,
porque ela vai se deparar muitas vezes com textos em cursiva. Por outro
lado, o que é interessante é que o ensino da cursiva, se não for
entendido como ensino de caligrafia, é quase desnecessário, porque as
crianças passam quase naturalmente para a cursiva, muito por influência
da família, sobretudo crianças das escolas públicas, com menos acesso às
tecnologias. Pode haver uma orientação da professora, mas penso que
quase se pode deixar isso por conta da criança, e penso que se pode não
exigir a cursiva. O que se deve cobrar é que a escrita seja legível
porque, se a escrita é uma forma de comunicação, ela tem de possibilitar
que o outro consiga ler o que é comunicado.
Como
tornar o processo de aquisição da leitura uma prática prazerosa, na qual
a criança tenha vontade de aprender, mesmo diante das dificuldades que
estão presentes no seu dia a dia, em casa, no bairro e na família em que
está inserida?
Amanda Maria Ribeiro Amorim - Escola Municipal Professora Maria do Socorro
Ferreira Virino - 2º ano
Fortaleza – CE
Essas
dificuldades, que se referem sobretudo às crianças das camadas
populares, que frequentam as escolas públicas, são mais imaginadas pela
escola e pelas classes privilegiadas do que propriamente reais. As
crianças de escolas públicas realmente não têm as condições econômicas e
sociais que têm as crianças das camadas privilegiadas, mas, como toda
criança, elas são alegres, felizes, e brincam talvez muito mais do que
as crianças das classes médias. Ajudam, sim, em casa, mas isso não
impede que elas tenham prazeres, entre os quais, a leitura. No entanto, é
preciso reconhecer que o livro, particularmente o livro de literatura
infantil, é em geral muito pouco presente no contexto familiar das
crianças das escolas públicas. Cabe à escola suprir essa lacuna. A
alfabetização deve partir da leitura do livro infantil – porque esse é o
material que agrada e atrai a criança. A partir da história, a
professora tem condições de desenvolver, além de habilidades de
compreensão e interpretação, a aprendizagem do sistema de escrita, por
exemplo, ao tomar algumas palavras para buscar rimas, aliterações,
segmentação em sílabas, ao orientar reescritas, e tantas outras
atividades que um texto pode sugerir. O importante é a criança ter
contato tanto quanto possível com livros de literatura infantil na
escola. Tem que haver biblioteca na escola, bem montada, atraente. Se
lamentavelmente não tem, que pelo menos tenha um canto de leitura
atraente, onde as crianças tenham liberdade de manipular livros, e que
tudo que a professora faça parta de textos e retorne a textos. O
princípio de tudo é o texto que traga prazer para a criança: a história,
a narrativa, a poesia, e até o texto informativo que responda a
curiosidades. Ou seja, o fundamental é evitar fazer da aprendizagem da
leitura e da escrita uma coisa árida, automática, desligada do mundo da
escrita.
Qual é o significado de letramento? Como alfabetizar letrando?
Rosenaide Aparecida Tavora – Coordenadora local do Pacto Nacional pela
Alfabetização na Idade Certa
Alvorada D’Oeste – RO
Letramento é
uma palavra que surgiu no nosso vocabulário, e no vocabulário
especificamente da educação, nos anos 1980. E surgiu por que e para
designar o quê? Nós vínhamos, até o final dos anos 70, com a preocupação
básica de alfabetizar tanto crianças quanto adultos – ensinar a ler e a
escrever. Mas, à medida que a sociedade se foi tornando cada vez mais
centrada na escrita, e cada vez exige mais das pessoas a leitura e a
escrita de diferentes gêneros em diferentes suportes, não basta a pessoa
ser alfabetizada, no sentido de apenas saber ler e escrever, que é o
sentido que se atribui à alfabetização: a qualquer pessoa a quem você
pergunte o que é alfabetização, o que ela responde? É saber ler e
escrever. O que é uma criança alfabetizada? Uma criança que sabe ler e
escrever. O reconhecimento de que é preciso não só saber ler e escrever,
mas também saber fazer uso da leitura e da escrita nas situações
sociais em que a língua escrita está presente é que fez surgir a palavra
letramento, para nomear esses outros aspectos da aprendizagem da
leitura e da escrita. Assim, ampliou-se a concepção do que é a
aprendizagem da leitura e da escrita: alfabetização e letramento,
alfabetização como aprendizagem do sistema alfabético da escrita e da
norma ortográfica, e letramento como desenvolvimento das habilidades e
dos conhecimentos necessários para que a criança faça uso competente da
leitura e da escrita nas situações sociais em que a leitura e a escrita
são demandadas. São processos diferentes: alfabetizar é orientar
processos cognitivos e linguísticos para o domínio do objeto linguístico
que é a língua escrita, letrar é desenvolver conhecimentos e
habilidades de uso competente da leitura e da escrita. São processos
diferentes, mas os dois têm que caminhar juntos, para que a criança
entre no mundo da escrita em sua totalidade. Então, alfabetizar letrando
é alfabetizar a partir de textos, e textos reais, de diferentes
gêneros, em diferentes suportes, textos que realmente circulam no mundo
da criança.
Que critérios o professor deve levar em consideração para avaliar os alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental?
Clovilma Maria Silva Oliveira – Unidade de Ensino Cirilo Batista– 1º, 2º e 3º anos
Jucurutu – RN
Em qualquer
fase, mas sobretudo na fase da alfabetização, o importante é uma
avaliação diagnóstica bastante frequente. Para quê? Para acompanhar o
desenvolvimento da criança em seu progressivo domínio da leitura e da
escrita. Não uma avaliação para dar nota, para aprovar ou reprovar, mas
para identificar o que o aluno já venceu e o que ainda não venceu.
Diante dos resultados de um diagnóstico, a alfabetizadora se pergunta:
“Eu venho percorrendo com meus alunos um processo e a esta altura
preciso ver se eles já desenvolveram a consciência silábica, se já estão
escrevendo silabicamente, se já se aproximam da identificação dos
fonemas ou não, para eu saber se avanço ou não.” “Eles já estão
escrevendo, mas com que dificuldades?” A avaliação tem sempre o sentido
de diagnóstico, de buscar formas de identificar o que a criança
aprendeu, o que não aprendeu ainda, e assim decidir o que é preciso
fazer. Os critérios para avaliar são determinados pela orientação que o
professor está dando ao seu ensino: o que ensinou – as crianças
aprenderam?
Qual a melhor metodologia para ensinar a gramática contextualizada?
Maria Almeida de Amorim – E. M. Dr. Severiano - 3º ano
Coronel João Pessoa – RN
Todos nós,
desde que nascemos, vamos construindo uma gramática interna. E a criança
pequena e em fase de alfabetização fala gramaticalmente. Em geral, não é
necessário ficar ensinando à criança que “substantivo é a palavra
que...”, “adjetivo é isso”, “o verbo é aquilo”, porque ela já usa verbo,
adjetivo e substantivo. A gramática contextualizada – ensinada no
contexto da leitura e da escrita – tem o objetivo de enriquecer as
possibilidades de compreensão e de produção de textos da criança. Assim,
‘contextualizada’ significa a gramática no contexto da leitura e da
produção de texto: está-se lendo um texto, uma história, e ali aparece
algum aspecto gramatical que é próprio da língua escrita e que enriquece
a escrita da criança, então pode-se chamar a atenção para aquilo. A
gramática em todo o Ensino Fundamental é uma gramática a serviço da
leitura e da produção de texto. Quando o aluno escreve e erra alguma
coisa, como uma conjugação verbal ou uma concordância, aquele é o
momento de chamar a atenção para isso, para o aluno analisar a frase,
identificar e construir a regra que corrigiria aquilo. Mas esse
procedimento é realizado à medida que as oportunidades vão aparecendo,
nos textos de leitura, nos textos produzidos pelos alunos, por isso é
uma gramática contextualizada, aprendida em contextos reais de uso da
língua escrita.
Retirado do CEALE
Quem responde é
a educadora Magda Soares, fundadora do Ceale e professora emérita da
Faculdade de Educação da UFMG, que foi a primeira entrevistada do
jornal, lançado em 2005.
Na hora
de organizar o espaço físico da sala de aula, sempre me pergunto quais
materiais seriam indispensáveis e auxiliariam em minha rotina escolar,
sem causar poluição visual.
Uana Tereza Amaral de Araújo – E.M. Waldir Ferreira Mendes –1º, 2º e 3º anos
Ferreira Gomes – AP
Há alguns
materiais que são, sim, indispensáveis, por duas razões: primeiro porque
introduzem a criança na cultura da escola e, segundo, porque a
introduzem no contato com a língua escrita. Quais são esses que
introduzem a criança na rotina escolar? Pela primeira vez, ela tem
contato com isso que se chama ‘chamada’. Então, um material na sala de
aula para o controle diário da professora e dos alunos é importante: um
cartaz ou outro suporte em que a criança veja a ‘chamada’, participe
dela, e já vá se acostumando com a escrita dos nomes. Outro aspecto é
que, quando a criança entra na cultura da escola, tem que aprender uma
série de comportamentos que são próprios daquele ambiente. Por exemplo,
não falar ao mesmo tempo que outros, pedir licença para falar: são os
chamados ‘combinados’. É interessante que isso fique escrito na sala de
aula, para que a professora possa se remeter aos combinados sempre que
for necessário. E é interessante também para as crianças observarem que o
que elas sugeriram oralmente a professora registra sob a forma de
escrita.
Um terceiro
material importante é o alfabeto inteiro na sala de aula. De princípio, a
criança ter as letras diante dela é importante para que vá se
habituando com essas formas. O conhecimento do significado, do valor, do
que as letras representam, virá aos poucos e progressivamente. Também é
importante pensar a localização dos materiais escritos na sala de aula.
Por exemplo, é muito frequente o alfabeto, por falta de espaço, ser
colocado lá no alto, em cima do quadro de giz; então a criança olha as
letras de baixo para cima e tem uma visão um pouco distorcida. Todos
esses materiais, quanto mais ficarem na altura da visão das crianças,
melhor. Por outro lado, é preciso evitar mesmo, como diz a pergunta,
excesso de materiais em volta da criança, criando ‘poluição visual’,
dispersando a atenção da criança. Há materiais que devem estar
permanentemente na sala, porque são usados diariamente ou com muita
frequência: os citados acima – a lista dos alunos, os ‘combinados’, o
alfabeto, o calendário, atualizado diariamente... a maioria, porém, são
materiais que ocupam a sala provisoriamente, enquanto são desenvolvidas
atividades baseadas neles.
Minha maior dificuldade é fazer com que o aluno reconheça a letra.
Sabrina Ramos da Silva – E. M. Amélia Schemes
1º ano / Gravataí - RS
Minha
maior dificuldade é fazer com que os alunos reconheçam as letras do
alfabeto. Este é o processo mais demorado na minha opinião... Eles
sentem muita dificuldade em memorizar as letras maiúsculas e minúsculas.
Marivane Pereira Borges - E.E. XV de Novembro - 3º ano
Tocantinópolis – TO
O que significa
reconhecer a letra? Há vários aspectos nisso. É preciso que a criança
reconheça que as letras são usadas para visualizar a fala. Quando a
professora fala “vou escrever aqui essa parlenda que nós cantamos”, a
criança vai reconhecendo as letras como algo que representa o som das
palavras.
Mas ela tem de
reconhecer as letras também enquanto um conjunto de traços e círculos,
que são arbitrários. A criança, quando olha o material escrito, vê uma
variedade de sinais, e precisa distinguir o que é letra e o que é outra
coisa. O trabalho com o nome das crianças também ajuda muito. A criança
que se chama Maria, na hora em que escreve seu nome, vê que escreve
cinco letras e que a outra, que se chama Mariana, escreve mais letras, e
ainda observa que a primeira letra dos dois nomes é igual, a primeira
sílaba também.
Outra questão
interessante é que, para a criança, no primeiro momento, a letra é um
objeto como qualquer outro. Mas os objetos são simétricos: se você vê
uma xícara com a asa para o lado de cá e a boca para cima, é uma xícara.
Você pode virar para o outro lado, continua sendo uma xícara. A letra
não é assim. Se você toma um ‘p’ minúsculo, vira para o lado, vira um
‘q’, vira para cima, vira um ‘d’. Para a criança, é difícil
desconsiderar a simetria dos objetos. As letras não são simétricas.
Começa-se a
alfabetização sempre, em geral, com as letras maiúsculas, porque elas
são mais fáceis para a criança traçar. E elas são independentes uma da
outra: a criança vê cada letra, o que não acontece na cursiva, em que as
letras ficam emendadas. Mas a minúscula não pode ser deixada de lado,
porque a escrita é quase toda em minúscula; a maiúscula é para certos
casos. Então a criança tem que se habituar também a fazer essa relação
da maiúscula com a minúscula. É interessante que o alfabeto que fica
exposto na sala de aula tenha a letra maiúscula e a letra minúscula, e
ao mesmo tempo algum desenho, alguma figura, cujo nome comece com aquela
letra, portanto, com o fonema que a letra representa. Porque aí a
criança já vê três aspectos das letras: por exemplo, primeiro, vê a
letra ‘D’ maiúscula; também vê que a letra ‘d’ minúscula é completamente
diferente; e tem ainda o desenho de um objeto em que a letra inicial é o
D e, ao dizer o nome do objeto, percebe o fonema que essa letra
representa. A professora deve sempre destacar a sílaba inicial, para a
criança identificar na sílaba o fonema que a letra representa. E não
errar, porque costuma-se ver, nas salas de aula e até mesmo em livros de
alfabeto, a figura de um anjo como exemplo de palavra que começa com a
letra ‘A’, quando em ‘anjo’ o fonema representado não é o ‘A’ oral, mas o
fonema /ã/, o ‘A’ nasal; o mesmo se pode dizer de ‘índio’ para ilustrar
a letra I, ou ‘onça’ para ilustrar a letra O, etc.
Quando
alfabetizamos, no início do processo, devemos apresentar o nome das
letras ou o som das letras, ou mediar para que as crianças, no uso,
descubram o som e o nome das letras ?
Viviane Beckert Spiess - E. M. Dr. Amadeu da Luz - 3º ano
Pomerode – SC
Minha
maior dificuldade é fazer com que o aluno identifique a letra pelo nome e
entenda que, juntando a outras, terá um outro som, e assim forma uma
palavra.
Janece Godinho Soares – E. E. Vale do Guaporé - 2º ano
Pontes e Lacerda – MT
No
início do processo de alfabetização, o alfabetizador não deve se
centralizar na letra nem no som da letra. Por quê? Sobretudo porque a
letra corresponde a um fonema, e os fonemas linguisticamente não são
pronunciáveis. A única exceção são as vogais, em que o nome da letra
corresponde ao fonema que ela representa, embora uma letra vogal possa
corresponder a mais de um fonema: o ‘a’ representa o /a/ [como em ‘abrir’], mas também representa o /ã/ [como em ‘anjo’]; o ‘o’, que representa a vogal fechada, como em olhar, a vogal aberta, como em ódio, a vogal nasal, como em onça; o mesmo ocorre com as demais vogais. Fala-se muito que as vogais são cinco e na verdade elas são doze.
Então, não se
trata de uma escolha entre representar o nome da letra ou o som da
letra, porque não é possível pronunciar o som das letras, das
consoantes. Você até pode apresentar o nome das letras, e isso costuma
ajudar, porque uma boa parte das letras do nosso alfabeto tem um nome em
que está presente o fonema que ela representa. Por exemplo, o nome da
letra ‘p’ é uma sílaba [pê], que começa com o fonema que essa letra
representa. Em outras letras, o fonema a que a letra corresponde aparece
no meio do nome. Por exemplo, na letra ‘m’, que tem o nome ‘eme’, que
se pronuncia ‘emi’, o fonema /m/ está no meio do nome da letra. Tanto é
assim que é frequente, por exemplo, a criança transformar uma letra
numa sílaba: ao escrever, por exemplo, ‘peteca’, ela coloca apenas o ‘p’
representando a sílaba ‘pe’. Isso mostra que o nome da letra ajuda a
criança a perceber o fonema que ela representa. Mas o que é fundamental é
sempre trabalhar a letra na palavra, ou na sílaba, e não a letra
isoladamente representando um som, porque não é possível pronunciar o
som da letra, o fonema a que ela corresponde. Assim, não se trata de
apresentar o nome da letra ou o som da letra. É um processo integrado:
letras, sons das letras acompanhando o desenvolvimento da criança nas
etapas psicogenéticas. A aprendizagem do sistema alfabético se dá pelo
desenvolvimento simultâneo da conceitualização da escrita (as fases
psicognéticas), o conhecimento das letras e a identificação dos fonemas a
que as letras correspondem.
Trabalhar consciência fonológica é focar o som da letra ou da sílaba? É importante trabalhar rima e aliteração? Por quê?
Maria José Dias - E. M. José Brasil Dias - 1º ano
Nova Lima – MG
Tenho
dúvida em relação ao que enfatizar primeiro, se o som das letras ou seu
formato. A criança primeiro formula suas hipóteses com os códigos ou
cria uma consciência fonológica?
Rejane Antunes Monteiro – C. E. Félix da Cunha - 1º ano
Pelotas – RS
Logo
que nasce, a criança põe o foco sobretudo nos sons das palavras que as
pessoas falam em volta dela. Tanto que começa a repeti-los, em geral os
mais fáceis, que são os bilabiais [como em ‘pá-pá-pá’ e ‘mã-mã-mã’]. À
medida que vai dando sentido a esses sons, a criança vai se desligando
deles e passando a se fixar no significado. O que a gente precisa fazer
na alfabetização é levar a criança a voltar a prestar atenção no som das
palavras, pois a escrita alfabética representa o som das palavras, não o
significado delas. Por isso, é importante desenvolver, desde a Educação
Infantil, a consciência fonológica. Por exemplo, para que se trabalha
rima? Se a professora trabalha bem uma parlenda em que a rima está
presente, ela chama a atenção para o final igual: "Capelinha de melão /É de São João".
A criança vai percebendo sons iguais, coloca sua atenção no som da
parlenda, não só em seu significado. A aliteração, quando se focalizam
palavras que começam com a mesma sílaba ou o mesmo fonema, que é o tipo
de aliteração mais fácil para a criança em fase de alfabetização, o
objetivo é também chamar a atenção para sons iguais, independentemente
do significado das palavras; por exemplo: “vamos encontrar palavras que
começam igual a ‘maçã’, ‘ma-çã’,
que comece com ‘ma’. Igual a meu nome, Ma-gda. Quem me fala uma palavra
que começa com ‘ma’?” E as respostas costumam ser: pera, laranja,
abacaxi. Porque estão pensando na fruta maçã, o foco está no campo
semântico da palavra, frutas. Essa passagem do foco no significado para o
foco no som da palavra é um dos aspectos do desenvolvimento da
consciência fonológica fundamental para a alfabetização: levar a criança
a perceber os sons das palavras prepara-a para compreender que registra
os sons das palavras, quando escreve, não o significado delas.
Uma outra
dimensão da consciência fonológica é a criança perceber que a palavra
pode ser dividida, segmentada, que é possível dividir ‘boneca’ em
‘bo-ne-ca’, ‘mesa’ em ‘me-sa’. Quando percebe essa possibilidade de
segmentação, e põe o foco no som das sílabas, e não no significado da
palavra, é que a criança chega à fase silábica, e é a sílaba que vai
permitir que ela chegue ao fonema, confrontando sílabas em que apenas
uma letra – um fonema – é diferente, porque só se chega ao fonema pela
oposição. Quando a criança opõe ‘mar’, com ‘par’, com ‘lar’, vai ter
possibilidade de identificar, pelo confronto, os fonemas representados
pelas letras M, P, L, e observa que o sentido da palavra muda porque
mudou o fonema inicial. Quando se fala em consciência fonológica, se
está falando em um conjunto que envolve: a consciência do som da
palavra, de partes iguais das palavras (rima e aliteração), da
segmentação da palavra em partes, de consciência silábica e finalmente
de consciência fonêmica. É um processo de desenvolvimento da criança que
ocorre conjugando a aprendizagem das letras com a correspondência delas
a fonemas, o que depende do desenvolvimento da consciência fonológica
em seus vários níveis.
Existe
muita cobrança dos pais e até de outros professores para que os alunos
saiam do 1º ano alfabetizados. Sendo assim, ao final do 1º ano, todos os
alunos devem estar alfabetizados?
Poliana Adelize Antoniazi Redondo –E. M. João Seber - 1º ano
Torrinha - SP
Tenho alunos que ainda não estão alfabetizados. O que fazer?
Cristiana Maria da Silva – E. M. Vereador Dormelino de Souza - 1º ano
Campo Florido – MG
A alfabetização
é um processo contínuo, em que não é possível definir uma linha de
corte e dizer: “aqui, nesse momento, esta criança está alfabetizada”.
Isso vai depender do conceito de alfabetização que se adota. Se a
criança está alfabética, na terminologia da psicogênese, ou seja, se ela
descobriu que se escreve com letras e que as letras representam sons,
pode-se considerar essa criança alfabetizada? É pouco, mas pode-se
considerar. Isso acontece, em geral, no 1º ano, ou mesmo no fim da
Educação Infantil, caso essa etapa tenha trabalhado sistematicamente não
propriamente a alfabetização, mas tenha orientado e incentivado o
processo progressivo de compreensão da escrita pela criança. Essa ideia
de que no fim do 1º ano as crianças têm que estar alfabetizadas é uma
ideia mais do senso comum do que propriamente de teorias de
alfabetização e até mesmo das políticas públicas. As políticas públicas
determinam que, ao fim do 3º ano, aos 8 anos de idade, a criança deve
estar alfabetizada, isso significando que ela já seja capaz de escrever e
ler pequenos textos e que leia com razoável fluência. Essa definição é
fundamentalmente política, e se orienta pelo critério de atendimento às
demandas sociais básicas de domínio da leitura e da escrita.
O mais
importante, para responder a essas perguntas, é que não há
possibilidade, do ponto de vista conceitual, de definir um ponto preciso
em que a criança esteja alfabetizada. Como a alfabetização é um
processo contínuo, há crianças que estão alfabetizadas, no conceito que
as políticas propõem, já no 1º ano; outras, no 2º ano; outras só quando
chegam ao 3º ano. E há as que demoram ainda mais tempo. É um processo
muito complexo e muito abstrato aprender a língua escrita, depende de
muitos fatores que atuam de forma diferente sobre as crianças.
Qual
seria a melhor estratégia para que os alunos de melhor desempenho na
leitura avancem e ao mesmo tempo os demais, que ainda não consolidaram o
processo de leitura, possam alcançá-lo?
Leni Aparecida Pereira Almeida – E. M. Eva Adeilda de Oliveira Almeida - 1º ano
Engenheiro Navarro – MG
Hoje
em dia é dito que devemos respeitar cada criança em seu tempo de
aprendizagem, mas como equacionar isso numa sala de aula durante as
atividades?
Claudia Cardamone - E. R. Profª Avani da Silva Santos - 1º ano
Paulo Lopes – SC
Realmente, toda
professora alfabetizadora encontra na sua turma alunos em níveis
diferentes no processo de descoberta do que é a escrita alfabética.
Mesmo depois que todos já se tornaram alfabéticos, ainda há alunos que
já estão lendo com mais fluência, outros com menos, os que já conseguem
escrever uma sentença, outros que ainda não chegaram aí. O mais
importante é que a alfabetizadora conheça muito bem o processo de
aprendizagem da língua escrita pela criança, sob vários aspectos: do
ponto de vista da psicogênese, do ponto de vista da psicologia
cognitiva, e do ponto de vista linguístico; que compreenda que a criança
está aprendendo um objeto linguístico que tem características
específicas. Se a professora conhece bem isso, ela é capaz de orientar a
criança, de detectar em que ponto cada criança está e que interferência
pode ou deve fazer para que cada uma avance. Ao compreender o processo,
a professora se torna capaz de encontrar soluções e vai saber o que
fazer com cada aluno, com cada grupo de alunos. E são vários os
procedimentos para trabalhar com grupos. Uma possibilidade é dar
atividades para alguns grupos enquanto a professora trabalha com outro,
sem deixar de passar de grupo em grupo. Ou reunindo num mesmo grupo
alunos em diferentes níveis, de modo que os mais adiantados impulsionem e
ensinem os colegas. São procedimentos vários para diferenciar a
alfabetização para alunos que são diferentes e avançam em ritmos
diferentes. Mas insisto que o mais importante é a alfabetizadora
conhecer o processo de desenvolvimento e de aprendizagem da criança, e
como se organiza o sistema de representação que é esse objeto
linguístico, a língua escrita, para que possa articular esses
conhecimentos com os níveis dos alunos e trabalhar com segurança as
diferenças.
Em
relação à meta do governo federal, de alfabetizar todas as crianças, no
máximo, até o final do 3º ano do Ensino Fundamental, os alunos com
dificuldade de aprendizagem também estão incluídos?
Ana Célia de Araujo Arantes Batista –N. E. M. Antonio Pereira dos Santos – 3º ano
Nova Olinda – TO
Quando
a política pública estabelece que todas as crianças devem estar
alfabetizadas no máximo até o 3º ano, é interessante observar que, na
legislação, no Plano Nacional de Educação, a expressão é “no máximo até
o 3º ano”. Ou seja, é possível que seja antes disso. Mas aqui entra de
novo o que eu já disse ao responder a perguntas anteriores: o que está
se entendendo por uma criança alfabetizada? Qual é o conceito de
alfabetização que está presente aí? É um problema em nosso país o fato
de que o que vem determinando o que é uma criança alfabetizada no 3º ano
é a prova de Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA). O que a ANA
avalia acaba sendo a visão que a política pública tem do que é uma
criança alfabetizada: uma criança capaz de responder àquela prova. Mas
será que é isso mesmo? A definição teria que partir não de uma prova,
mas de uma reflexão teoricamente fundamentada, cuidadosa, sobre quais os
comportamentos, habilidades e conhecimentos que a criança deve ter no
3º ano para que se possa considerá-la alfabetizada. Aqui entra a questão
da Base Nacional Comum Curricular, atualmente em discussão, que tem o
objetivo, entre outros, de definir o que se espera que as crianças
tenham atingido, ao final do 3º ano, como conhecimentos e habilidades na
área da aprendizagem da leitura e da escrita. E aí, sim, as avaliações
externas avaliariam aquilo que foi definido na Base Nacional Comum,
aquilo que orientou os alfabetizadores em seu ensino.
Mas a pergunta
menciona, com toda razão, que há crianças que chegam ao terceiro ano num
ponto do processo de alfabetização diferente das outras: são aquelas
consideradas com ‘dificuldades de aprendizagem’. Eu costumo dizer que,
mais frequentemente, são “dificuldades de ensinagem”... já que
frequentemente ocorrem porque alfabetizadoras, não tendo um pleno
domínio do processo de aprendizagem da criança, não sabem como ajudá-la a
tempo. Há crianças que ficam para trás, e não são acudidas naquilo que
precisam ser acudidas. Há inúmeras sugestões nas resoluções, nas leis,
nos decretos de conselhos estaduais e federal de que, desde o primeiro
momento em que se identifica que a criança tem dificuldades, já se tem
de dar uma atenção especial a ela. O que é, em tese, muito bom, mas as
escolas públicas não têm tido condição de dar esse atendimento pessoal.
Consequência: as crianças têm ido para a frente sem condições para
isso.
O professor que usa uma miscelânea de métodos na alfabetização mais ajuda ou atrapalha na hora de alfabetizar?
Naia Araújo Rodrigues - E.M. Professora Hilda Carvalho Mendes - 2º ano
Montes Claros – MG
Qual o melhor método para alfabetizar?
Cecilia Santana Jurec Kania –E. M. Antônio Andrade - 1º ano
Pinhais - PR
Na verdade, a
questão mais importante, na alfabetização, não é ter um método, nem ter
vários métodos e fazer uma miscelânea, ou aquilo que as professoras
chamam de ‘método eclético’ – que revela, no fundo, uma certa sabedoria,
porque, quando você examina os métodos de alfabetização que foram
surgindo ao longo do tempo (fônico, silábico, global, etc), vê-se que
cada um deles considerou um lado da alfabetização, ignorando os outros
lados. O problema dos métodos chamados ‘tradicionais’ é que eles
consideram ou um lado ou outro do multifacetado processo de
alfabetização. Na alfabetização, é preciso desenvolver vários e
diferentes aspectos simultaneamente. O que até permite admitir uma certa
vantagem de quem faz uso de vários métodos, chamado aqui de
‘miscelânea’. O nome, porém, não é muito adequado, porque não se trata
de fazer uma ‘miscelânea’ e, sim, de usar procedimentos adequados para
cada meta, cada objetivo, considerando o ponto em que a criança está, de
acordo com o processo cognitivo da criança e sua aprendizagem
linguística. Para mim, a questão, como já disse em respostas anteriores,
não é haver ‘um’ método para alfabetizar. Eu gosto de trocar a ordem
dessa expressão e propor que o que é preciso é “alfabetizar com método”:
o alfabetizador que entende o processo da criança trabalha com clareza,
com sistematicidade, com sequência, de acordo com aquilo que é preciso
fazer em cada faceta do processo, em cada etapa em que as crianças
estão. Não se alfabetiza desenvolvendo uma atividade aqui, outra ali, um
dia isso, outro dia aquilo, mas se alfabetiza tendo uma visão do
processo como um todo e orientando a criança ao longo desse processo.
Minha maior dúvida é se ainda é importante trabalhar a letra cursiva na alfabetização.
Maria Amélia de Ávila Madruga –E. E. República Riograndense - 1º ano
Piratini – RS
Posso
permitir que, mesmo no 3º ano, apesar de conhecerem as duas escritas,
meus alunos continuem com a escrita da letra palito, ou devo cobrar o
uso da letra cursiva?
Zaira Maria Soares Vargas - E. M. Zeferino Antunes de Almeida - 2º e 3º anos
Entre-Ijuís – RS
Quando
as professoras perguntam se ainda é importante trabalhar a letra
cursiva, se a criança pode optar por não usar a letra cursiva, está
subjacente às perguntas o reconhecimento de que a letra cursiva vem
sendo cada vez menos usada, porque realmente a tendência é que a
tecnologia leve as pessoas a digitarem mais que a escreverem com lápis e
papel. Mas acho que ainda é cedo para acreditar que, em curto prazo, as
pessoas não vão mais escrever à mão, embora em alguns países já esteja
sendo retirado da escola oficialmente o ensino da letra cursiva. Eu não
sou tão avançada assim para concordar com isso... acho que a cursiva
ainda é necessária em várias situações, nas práticas cotidianas. No
entanto, é preciso reconhecer que, se antigamente era realmente
necessário que a criança dominasse a cursiva, e eram comuns as aulas de
caligrafia, hoje em dia cada vez menos esse ensino é necessário; mas é
importante que a criança pelo menos saiba ler um texto em letra cursiva,
porque ela vai se deparar muitas vezes com textos em cursiva. Por outro
lado, o que é interessante é que o ensino da cursiva, se não for
entendido como ensino de caligrafia, é quase desnecessário, porque as
crianças passam quase naturalmente para a cursiva, muito por influência
da família, sobretudo crianças das escolas públicas, com menos acesso às
tecnologias. Pode haver uma orientação da professora, mas penso que
quase se pode deixar isso por conta da criança, e penso que se pode não
exigir a cursiva. O que se deve cobrar é que a escrita seja legível
porque, se a escrita é uma forma de comunicação, ela tem de possibilitar
que o outro consiga ler o que é comunicado.
Como
tornar o processo de aquisição da leitura uma prática prazerosa, na qual
a criança tenha vontade de aprender, mesmo diante das dificuldades que
estão presentes no seu dia a dia, em casa, no bairro e na família em que
está inserida?
Amanda Maria Ribeiro Amorim - Escola Municipal Professora Maria do Socorro
Ferreira Virino - 2º ano
Fortaleza – CE
Essas
dificuldades, que se referem sobretudo às crianças das camadas
populares, que frequentam as escolas públicas, são mais imaginadas pela
escola e pelas classes privilegiadas do que propriamente reais. As
crianças de escolas públicas realmente não têm as condições econômicas e
sociais que têm as crianças das camadas privilegiadas, mas, como toda
criança, elas são alegres, felizes, e brincam talvez muito mais do que
as crianças das classes médias. Ajudam, sim, em casa, mas isso não
impede que elas tenham prazeres, entre os quais, a leitura. No entanto, é
preciso reconhecer que o livro, particularmente o livro de literatura
infantil, é em geral muito pouco presente no contexto familiar das
crianças das escolas públicas. Cabe à escola suprir essa lacuna. A
alfabetização deve partir da leitura do livro infantil – porque esse é o
material que agrada e atrai a criança. A partir da história, a
professora tem condições de desenvolver, além de habilidades de
compreensão e interpretação, a aprendizagem do sistema de escrita, por
exemplo, ao tomar algumas palavras para buscar rimas, aliterações,
segmentação em sílabas, ao orientar reescritas, e tantas outras
atividades que um texto pode sugerir. O importante é a criança ter
contato tanto quanto possível com livros de literatura infantil na
escola. Tem que haver biblioteca na escola, bem montada, atraente. Se
lamentavelmente não tem, que pelo menos tenha um canto de leitura
atraente, onde as crianças tenham liberdade de manipular livros, e que
tudo que a professora faça parta de textos e retorne a textos. O
princípio de tudo é o texto que traga prazer para a criança: a história,
a narrativa, a poesia, e até o texto informativo que responda a
curiosidades. Ou seja, o fundamental é evitar fazer da aprendizagem da
leitura e da escrita uma coisa árida, automática, desligada do mundo da
escrita.
Qual é o significado de letramento? Como alfabetizar letrando?
Rosenaide Aparecida Tavora – Coordenadora local do Pacto Nacional pela
Alfabetização na Idade Certa
Alvorada D’Oeste – RO
Letramento é
uma palavra que surgiu no nosso vocabulário, e no vocabulário
especificamente da educação, nos anos 1980. E surgiu por que e para
designar o quê? Nós vínhamos, até o final dos anos 70, com a preocupação
básica de alfabetizar tanto crianças quanto adultos – ensinar a ler e a
escrever. Mas, à medida que a sociedade se foi tornando cada vez mais
centrada na escrita, e cada vez exige mais das pessoas a leitura e a
escrita de diferentes gêneros em diferentes suportes, não basta a pessoa
ser alfabetizada, no sentido de apenas saber ler e escrever, que é o
sentido que se atribui à alfabetização: a qualquer pessoa a quem você
pergunte o que é alfabetização, o que ela responde? É saber ler e
escrever. O que é uma criança alfabetizada? Uma criança que sabe ler e
escrever. O reconhecimento de que é preciso não só saber ler e escrever,
mas também saber fazer uso da leitura e da escrita nas situações
sociais em que a língua escrita está presente é que fez surgir a palavra
letramento, para nomear esses outros aspectos da aprendizagem da
leitura e da escrita. Assim, ampliou-se a concepção do que é a
aprendizagem da leitura e da escrita: alfabetização e letramento,
alfabetização como aprendizagem do sistema alfabético da escrita e da
norma ortográfica, e letramento como desenvolvimento das habilidades e
dos conhecimentos necessários para que a criança faça uso competente da
leitura e da escrita nas situações sociais em que a leitura e a escrita
são demandadas. São processos diferentes: alfabetizar é orientar
processos cognitivos e linguísticos para o domínio do objeto linguístico
que é a língua escrita, letrar é desenvolver conhecimentos e
habilidades de uso competente da leitura e da escrita. São processos
diferentes, mas os dois têm que caminhar juntos, para que a criança
entre no mundo da escrita em sua totalidade. Então, alfabetizar letrando
é alfabetizar a partir de textos, e textos reais, de diferentes
gêneros, em diferentes suportes, textos que realmente circulam no mundo
da criança.
Que critérios o professor deve levar em consideração para avaliar os alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental?
Clovilma Maria Silva Oliveira – Unidade de Ensino Cirilo Batista– 1º, 2º e 3º anos
Jucurutu – RN
Em qualquer
fase, mas sobretudo na fase da alfabetização, o importante é uma
avaliação diagnóstica bastante frequente. Para quê? Para acompanhar o
desenvolvimento da criança em seu progressivo domínio da leitura e da
escrita. Não uma avaliação para dar nota, para aprovar ou reprovar, mas
para identificar o que o aluno já venceu e o que ainda não venceu.
Diante dos resultados de um diagnóstico, a alfabetizadora se pergunta:
“Eu venho percorrendo com meus alunos um processo e a esta altura
preciso ver se eles já desenvolveram a consciência silábica, se já estão
escrevendo silabicamente, se já se aproximam da identificação dos
fonemas ou não, para eu saber se avanço ou não.” “Eles já estão
escrevendo, mas com que dificuldades?” A avaliação tem sempre o sentido
de diagnóstico, de buscar formas de identificar o que a criança
aprendeu, o que não aprendeu ainda, e assim decidir o que é preciso
fazer. Os critérios para avaliar são determinados pela orientação que o
professor está dando ao seu ensino: o que ensinou – as crianças
aprenderam?
Qual a melhor metodologia para ensinar a gramática contextualizada?
Maria Almeida de Amorim – E. M. Dr. Severiano - 3º ano
Coronel João Pessoa – RN
Todos nós,
desde que nascemos, vamos construindo uma gramática interna. E a criança
pequena e em fase de alfabetização fala gramaticalmente. Em geral, não é
necessário ficar ensinando à criança que “substantivo é a palavra
que...”, “adjetivo é isso”, “o verbo é aquilo”, porque ela já usa verbo,
adjetivo e substantivo. A gramática contextualizada – ensinada no
contexto da leitura e da escrita – tem o objetivo de enriquecer as
possibilidades de compreensão e de produção de textos da criança. Assim,
‘contextualizada’ significa a gramática no contexto da leitura e da
produção de texto: está-se lendo um texto, uma história, e ali aparece
algum aspecto gramatical que é próprio da língua escrita e que enriquece
a escrita da criança, então pode-se chamar a atenção para aquilo. A
gramática em todo o Ensino Fundamental é uma gramática a serviço da
leitura e da produção de texto. Quando o aluno escreve e erra alguma
coisa, como uma conjugação verbal ou uma concordância, aquele é o
momento de chamar a atenção para isso, para o aluno analisar a frase,
identificar e construir a regra que corrigiria aquilo. Mas esse
procedimento é realizado à medida que as oportunidades vão aparecendo,
nos textos de leitura, nos textos produzidos pelos alunos, por isso é
uma gramática contextualizada, aprendida em contextos reais de uso da
língua escrita.
Retirado do CEALE
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