Choro não! Porque você não deve deixar a criança chorando até cansar
EXISTEM MÉTODOS QUE DIZEM SIM AO CHORO, MAS COMO DEIXAR O BEBÊ SE ESGOELAR DE BERRAR JÁ QUE A ÚNICA FORMA DE COMUNICAÇÃO PARA INDICAR PROBLEMAS E DESCONFORTOS DELES É ESSA?
Vamos pensar em várias espécies de animais irracionais e racionais.
Pensou? Nossos bebês são os seres que mais dependem dos pais para
sobreviver. Aí você deve estar se perguntando: “Ok, mas e daí?”. É
importante saber que a principal forma de comunicação que une os bebês
às soluções de seus incômodos é o choro. Através dele os recém-nascidos
dizem aos pais que estão com fome, frio, sono, medo, dor ou qualquer
outro desconforto. Aí, pensamos, por que deixar chorar? Se o que seu
filho está pedindo é atenção, ajuda e carinho.
De acordo com Philip Sanford Zeskind, PhD do Levine Children’s Hospital,
nos EUA, “o choro tem papel central na sobrevivência, na saúde e no
desenvolvimento da criança”. Mas a importância dessa manifestação não se
atém à sobrevivência. Segundo William Sears, ou dr. Sears, médico
pediatra defensor da Teoria do Apego e autor de diversos best-sellers
incluindo Criança Bem Resolvida, o choro é um alerta perfeito: funciona
de forma automática, sem margem de erro; é perturbador o suficiente
para chamar a atenção do cuidador, mas não tão alto que o faça querer
evitá-lo; e, principalmente, evolui junto com a prática. Ou seja, após
um tempo, os pais conseguem identificar a razão do choro e ajudar o
bebê. Assim, o choro torna-se um importante meio de criação de vínculo e
confiança, sendo não só uma forma de comunicação do bebê.Mas, afinal,
por que é tão difícil para os pais lidarem com o choro de seus filhos?
Por que temos tanta dificuldade para decodificar essa mensagem? Segundo
Carolina Araújo Rodrigues, mãe de Isabela e Gabriela, neuropsicóloga e
mestre em Psicologia do Desenvolvimento pela USP-SP, a evolução da
sociedade modificou profundamente a estrutura familiar e, com isso, a
relação mãe-bebê. A partir do momento em que outras preocupações
passaram a fazer parte da vida da mãe, como trabalho, estudos, é natural
que a atenção se divida. Porém, quanto mais dedicação e observação os
pais puderem dar nos primeiros meses de vida da criança, mais forte será
essa conexão e mais natural o processo para que a criança se acalme.
E para atender à demanda de mães e pais com dificuldade de entender e
lidar com o choro de seus bebês que começaram a surgir as técnicas do
choro controlado, principalmente relacionadas à hora de dormir. Acontece
que há um tempo vem sendo propagado o termo “Ferberização”. Ele vem do
nome de Richard Ferber, pediatra americano que foi o precursor dos
métodos que pregam que se deve deixar a criança chorar sozinha por
determinado período de tempo para treiná-la a aprender a se acalmar
sozinha. Hoje existem muitas variações desses métodos, algumas mais
humanizadas, outras menos. A maior parte continua baseada na ideia de
que a melhor forma de fazer os bebês pararem de chorar seria deixando-os
chorar.
As versões mais humanizadas sugerem que os pais entrem no quarto do bebê
em intervalos controlados para que eles não se sintam abandonados, mas
ao mesmo tempo sem ceder à tentação de pegá-los no colo, de forma que
entendam que aquela hora é a hora de dormir. Esses intervalos começam
mais curtos e vão aumentando ao longo de cada espera e de cada dia do
processo. Outras versões, mais radicais, chegam a defender que o bebê
chore até se cansar – citando que pode acontecer, e que é “normal”, de o
bebê vomitar de tanto chorar.
Não é à toa que o assunto seja assim tão polêmico… A quantidade de
questões que esse tipo de treinamento levanta é enorme: será que os
bebês podem ser educados a partir de tabelas genéricas, e será que
ignorar seu choro pode causar algum mal? Se o bebê aprende que não vai
conseguir o que quer através do choro, de que outra forma conseguiria,
se essa é a sua principal forma de comunicação? O que é choro e o que é
birra? Aliás, bebês muito pequenos fazem mesmo birra? Afinal, estes
métodos funcionam?
Ignorar faz mal?
Os bebês nascem com o cérebro imaturo, porém em pleno desenvolvimento.
Isso significa que nos primeiros três anos de vida o cérebro ainda está
em organização e é nessa fase que são estabelecidas milhares de ligações
neuronais importantes enquanto outras são perdidas. Um ótimo exemplo é a
forma como se desenvolve a linguagem: os bebês nascem com capacidade
para imitar todos os sons humanos mas, à medida que crescem ouvindo
apenas os sons da sua língua materna, vão perdendo a capacidade de
reproduzir os que não fazem parte de seu idioma. É por isso que uma
criança que aprende a falar duas línguas desde que nasce poderá falar as
duas com uma pronúncia igualmente perfeita por toda a vida, mas alguém
que aprenda uma segunda língua mais tarde terá dificuldade de pronunciar
sons estranhos à língua materna. Assim, uma criança a quem os pais
respondem prontamente irá enxergar um mundo onde os outros podem ser de
confiança, enquanto uma criança que chora sozinha repetidamente fica
programada para deixar de esperar dos outros qualquer tipo de conforto
ou de consideração.
Um hormônio chamado cortisol, liberado em casos de estresse, inunda o
cérebro dos bebês quando eles choram. Esse hormônio em excesso no
cérebro em desenvolvimento pode destruir conexões neurológicas
importantes. Além disso, quando as partes do cérebro responsáveis por
apego
e controle emocional não são estimuladas durante a infância, não se desenvolvem mais. E o resultado a longo prazo pode ser uma criança agressiva e sem apego emocional.
e controle emocional não são estimuladas durante a infância, não se desenvolvem mais. E o resultado a longo prazo pode ser uma criança agressiva e sem apego emocional.
A sensação dos bebês de não terem nenhum controle sobre o meio em que
vivem ao ter seus apelos ignorados ganhou o nome de “desesperança
aprendida”, que é uma espécie de depressão. Katia Keiko Matunaga, mãe de
João Pedro, coordenadora pedagógica da Escola Viva, em São Paulo, cita o
psicanalista inglês dr. Bion, que falou bastante sobre a importância da
mãe tolerar o choro da criança, acolher e devolver para ela de uma
outra forma, como a calma. É aquele momento do colo, do acolhimento, do
“vai ficar tudo bem, a mamãe está aqui”.
Conforme a criança cresce, ela vai desenvolvendo outros recursos para se
comunicar, como sons e gestos mais precisos e é importante que o adulto
legitime essas novas possibilidades, converse com o filho e acolha esse
choro, procurando “traduzir” para a própria criança o que está
percebendo: “será que você está com fome”, “acho que você não gostou
disso”.
Mas e a birra?
É frequente o argumento de que grande parte das técnicas de “deixar
chorar” se aplicam à birra. Talvez este seja o ponto mais polêmico da
história toda: a partir de que idade um bebê consegue fazer birra?
Segundo a neuropsicóloga Carolina Rodrigues, é apenas entre 18 e 24
meses de idade que a criança começa a entender o significado do “não” e
passa a testar limites. Antes disso bebês não fazem birra: seus apelos
representam necessidades. “Deixar a criança chorar na hora de dormir só
deveria acontecer por volta dos 2 anos, quando a criança já consegue se
comunicar e expressar dores”, diz ela.
Voltando algumas gerações… quando não existiam carrinhos, bouncers e
invenções recentes: os bebês, por não conseguirem andar sozinhos até por
volta do primeiro ano de vida, sempre dependeram de seus pais para se
locomover. Isso significa que até essa idade, eles precisam ser
carregados no colo. Ou em slings, amarrados, de alguma forma colados ao
corpo da mãe. Além disso, o colo passa aos bebês a sensação de conforto,
segurança e afeto.
A Teoria do Apego, formulada por John Bowlby a partir de estudos
realizados com órfãos da Segunda Guerra Mundial, tem como princípio mais
importante a necessidade do recém-nascido estabelecer uma relação de
vínculo emocional com ao menos um cuidador. De acordo com ela, o contato
físico é um alimento assim como o leite. O bebê precisa da mãe para se
sentir inteiro. Não é birra querer colo: é uma necessidade do seu filho.
Afinal, os métodos funcionam?
De um lado, mães que não suportam a ideia de ver seu bebê chorando
sozinho, defensoras da Teoria do Apego e de tudo o que já falamos aqui.
De outro, mães que, exaustas, recorrendo a técnicas de choro controlado.
O fato é que, sim, essas teorias podem funcionar. O ser humano é
altamente adaptável e direcionável. Condicionar um bebê a não chorar
deixando-o sozinho funciona, é claro, através de um mecanismo chamado
extinção. E pode ser necessário, sim. Mas a que custo emocional? Segundo
Carolina, quando a mãe não atende aos apelos do filho, ele acaba
criando uma pseudoindependência. Ele realmente para de chorar em busca
da mãe, mas, ao contrário do que se pensa, como o elo de confiança com a
primeira figura de amor foi abalada, essa criança posteriormente
apresentará indícios de insegurança.
Apesar de ser contra as técnicas em geral, Carolina explica que elas
podem, sim, ser necessárias em alguns momentos específicos. Como, por
exemplo, um casal que, exausto das noites sem sono e prestes a se
separar, aplica uma técnica de choro controlado com seu bebê e obtém
sucesso, conseguindo o tão sonhado e merecido descanso pelas noites mal
dormidas.
É um cálculo difícil de fazer, mas importante em casos extremos. É
essencial que se avalie o contexto como um todo e que se procure, claro,
ter tranquilidade e se cercar de apoio para dar ao bebê o maior
conforto emocional possível. Mas sempre considerando a situação como um
todo, sem se matar de culpa se uma vez ou outra não conseguir atender o
bebê imediatamente.
Dentro da barriga
Cada vez mais a tecnologia avança a nosso favor. Para ter uma noção, um
estudo feito por pesquisadores britânicos da Universidade Durham
descobriu que os bebês “ensaiam” o choro dentro da barriga da mãe.
Segundo o estudo, ainda no útero eles fazem expressões de dor e de choro
como um treino da forma com que eles vão se comunicar após o parto.
Nesse momento eles já estão se preparando para viver e transmitir suas
necessidades. Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores avaliaram
quinze ultrassonografias feitas a partir da tecnologia 4D, que permite
melhor visualização do feto, e com elas puderam identificar expressões
faciais simples e complexas, como sorrisos, expressões de dor e
movimentos nas sobrancelhas e no nariz. Não é o máximo?
Identificando o choro
Para entender o choro do seu bebê é preciso uma escuta de afeto:
observar, e não apenas ouvir. A mãe não pode nem precisa se desesperar.
Larissa Fonseca, filha de Paulo Roberto e Vera Lúcia, psicopedagoga e
autora do livro Dúvidas de Mãe explica que há padrões bastante
definidos de choro. Essa ideia chegou, inclusive, a criar aplicativos
que gravam o choro do bebê e “traduzem” para os pais. Segundo Larissa,
as diferenças são principalmente de intensidade e entonação. Por
exemplo: a fome causa contrações no estômago do bebê, causando muito
incômodo – então o choro é ininterrupto e bem forte. São gemidos
semelhantes a um apelo que só cessam quando o bebê estiver satisfeito.
Uma dica que dá para se certificar de que o bebê está chorando por
sentir fome é observar seus movimentos de rosto e boca, que neste caso
se movem como se estivessem buscando o bico para mamar.
Para
Vera Regina Corrêa de Mello, filha de José Carlos e Elenir,
coordenadora pedagógica do Centro Educacional Dreamkids, “ninguém pode
saber mais do que você, mãe, sobre o seu bebê. Suas percepções atentas e
emoções mais sinceras têm sempre um fundo de verdade”. Não é para menos
que um dos valores da gente, aqui na Pais&Filhos, é carinho&confiança! Apoie-se nele!
Fonte: http://www.paisefilhos.com.br/bebe/choro-nao-porque-voce-nao-deve-deixar-a-crianca-chorando-ate-cansar/
Choro não! Porque você não deve deixar a criança chorando até cansar
EXISTEM MÉTODOS QUE DIZEM SIM AO CHORO, MAS COMO DEIXAR O BEBÊ SE ESGOELAR DE BERRAR JÁ QUE A ÚNICA FORMA DE COMUNICAÇÃO PARA INDICAR PROBLEMAS E DESCONFORTOS DELES É ESSA?
Vamos pensar em várias espécies de animais irracionais e racionais.
Pensou? Nossos bebês são os seres que mais dependem dos pais para
sobreviver. Aí você deve estar se perguntando: “Ok, mas e daí?”. É
importante saber que a principal forma de comunicação que une os bebês
às soluções de seus incômodos é o choro. Através dele os recém-nascidos
dizem aos pais que estão com fome, frio, sono, medo, dor ou qualquer
outro desconforto. Aí, pensamos, por que deixar chorar? Se o que seu
filho está pedindo é atenção, ajuda e carinho.
De acordo com Philip Sanford Zeskind, PhD do Levine Children’s Hospital,
nos EUA, “o choro tem papel central na sobrevivência, na saúde e no
desenvolvimento da criança”. Mas a importância dessa manifestação não se
atém à sobrevivência. Segundo William Sears, ou dr. Sears, médico
pediatra defensor da Teoria do Apego e autor de diversos best-sellers
incluindo Criança Bem Resolvida, o choro é um alerta perfeito: funciona
de forma automática, sem margem de erro; é perturbador o suficiente
para chamar a atenção do cuidador, mas não tão alto que o faça querer
evitá-lo; e, principalmente, evolui junto com a prática. Ou seja, após
um tempo, os pais conseguem identificar a razão do choro e ajudar o
bebê. Assim, o choro torna-se um importante meio de criação de vínculo e
confiança, sendo não só uma forma de comunicação do bebê.Mas, afinal,
por que é tão difícil para os pais lidarem com o choro de seus filhos?
Por que temos tanta dificuldade para decodificar essa mensagem? Segundo
Carolina Araújo Rodrigues, mãe de Isabela e Gabriela, neuropsicóloga e
mestre em Psicologia do Desenvolvimento pela USP-SP, a evolução da
sociedade modificou profundamente a estrutura familiar e, com isso, a
relação mãe-bebê. A partir do momento em que outras preocupações
passaram a fazer parte da vida da mãe, como trabalho, estudos, é natural
que a atenção se divida. Porém, quanto mais dedicação e observação os
pais puderem dar nos primeiros meses de vida da criança, mais forte será
essa conexão e mais natural o processo para que a criança se acalme.
E para atender à demanda de mães e pais com dificuldade de entender e
lidar com o choro de seus bebês que começaram a surgir as técnicas do
choro controlado, principalmente relacionadas à hora de dormir. Acontece
que há um tempo vem sendo propagado o termo “Ferberização”. Ele vem do
nome de Richard Ferber, pediatra americano que foi o precursor dos
métodos que pregam que se deve deixar a criança chorar sozinha por
determinado período de tempo para treiná-la a aprender a se acalmar
sozinha. Hoje existem muitas variações desses métodos, algumas mais
humanizadas, outras menos. A maior parte continua baseada na ideia de
que a melhor forma de fazer os bebês pararem de chorar seria deixando-os
chorar.
As versões mais humanizadas sugerem que os pais entrem no quarto do bebê
em intervalos controlados para que eles não se sintam abandonados, mas
ao mesmo tempo sem ceder à tentação de pegá-los no colo, de forma que
entendam que aquela hora é a hora de dormir. Esses intervalos começam
mais curtos e vão aumentando ao longo de cada espera e de cada dia do
processo. Outras versões, mais radicais, chegam a defender que o bebê
chore até se cansar – citando que pode acontecer, e que é “normal”, de o
bebê vomitar de tanto chorar.
Não é à toa que o assunto seja assim tão polêmico… A quantidade de
questões que esse tipo de treinamento levanta é enorme: será que os
bebês podem ser educados a partir de tabelas genéricas, e será que
ignorar seu choro pode causar algum mal? Se o bebê aprende que não vai
conseguir o que quer através do choro, de que outra forma conseguiria,
se essa é a sua principal forma de comunicação? O que é choro e o que é
birra? Aliás, bebês muito pequenos fazem mesmo birra? Afinal, estes
métodos funcionam?
Ignorar faz mal?
Os bebês nascem com o cérebro imaturo, porém em pleno desenvolvimento.
Isso significa que nos primeiros três anos de vida o cérebro ainda está
em organização e é nessa fase que são estabelecidas milhares de ligações
neuronais importantes enquanto outras são perdidas. Um ótimo exemplo é a
forma como se desenvolve a linguagem: os bebês nascem com capacidade
para imitar todos os sons humanos mas, à medida que crescem ouvindo
apenas os sons da sua língua materna, vão perdendo a capacidade de
reproduzir os que não fazem parte de seu idioma. É por isso que uma
criança que aprende a falar duas línguas desde que nasce poderá falar as
duas com uma pronúncia igualmente perfeita por toda a vida, mas alguém
que aprenda uma segunda língua mais tarde terá dificuldade de pronunciar
sons estranhos à língua materna. Assim, uma criança a quem os pais
respondem prontamente irá enxergar um mundo onde os outros podem ser de
confiança, enquanto uma criança que chora sozinha repetidamente fica
programada para deixar de esperar dos outros qualquer tipo de conforto
ou de consideração.
Um hormônio chamado cortisol, liberado em casos de estresse, inunda o
cérebro dos bebês quando eles choram. Esse hormônio em excesso no
cérebro em desenvolvimento pode destruir conexões neurológicas
importantes. Além disso, quando as partes do cérebro responsáveis por
apego
e controle emocional não são estimuladas durante a infância, não se desenvolvem mais. E o resultado a longo prazo pode ser uma criança agressiva e sem apego emocional.
e controle emocional não são estimuladas durante a infância, não se desenvolvem mais. E o resultado a longo prazo pode ser uma criança agressiva e sem apego emocional.
A sensação dos bebês de não terem nenhum controle sobre o meio em que
vivem ao ter seus apelos ignorados ganhou o nome de “desesperança
aprendida”, que é uma espécie de depressão. Katia Keiko Matunaga, mãe de
João Pedro, coordenadora pedagógica da Escola Viva, em São Paulo, cita o
psicanalista inglês dr. Bion, que falou bastante sobre a importância da
mãe tolerar o choro da criança, acolher e devolver para ela de uma
outra forma, como a calma. É aquele momento do colo, do acolhimento, do
“vai ficar tudo bem, a mamãe está aqui”.
Conforme a criança cresce, ela vai desenvolvendo outros recursos para se
comunicar, como sons e gestos mais precisos e é importante que o adulto
legitime essas novas possibilidades, converse com o filho e acolha esse
choro, procurando “traduzir” para a própria criança o que está
percebendo: “será que você está com fome”, “acho que você não gostou
disso”.
Mas e a birra?
É frequente o argumento de que grande parte das técnicas de “deixar
chorar” se aplicam à birra. Talvez este seja o ponto mais polêmico da
história toda: a partir de que idade um bebê consegue fazer birra?
Segundo a neuropsicóloga Carolina Rodrigues, é apenas entre 18 e 24
meses de idade que a criança começa a entender o significado do “não” e
passa a testar limites. Antes disso bebês não fazem birra: seus apelos
representam necessidades. “Deixar a criança chorar na hora de dormir só
deveria acontecer por volta dos 2 anos, quando a criança já consegue se
comunicar e expressar dores”, diz ela.
Voltando algumas gerações… quando não existiam carrinhos, bouncers e
invenções recentes: os bebês, por não conseguirem andar sozinhos até por
volta do primeiro ano de vida, sempre dependeram de seus pais para se
locomover. Isso significa que até essa idade, eles precisam ser
carregados no colo. Ou em slings, amarrados, de alguma forma colados ao
corpo da mãe. Além disso, o colo passa aos bebês a sensação de conforto,
segurança e afeto.
A Teoria do Apego, formulada por John Bowlby a partir de estudos
realizados com órfãos da Segunda Guerra Mundial, tem como princípio mais
importante a necessidade do recém-nascido estabelecer uma relação de
vínculo emocional com ao menos um cuidador. De acordo com ela, o contato
físico é um alimento assim como o leite. O bebê precisa da mãe para se
sentir inteiro. Não é birra querer colo: é uma necessidade do seu filho.
Afinal, os métodos funcionam?
De um lado, mães que não suportam a ideia de ver seu bebê chorando
sozinho, defensoras da Teoria do Apego e de tudo o que já falamos aqui.
De outro, mães que, exaustas, recorrendo a técnicas de choro controlado.
O fato é que, sim, essas teorias podem funcionar. O ser humano é
altamente adaptável e direcionável. Condicionar um bebê a não chorar
deixando-o sozinho funciona, é claro, através de um mecanismo chamado
extinção. E pode ser necessário, sim. Mas a que custo emocional? Segundo
Carolina, quando a mãe não atende aos apelos do filho, ele acaba
criando uma pseudoindependência. Ele realmente para de chorar em busca
da mãe, mas, ao contrário do que se pensa, como o elo de confiança com a
primeira figura de amor foi abalada, essa criança posteriormente
apresentará indícios de insegurança.
Apesar de ser contra as técnicas em geral, Carolina explica que elas
podem, sim, ser necessárias em alguns momentos específicos. Como, por
exemplo, um casal que, exausto das noites sem sono e prestes a se
separar, aplica uma técnica de choro controlado com seu bebê e obtém
sucesso, conseguindo o tão sonhado e merecido descanso pelas noites mal
dormidas.
É um cálculo difícil de fazer, mas importante em casos extremos. É
essencial que se avalie o contexto como um todo e que se procure, claro,
ter tranquilidade e se cercar de apoio para dar ao bebê o maior
conforto emocional possível. Mas sempre considerando a situação como um
todo, sem se matar de culpa se uma vez ou outra não conseguir atender o
bebê imediatamente.
Dentro da barriga
Cada vez mais a tecnologia avança a nosso favor. Para ter uma noção, um
estudo feito por pesquisadores britânicos da Universidade Durham
descobriu que os bebês “ensaiam” o choro dentro da barriga da mãe.
Segundo o estudo, ainda no útero eles fazem expressões de dor e de choro
como um treino da forma com que eles vão se comunicar após o parto.
Nesse momento eles já estão se preparando para viver e transmitir suas
necessidades. Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores avaliaram
quinze ultrassonografias feitas a partir da tecnologia 4D, que permite
melhor visualização do feto, e com elas puderam identificar expressões
faciais simples e complexas, como sorrisos, expressões de dor e
movimentos nas sobrancelhas e no nariz. Não é o máximo?
Identificando o choro
Para entender o choro do seu bebê é preciso uma escuta de afeto:
observar, e não apenas ouvir. A mãe não pode nem precisa se desesperar.
Larissa Fonseca, filha de Paulo Roberto e Vera Lúcia, psicopedagoga e
autora do livro Dúvidas de Mãe explica que há padrões bastante
definidos de choro. Essa ideia chegou, inclusive, a criar aplicativos
que gravam o choro do bebê e “traduzem” para os pais. Segundo Larissa,
as diferenças são principalmente de intensidade e entonação. Por
exemplo: a fome causa contrações no estômago do bebê, causando muito
incômodo – então o choro é ininterrupto e bem forte. São gemidos
semelhantes a um apelo que só cessam quando o bebê estiver satisfeito.
Uma dica que dá para se certificar de que o bebê está chorando por
sentir fome é observar seus movimentos de rosto e boca, que neste caso
se movem como se estivessem buscando o bico para mamar.
Para
Vera Regina Corrêa de Mello, filha de José Carlos e Elenir,
coordenadora pedagógica do Centro Educacional Dreamkids, “ninguém pode
saber mais do que você, mãe, sobre o seu bebê. Suas percepções atentas e
emoções mais sinceras têm sempre um fundo de verdade”. Não é para menos
que um dos valores da gente, aqui na Pais&Filhos, é carinho&confiança! Apoie-se nele!
Fonte: http://www.paisefilhos.com.br/bebe/choro-nao-porque-voce-nao-deve-deixar-a-crianca-chorando-ate-cansar/
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