Atividades para o Ensino Médio - Textos relativos ao estupro coletivo cometido no Rio de Janeiro
Texto 1
Um soco no útero - Ruth de Aquino
O estupro coletivo da jovem de 16 anos, “uma mina amassada” por mais de
30 homens, numa favela do Rio de Janeiro, me deixou com as mãos
trêmulas, um misto de raiva e impotência. A garota se queixa de fortes
dores internas, “como se fosse no útero”. Não vi o vídeo de 40 segundos
que exibiu a moça inconsciente, com sua nudez violada e ensanguentada.
Foi por seu corpo – o mesmo corpo que deu à luz um filho quando ela só
tinha 13 anos – que “o trem-bala passou”.
“É nós, trem-bala Marreta”, gabou-se um dos estupradores no vídeo.
Referia-se ao grupo de traficantes do Comando Vermelho chefiado por Luiz
Cláudio Machado, o Marreta, preso em 2014 no Paraguai. Os homens
estavam armados de fuzis e pistolas. A jovem tinha ido encontrar um
rapaz de 19 anos, o “Petão”, em sua casa, na Zona Oeste do Rio. Saía com
ele havia uns anos após se conhecerem no colégio. Disse que acordou no
dia seguinte, observada pelos homens armados.
Não é o primeiro nem será o último estupro coletivo – ou gang rape, como
se diz lá fora. Neste momento, o Piauí investiga uma denúncia de
estupro coletivo de uma jovem de 17 anos. A cada 11 minutos, uma mulher é
violentada no Brasil. No Rio de Janeiro, 12 são estupradas por dia. Os
casos mais chocantes envolvem o próprio pai, parentes, namorados,
vizinhos, ou gangues.
Muitos ataques terminam em morte. Os números não refletem a realidade. É
um crime difícil de denunciar – pela vergonha e pelo desânimo.
Pesquisas internacionais indicam que apenas 35% dos casos são
notificados. A barbárie também está no inconsciente coletivo de
sociedades machistas que culpam as vítimas. Quem usa saia curta ou
namora traficante se sujeita a ser estuprada. Essa é a lógica das
favelas e do asfalto.
Se isso explicasse o abuso, não haveria estupros em campus de
universidades, em festinhas da elite ou dentro de casa. No ano passado,
surgiu um blog com um manual Como Estuprar Mulher na Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. O blog, do “Tio Astolfo”,
“em prol da Filosofia do Estupro”, chamava as estudantes de “vadias”.
Não soube de nenhuma prisão por isso.
Essa moça no Rio de Janeiro foi estuprada por ser mulher. Os bandidos
divulgaram sua façanha em vídeo entre risos e sem disfarce. Foi um soco
na consciência nacional. Pela lei, quando a vítima do estupro tem entre
14 e 18 anos, a sentença para os criminosos é de oito a 12 anos de
prisão. Quantos realmente são punidos?
Um crime hediondo desses deveria ser punido com a prisão perpétua – sem
levar em conta a idade dos criminosos. Sabemos que só a Educação, nas
escolas e em casa, pode reduzir o abuso a longo prazo. Mas o
investimento na Educação deve ser acompanhado do rigor na lei. A
impunidade gritante encoraja outros a se sentir mais machos com os
estupros.
“Esta aqui é a famosa ‘come rato’ da Barão”, diz um homem enquanto
aponta para a moça desacordada e nua. “Mais de 30 engravidou (sic)”, diz
outro. “Amassaram a mina, intendeu ou não intendeu (sic)?” “Olha como é
que ela tá! Sangrando...”, disse, abrindo as pernas da jovem. Barbárie,
covardia e o que mais? Não tem nome para isso.
A jovem soube do vídeo, foi à favela e pediu ao chefe do tráfico seu
celular roubado. À polícia, ela disse que usa ecstasy e lança-perfume
mas não usava entorpecente havia um mês. Da noite do crime, diz não se
lembrar de nada. A mãe da moça é professora e pedagoga. A família chorou
ao ver o vídeo. O pai disse: “Bagunçaram minha filha”.
Bagunçam o Brasil todos os que não se indignam. Mas especialmente
figuras abjetas como o ator Alexandre Frota, recebido pelo ministro da
Educação Mendonça Filho com “propostas para um ensino sem doutrinação”. O
ministro disse em sua defesa: “Não discrimino ninguém”. Dê uma
olhadinha na participação de Alexandre Frota em um programa de TV em
maio de 2014, Agora é tarde. E perceba como o senhor deve desculpas
tardias a si mesmo e a sua família pela agenda descabida.
[...]
1) Observe a seguinte passagem do texto: "É nós, trem-bala Marreta [...]". Segundo o texto, ao que essa expressão faz referência?
2) Que expressão foi empregada, no 3º parágrafo, para referir-se ao
"estupro coletivo"? E o que a autora quis dizer com "como se diz lá
fora"?
3) Observe o seguinte trecho do texto: "A cada 11 minutos, uma mulher é violentada no Brasil. No Rio de Janeiro, 12 são estupradas por dia.". Quantas mulheres são violentadas por hora no Brasil? E por dia?
4) Por que, de acordo com a autora, "os números não refletem a realidade"?
5) Qual é, segundo a autora, a lógica das favelas e do asfalto para justificar o estupro?
6) Que argumentos ela contrapõem a essa lógica, citada anteriormente?
7) Qual seria, na opinião da autora, a punição justa para crimes deste tipo?
8) O que, segunda a autora, pode reduzir o abuso, a longo prazo? Acompanhado de quê?
9) Explique o que você compreende com a frase: "Bagunçam o Brasil todos os que não se indignam." (10º parágrafo).
10) Releia a seguinte frase do texto: "Mas especialmente figuras abjetas
como o ator Alexandre Frota, recebido pelo ministro da Educação
Mendonça Filho com “propostas para um ensino sem doutrinação”. (10º
parágrafo). Explique o significado do adjetivo usado para referir-se a Alexandre Frota, contextualizando-o:
Texto 2
Vozes adolescentes reagem à barbárie do estupro coletivo
Cristiane Segatto
Diante da barbárie do estupro coletivo de uma garota de 16 anos no Rio
de Janeiro, minha voz é nada. Pura irrelevância diante de tudo o que as
adolescentes de 2016 têm sido capazes de expressar nas redes sociais,
nos grupos de discussão e nas ruas.
Por mais que tenha feito, minha geração fracassou na denúncia e
nocombate ao mais infame dos crimes. Não demos uma resposta coletiva,
organizada e veemente como a da nova geração.
Um estupro é coletivo não apenas por ter sido cometido por 33 homens,
sem que nenhum deles tentasse impedi-lo. É coletivo porque pretende
subjugar todas as mulheres. É um crime que grita por punição exemplar,
tanto quanto os casos abomináveis do Piauí. Assim como cada uma das
quase 50 mil ocorrências que destroem histórias e abalam famílias ano
após ano, sem que o Brasil sequer se envergonhe sinceramente delas.
A barbárie do estupro e o machismo de todos os dias são fruto da mesma
cultura. Uma cultura que só pode ser quebrada se a indignação crescer a
ponto de produzir transformações sociais profundas. Esse não é um
assunto de mulher. É um tema da humanidade. Da total ausência de
empatia, a capacidade de se colocar no lugar do outro.
A empatia é um dos pontos levantados pelas adolescentes paulistanas de
15 a 17 anos que fizeram o áudio desta coluna. São meninas que se reúnem
periodicamente para discutir o papel das mulheres e as agressões
machistas (veladas ou explícitas) de todos os dias. “Um estupro não pode
ser algo banal”, diz uma delas. “Não pode ser uma conversa de café da
manhã.” “Empatia é o que falta para o mundo mudar.”
Essa geração de meninas pode mudar o mundo. Boto fé nisso e quero estar com elas.
1) Com qual objetivo a autora empregou, no primeiro parágrafo do texto, o termo "barbárie" para referir-se ao caso de estupro coletivo cometido no Rio de Janeiro?
2) No segundo parágrafo a autora afirma: "por mais que tenha feito, minha geração fracassou na denúncia e no combate ao mais infame dos crimes." Por que, na sua opinião, ela faz essa afirmação?
3) "Não demos uma resposta coletiva, organizada e veemente como a da nova geração." (2º parágrafo). O que significa, o termo destacado, neste contexto?
4) Qual é, de acordo com o texto, o mais infame dos crimes?
5) Explique a seguinte frase do texto: "É coletivo porque pretende subjugar todas as mulheres." (3º parágrafo).
6) O que, de acordo com o texto, "empatia"?
7) Observe o seguinte trecho: "São meninas que se reúnem periodicamente para discutir o papel das mulheres e as agressões machistas (veladas ou explícitas) de todos os dias." (5º parágrafo). O que significa o termo destacado? A que atitudes machistas ele pode ser relacionado?
8) O que, de acordo com o texto, falta para o mundo mudar? Você concorda com isso? Posicione-se.
Texto 3
Pelo fim da cultura do estupro
Gleisi Hoffmann
Não é fácil ser mulher nesta sociedade. Os poucos anos de avanços e
conquistas que tivemos não conseguem apagar a cultura machista,
patriarcal e violenta que sempre envolveu a história das mulheres na
humanidade.
Cidadãs de segunda classe, extensão da propriedade do homem,
incapacitadas para decidir, as mulheres sempre foram maltratadas e
desrespeitadas. Apesar de mudanças significativas na legislação,
garantindo direitos, penalizando abusos, os ditos “costumes” ainda falam
mais alto.
Só isso pode explicar os casos bárbaros de estupro que estamos
assistindo no Brasil, sendo o mais emblemático o do Rio de Janeiro em
que mais de 30 homens abusaram de uma jovem de 16 anos, desacordada.
Postaram fotos nas redes, fizeram comentários. A primeira ação do
delegado do caso foi tentar minimizar, dizendo que precisava de mais
evidências para saber se tinha sido caso de estupro!!! Ao ouvir a vítima
novamente, o delegado fez-se acompanhar por mais três homens e quis
saber se ela praticava sexo grupal!
É a velha tentativa de querer responsabilizar a vítima pelo crime.
Afinal, se ela já tinha feito sexo em grupo, frequentava os bailes funks
e não se vestia “decentemente”, o estupro estaria praticamente
justificado. É bom lembrar que há muito pouco tempo livramos os nossos
tribunais do argumento da “legítima defesa da honra” que permitiu o
assassinato de muitas mulheres. Sempre surge, no final, a pergunta: “mas
o que ela fez para merecer isso”?
A cultura prevalente é de que o homem pratique violência, com a
finalidade de punir e corrigir comportamentos femininos que transgridem o
papel esperado de mãe, esposa e dona de casa. “Culpa-se a vítima pela
agressão, seja por não cumprir o papel doméstico que lhe foi atribuído,
seja por ‘provocar’ a agressão dos homens nas ruas ou nos meios de
transporte, por exibir seu corpo”, diz relatório do Mapa da Violência –
homicídios de mulheres.
É injustificável, intolerável, que essa postura continue imperando entre
nós. Ninguém ataca um homem porque ele anda sem camisa, mesmo que em
praça pública.
Durante todo o final de semana as mulheres se mobilizaram, nas redes e
nas ruas, mostrando indignação e cobrando atitude das autoridades. Os
criminosos devem pagar, no Rio, no Piauí, em qualquer lugar. Pelo menos
um avanço tivemos, o delegado machista não coordenará mais o caso, que
agora fica a cargo da Delegacia da Criança e do Adolescente, comandada
por uma mulher.
Penso que teremos tempos difíceis no Brasil daqui pra frente. O governo
interino que comanda a Nação, não tem sensibilidade em relação à causa
das mulheres, tampouco conhece e entende sua história. Retrocedeu e não
deixou nenhuma mulher para sua equipe do primeiro escalão. É um recado
claro: aqui vocês não terão vez!
Vamos resistir, como sempre fizemos! O respeito e o empoderamento às
mulheres é condição essencial à democracia! Sem eles, esta será sempre
estuprada!
1) De que forma, a autora se refere às mulheres, no segundo parágrafo do texto? Por que ela faz esse tipo de referência?
2) Segundo a autora, já houve mudanças significativas na legislação,
garantindo direitos às mulheres. Cite algumas dessas mudanças.
3) De que forma, segundo a autora, o delegado responsável tentou culpabilizar a vítima?
4) Qual o argumento era utilizado, segundo a autora, para inocentar os assassinos de mulheres a até pouco tempo atrás?
5) Por que, segundo o texto, as mulheres acabam sendo agredidas?
6) O prefixo -IN acrescenta às palavras, um sentido de negação. Transcreva, do texto 3 palavras que eximplifiquem isso:
7) De que forma, a autora envolve o atual governo na questão da cultura do machismo?
8) A partir dos textos lidos, escreva um texto dissertativo,
posicionando-se acerca do tema "cultura do estupro" ou "cultura do
machismo" que prevalece ainda na sociedade.
Atividades para o Ensino Médio - Textos relativos ao estupro coletivo cometido no Rio de Janeiro
Texto 1
Um soco no útero - Ruth de Aquino
O estupro coletivo da jovem de 16 anos, “uma mina amassada” por mais de
30 homens, numa favela do Rio de Janeiro, me deixou com as mãos
trêmulas, um misto de raiva e impotência. A garota se queixa de fortes
dores internas, “como se fosse no útero”. Não vi o vídeo de 40 segundos
que exibiu a moça inconsciente, com sua nudez violada e ensanguentada.
Foi por seu corpo – o mesmo corpo que deu à luz um filho quando ela só
tinha 13 anos – que “o trem-bala passou”.
“É nós, trem-bala Marreta”, gabou-se um dos estupradores no vídeo.
Referia-se ao grupo de traficantes do Comando Vermelho chefiado por Luiz
Cláudio Machado, o Marreta, preso em 2014 no Paraguai. Os homens
estavam armados de fuzis e pistolas. A jovem tinha ido encontrar um
rapaz de 19 anos, o “Petão”, em sua casa, na Zona Oeste do Rio. Saía com
ele havia uns anos após se conhecerem no colégio. Disse que acordou no
dia seguinte, observada pelos homens armados.
Não é o primeiro nem será o último estupro coletivo – ou gang rape, como
se diz lá fora. Neste momento, o Piauí investiga uma denúncia de
estupro coletivo de uma jovem de 17 anos. A cada 11 minutos, uma mulher é
violentada no Brasil. No Rio de Janeiro, 12 são estupradas por dia. Os
casos mais chocantes envolvem o próprio pai, parentes, namorados,
vizinhos, ou gangues.
Muitos ataques terminam em morte. Os números não refletem a realidade. É
um crime difícil de denunciar – pela vergonha e pelo desânimo.
Pesquisas internacionais indicam que apenas 35% dos casos são
notificados. A barbárie também está no inconsciente coletivo de
sociedades machistas que culpam as vítimas. Quem usa saia curta ou
namora traficante se sujeita a ser estuprada. Essa é a lógica das
favelas e do asfalto.
Se isso explicasse o abuso, não haveria estupros em campus de
universidades, em festinhas da elite ou dentro de casa. No ano passado,
surgiu um blog com um manual Como Estuprar Mulher na Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. O blog, do “Tio Astolfo”,
“em prol da Filosofia do Estupro”, chamava as estudantes de “vadias”.
Não soube de nenhuma prisão por isso.
Essa moça no Rio de Janeiro foi estuprada por ser mulher. Os bandidos
divulgaram sua façanha em vídeo entre risos e sem disfarce. Foi um soco
na consciência nacional. Pela lei, quando a vítima do estupro tem entre
14 e 18 anos, a sentença para os criminosos é de oito a 12 anos de
prisão. Quantos realmente são punidos?
Um crime hediondo desses deveria ser punido com a prisão perpétua – sem
levar em conta a idade dos criminosos. Sabemos que só a Educação, nas
escolas e em casa, pode reduzir o abuso a longo prazo. Mas o
investimento na Educação deve ser acompanhado do rigor na lei. A
impunidade gritante encoraja outros a se sentir mais machos com os
estupros.
“Esta aqui é a famosa ‘come rato’ da Barão”, diz um homem enquanto
aponta para a moça desacordada e nua. “Mais de 30 engravidou (sic)”, diz
outro. “Amassaram a mina, intendeu ou não intendeu (sic)?” “Olha como é
que ela tá! Sangrando...”, disse, abrindo as pernas da jovem. Barbárie,
covardia e o que mais? Não tem nome para isso.
A jovem soube do vídeo, foi à favela e pediu ao chefe do tráfico seu
celular roubado. À polícia, ela disse que usa ecstasy e lança-perfume
mas não usava entorpecente havia um mês. Da noite do crime, diz não se
lembrar de nada. A mãe da moça é professora e pedagoga. A família chorou
ao ver o vídeo. O pai disse: “Bagunçaram minha filha”.
Bagunçam o Brasil todos os que não se indignam. Mas especialmente
figuras abjetas como o ator Alexandre Frota, recebido pelo ministro da
Educação Mendonça Filho com “propostas para um ensino sem doutrinação”. O
ministro disse em sua defesa: “Não discrimino ninguém”. Dê uma
olhadinha na participação de Alexandre Frota em um programa de TV em
maio de 2014, Agora é tarde. E perceba como o senhor deve desculpas
tardias a si mesmo e a sua família pela agenda descabida.
[...]
1) Observe a seguinte passagem do texto: "É nós, trem-bala Marreta [...]". Segundo o texto, ao que essa expressão faz referência?
2) Que expressão foi empregada, no 3º parágrafo, para referir-se ao
"estupro coletivo"? E o que a autora quis dizer com "como se diz lá
fora"?
3) Observe o seguinte trecho do texto: "A cada 11 minutos, uma mulher é violentada no Brasil. No Rio de Janeiro, 12 são estupradas por dia.". Quantas mulheres são violentadas por hora no Brasil? E por dia?
4) Por que, de acordo com a autora, "os números não refletem a realidade"?
5) Qual é, segundo a autora, a lógica das favelas e do asfalto para justificar o estupro?
6) Que argumentos ela contrapõem a essa lógica, citada anteriormente?
7) Qual seria, na opinião da autora, a punição justa para crimes deste tipo?
8) O que, segunda a autora, pode reduzir o abuso, a longo prazo? Acompanhado de quê?
9) Explique o que você compreende com a frase: "Bagunçam o Brasil todos os que não se indignam." (10º parágrafo).
10) Releia a seguinte frase do texto: "Mas especialmente figuras abjetas
como o ator Alexandre Frota, recebido pelo ministro da Educação
Mendonça Filho com “propostas para um ensino sem doutrinação”. (10º
parágrafo). Explique o significado do adjetivo usado para referir-se a Alexandre Frota, contextualizando-o:
Texto 2
Vozes adolescentes reagem à barbárie do estupro coletivo
Cristiane Segatto
Diante da barbárie do estupro coletivo de uma garota de 16 anos no Rio
de Janeiro, minha voz é nada. Pura irrelevância diante de tudo o que as
adolescentes de 2016 têm sido capazes de expressar nas redes sociais,
nos grupos de discussão e nas ruas.
Por mais que tenha feito, minha geração fracassou na denúncia e
nocombate ao mais infame dos crimes. Não demos uma resposta coletiva,
organizada e veemente como a da nova geração.
Um estupro é coletivo não apenas por ter sido cometido por 33 homens,
sem que nenhum deles tentasse impedi-lo. É coletivo porque pretende
subjugar todas as mulheres. É um crime que grita por punição exemplar,
tanto quanto os casos abomináveis do Piauí. Assim como cada uma das
quase 50 mil ocorrências que destroem histórias e abalam famílias ano
após ano, sem que o Brasil sequer se envergonhe sinceramente delas.
A barbárie do estupro e o machismo de todos os dias são fruto da mesma
cultura. Uma cultura que só pode ser quebrada se a indignação crescer a
ponto de produzir transformações sociais profundas. Esse não é um
assunto de mulher. É um tema da humanidade. Da total ausência de
empatia, a capacidade de se colocar no lugar do outro.
A empatia é um dos pontos levantados pelas adolescentes paulistanas de
15 a 17 anos que fizeram o áudio desta coluna. São meninas que se reúnem
periodicamente para discutir o papel das mulheres e as agressões
machistas (veladas ou explícitas) de todos os dias. “Um estupro não pode
ser algo banal”, diz uma delas. “Não pode ser uma conversa de café da
manhã.” “Empatia é o que falta para o mundo mudar.”
Essa geração de meninas pode mudar o mundo. Boto fé nisso e quero estar com elas.
1) Com qual objetivo a autora empregou, no primeiro parágrafo do texto, o termo "barbárie" para referir-se ao caso de estupro coletivo cometido no Rio de Janeiro?
2) No segundo parágrafo a autora afirma: "por mais que tenha feito, minha geração fracassou na denúncia e no combate ao mais infame dos crimes." Por que, na sua opinião, ela faz essa afirmação?
3) "Não demos uma resposta coletiva, organizada e veemente como a da nova geração." (2º parágrafo). O que significa, o termo destacado, neste contexto?
4) Qual é, de acordo com o texto, o mais infame dos crimes?
5) Explique a seguinte frase do texto: "É coletivo porque pretende subjugar todas as mulheres." (3º parágrafo).
6) O que, de acordo com o texto, "empatia"?
7) Observe o seguinte trecho: "São meninas que se reúnem periodicamente para discutir o papel das mulheres e as agressões machistas (veladas ou explícitas) de todos os dias." (5º parágrafo). O que significa o termo destacado? A que atitudes machistas ele pode ser relacionado?
8) O que, de acordo com o texto, falta para o mundo mudar? Você concorda com isso? Posicione-se.
Texto 3
Pelo fim da cultura do estupro
Gleisi Hoffmann
Não é fácil ser mulher nesta sociedade. Os poucos anos de avanços e
conquistas que tivemos não conseguem apagar a cultura machista,
patriarcal e violenta que sempre envolveu a história das mulheres na
humanidade.
Cidadãs de segunda classe, extensão da propriedade do homem,
incapacitadas para decidir, as mulheres sempre foram maltratadas e
desrespeitadas. Apesar de mudanças significativas na legislação,
garantindo direitos, penalizando abusos, os ditos “costumes” ainda falam
mais alto.
Só isso pode explicar os casos bárbaros de estupro que estamos
assistindo no Brasil, sendo o mais emblemático o do Rio de Janeiro em
que mais de 30 homens abusaram de uma jovem de 16 anos, desacordada.
Postaram fotos nas redes, fizeram comentários. A primeira ação do
delegado do caso foi tentar minimizar, dizendo que precisava de mais
evidências para saber se tinha sido caso de estupro!!! Ao ouvir a vítima
novamente, o delegado fez-se acompanhar por mais três homens e quis
saber se ela praticava sexo grupal!
É a velha tentativa de querer responsabilizar a vítima pelo crime.
Afinal, se ela já tinha feito sexo em grupo, frequentava os bailes funks
e não se vestia “decentemente”, o estupro estaria praticamente
justificado. É bom lembrar que há muito pouco tempo livramos os nossos
tribunais do argumento da “legítima defesa da honra” que permitiu o
assassinato de muitas mulheres. Sempre surge, no final, a pergunta: “mas
o que ela fez para merecer isso”?
A cultura prevalente é de que o homem pratique violência, com a
finalidade de punir e corrigir comportamentos femininos que transgridem o
papel esperado de mãe, esposa e dona de casa. “Culpa-se a vítima pela
agressão, seja por não cumprir o papel doméstico que lhe foi atribuído,
seja por ‘provocar’ a agressão dos homens nas ruas ou nos meios de
transporte, por exibir seu corpo”, diz relatório do Mapa da Violência –
homicídios de mulheres.
É injustificável, intolerável, que essa postura continue imperando entre
nós. Ninguém ataca um homem porque ele anda sem camisa, mesmo que em
praça pública.
Durante todo o final de semana as mulheres se mobilizaram, nas redes e
nas ruas, mostrando indignação e cobrando atitude das autoridades. Os
criminosos devem pagar, no Rio, no Piauí, em qualquer lugar. Pelo menos
um avanço tivemos, o delegado machista não coordenará mais o caso, que
agora fica a cargo da Delegacia da Criança e do Adolescente, comandada
por uma mulher.
Penso que teremos tempos difíceis no Brasil daqui pra frente. O governo
interino que comanda a Nação, não tem sensibilidade em relação à causa
das mulheres, tampouco conhece e entende sua história. Retrocedeu e não
deixou nenhuma mulher para sua equipe do primeiro escalão. É um recado
claro: aqui vocês não terão vez!
Vamos resistir, como sempre fizemos! O respeito e o empoderamento às
mulheres é condição essencial à democracia! Sem eles, esta será sempre
estuprada!
1) De que forma, a autora se refere às mulheres, no segundo parágrafo do texto? Por que ela faz esse tipo de referência?
2) Segundo a autora, já houve mudanças significativas na legislação,
garantindo direitos às mulheres. Cite algumas dessas mudanças.
3) De que forma, segundo a autora, o delegado responsável tentou culpabilizar a vítima?
4) Qual o argumento era utilizado, segundo a autora, para inocentar os assassinos de mulheres a até pouco tempo atrás?
5) Por que, segundo o texto, as mulheres acabam sendo agredidas?
6) O prefixo -IN acrescenta às palavras, um sentido de negação. Transcreva, do texto 3 palavras que eximplifiquem isso:
7) De que forma, a autora envolve o atual governo na questão da cultura do machismo?
8) A partir dos textos lidos, escreva um texto dissertativo,
posicionando-se acerca do tema "cultura do estupro" ou "cultura do
machismo" que prevalece ainda na sociedade.
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