O HOMEM SÁBIO - David Coimbra - Atividades para o Ensino Médio
David Coimbra
Os arqueólogos estão espantados
com o descobrimento desse novo homem antigo, o Homo naledi. Tratava-se de tipo humano pequeno, um
hominídeo, na verdade, menor do que o Nenê, aquele ponta-esquerda do Grêmio com
quem o Foguinho tinha implicância exatamente por ele ser baixinho. Um dia o
Foguinho o perfilou ao lado do Chico Spina, que era uma cabeça mais alto, e
perguntou para os outros jogadores:
– Qual deles devo escalar?
Preconceito do Foguinho. O naledi, 2 milhões de anos mais velho do que nós,sapiens,
provavelmente daria bom ponta-esquerda. Ele parecia esperto e certamente era
ágil e flexível: enterrava seus mortos em lugares estreitíssimos nas cavernas
africanas. Só os menores cientistas, os do tamanho do Nenê, conseguiram se
esgueirar para retirar os ossos dos naledi de lá. Vi as cenas das remoções, cenas
angustiantes, claustrofóbicas, os cientistas rastejando feito lagartos no chão
da caverna, enfiando-se em frestas pouco maiores do que a abertura de uma
gaveta. Eu jamais conseguiria.
Muitos acreditam que o naledi é
um de nossos ancestrais. Duvido. Ele devia ser uma espécie paralela. Nós, do gênero Homo, somos como o cachorro. Pense no cachorro: tanto
aquelas ratazanas peludas, que os donos carregam no antebraço, quanto o nobre
pastor alemão são descendentes do lobo. Como um fidalgo e elegante lobo se
transformou em um lhasa apso é algo que só pode ser atribuído ao senso de humor
da evolução. Mas não é isso que interessa. O que interessa é que um, esse sim,
lídimo parente do lobo, o pastor alemão, mesmo que se sinta atraído por uma
lhasa apsa, não poderá se relacionar com ela. Esse é um amor impossível. Não
socialmente impossível, não moralmente impossível: fisicamente impossível. O
pastor alemão decerto mataria a lhasa apsa na noite da lua de mel, no momento
do coito. Seria uma morte de amor, sim, mas não seria bela.
São inúmeros os tipos de cachorro
no mundo. Tantos, que não parecem da mesma espécie. Assim imagino o gênero
humano. Havia de tudo, antes de o Homo sapiens dominar
o mundo e inventar a Civilização. Havia os pequenos e espertos, como o naledi. Havia os quase macacos, como o australopithecus. Havia os poderosos, bem semelhantes
ao sapiens, como o neanderthal. Havia dezenas, talvez centenas, quiçá
milhares de humanos diferentes.
Acabamos com todos.
Nós os extinguimos.
Solertemente, ardilosamente,
arrastamos todos para as sombras do Vale da Morte.
Nossa espécie é exclusivista. Quer
tudo para ela, só admite os iguais e está sempre ambicionando mais espaço.
Os cientistas não têm certeza
disso? Você duvida disso? Olhe para alguns exemplares da nossa espécie. Olhe
para aquela cinegrafista húngara que derrubou um assustado pai sírio que corria
com seu filho pequeno no colo. Olhe para outros bem próximos de nós: os sapiens que
colocaram fogo num senegalês que dormia na rua, em Santa Maria.
Esses sapiens, que por falta de sorte nasceram na Síria e no
Senegal, eram indivíduos sem proteção do bando. Ambos não passavam de animais
desamparados. O sírio tentava salvar seu filhote da crueldade de sapiens ferozes, que assam outros sapiens vivos
em fogueiras. Ele estava sendo perseguido por policiais sapiens e
foi uma sapiens que o chutou traiçoeiramente. Já o sapiens senegalês
tentava apenas descansar. Ele dormia na rua porque havia perdido o horário de
chegada ao abrigo. Todos, o senegalês, os sírios, a húngara, os policiais, os
terroristas do Estado Islâmico, os gaúchos que queimam mendigos, todos são da
mesma espécie. E estão uns contra os outros. Não é um sapiens contra
um naledi. É um sapiens contra
um sapiens.
Um sapiens protege
seu filhote. Um sapiens dorme sobre seu colchão. Outros sapiens os odeiam porque eles vieram de outras
partes do planeta. Nós, sapiens, odiamos o
que é diferente de nós.
Por que não destruiríamos sem
piedade tipos humanos de outras espécies?
Lobos não devoram lobos. Mas o sapiens… Bicho ruim, esse sapiens.
1) Quais são as características citadas no texto do "Homo Naledi"?
2) Por que, segundo o autor, as cenas das remoções dos ossos dos naledi são "cenas angustiantes, claustrofóbicas"?
3) Com o que o autor compara o gênero "homo"?
4) Observe a frase: "O que interessa é que um, esse sim, lídimo parente do lobo [...]" (4º parágrafo). Qual o significado do termo destacado, neste contexto?
5) Qual espécie, segundo o texto, tinha como característica o poder?
6) Qual espécie, segundo o autor, acabou com as outras e por quê?
7) Por que, segundo o autor, nossa espécie é exclusivista?
8) O que, segundo o autor, os sapiens odeiam, e por quê?
9)
Transcreva, do 3º parágrafo, duas frases que tenham verbos conjugados
no Futuro do Pretérito do Indicativo. Em seguida, reescreva-as,
empregando o verbo no Futuro do Presente. Faça as alterações
necessárias.
10)
Reescreva as frases abaixo, empregando os verbos no Modo/Tempo,
Número/Pessoa solicitados entre parênteses. Faça as alterações
necessárias.
a)
"Ele parecia esperto e certamente era ágil e flexível: enterrava seus
mortos em lugares estreitíssimos nas cavernas africanas." (3º parágrafo)
(Presente do Indicativo / 3º pessoa do plural)
b)
"Só os menores cientistas conseguiram se esgueirar para retirar os
ossos dos naledi de lá." (3º parágrafo) (Futuro do Presente do
Indicativo / 3ª pessoa do singular)
c) "Acabamos com todos." (6º parágrafo) (Pretérito Perfeito do Indicativo / 2ª pessoa do singular)
d) "Você duvida disso?" (10º parágrafo) (Pretérito Imperfeito do Indicativo / 1ª pessoa do plural)
e)
"Por que não destruiríamos sem piedade tipos humanos de outras
espécies?" (13º parágrafo) ( Futuro do Presente do Indicativo / 3ª
pessoa do plural)
O HOMEM SÁBIO - David Coimbra - Atividades para o Ensino Médio
David Coimbra
Os arqueólogos estão espantados
com o descobrimento desse novo homem antigo, o Homo naledi. Tratava-se de tipo humano pequeno, um
hominídeo, na verdade, menor do que o Nenê, aquele ponta-esquerda do Grêmio com
quem o Foguinho tinha implicância exatamente por ele ser baixinho. Um dia o
Foguinho o perfilou ao lado do Chico Spina, que era uma cabeça mais alto, e
perguntou para os outros jogadores:
– Qual deles devo escalar?
Preconceito do Foguinho. O naledi, 2 milhões de anos mais velho do que nós,sapiens,
provavelmente daria bom ponta-esquerda. Ele parecia esperto e certamente era
ágil e flexível: enterrava seus mortos em lugares estreitíssimos nas cavernas
africanas. Só os menores cientistas, os do tamanho do Nenê, conseguiram se
esgueirar para retirar os ossos dos naledi de lá. Vi as cenas das remoções, cenas
angustiantes, claustrofóbicas, os cientistas rastejando feito lagartos no chão
da caverna, enfiando-se em frestas pouco maiores do que a abertura de uma
gaveta. Eu jamais conseguiria.
Muitos acreditam que o naledi é
um de nossos ancestrais. Duvido. Ele devia ser uma espécie paralela. Nós, do gênero Homo, somos como o cachorro. Pense no cachorro: tanto
aquelas ratazanas peludas, que os donos carregam no antebraço, quanto o nobre
pastor alemão são descendentes do lobo. Como um fidalgo e elegante lobo se
transformou em um lhasa apso é algo que só pode ser atribuído ao senso de humor
da evolução. Mas não é isso que interessa. O que interessa é que um, esse sim,
lídimo parente do lobo, o pastor alemão, mesmo que se sinta atraído por uma
lhasa apsa, não poderá se relacionar com ela. Esse é um amor impossível. Não
socialmente impossível, não moralmente impossível: fisicamente impossível. O
pastor alemão decerto mataria a lhasa apsa na noite da lua de mel, no momento
do coito. Seria uma morte de amor, sim, mas não seria bela.
São inúmeros os tipos de cachorro
no mundo. Tantos, que não parecem da mesma espécie. Assim imagino o gênero
humano. Havia de tudo, antes de o Homo sapiens dominar
o mundo e inventar a Civilização. Havia os pequenos e espertos, como o naledi. Havia os quase macacos, como o australopithecus. Havia os poderosos, bem semelhantes
ao sapiens, como o neanderthal. Havia dezenas, talvez centenas, quiçá
milhares de humanos diferentes.
Acabamos com todos.
Nós os extinguimos.
Solertemente, ardilosamente,
arrastamos todos para as sombras do Vale da Morte.
Nossa espécie é exclusivista. Quer
tudo para ela, só admite os iguais e está sempre ambicionando mais espaço.
Os cientistas não têm certeza
disso? Você duvida disso? Olhe para alguns exemplares da nossa espécie. Olhe
para aquela cinegrafista húngara que derrubou um assustado pai sírio que corria
com seu filho pequeno no colo. Olhe para outros bem próximos de nós: os sapiens que
colocaram fogo num senegalês que dormia na rua, em Santa Maria.
Esses sapiens, que por falta de sorte nasceram na Síria e no
Senegal, eram indivíduos sem proteção do bando. Ambos não passavam de animais
desamparados. O sírio tentava salvar seu filhote da crueldade de sapiens ferozes, que assam outros sapiens vivos
em fogueiras. Ele estava sendo perseguido por policiais sapiens e
foi uma sapiens que o chutou traiçoeiramente. Já o sapiens senegalês
tentava apenas descansar. Ele dormia na rua porque havia perdido o horário de
chegada ao abrigo. Todos, o senegalês, os sírios, a húngara, os policiais, os
terroristas do Estado Islâmico, os gaúchos que queimam mendigos, todos são da
mesma espécie. E estão uns contra os outros. Não é um sapiens contra
um naledi. É um sapiens contra
um sapiens.
Um sapiens protege
seu filhote. Um sapiens dorme sobre seu colchão. Outros sapiens os odeiam porque eles vieram de outras
partes do planeta. Nós, sapiens, odiamos o
que é diferente de nós.
Por que não destruiríamos sem
piedade tipos humanos de outras espécies?
Lobos não devoram lobos. Mas o sapiens… Bicho ruim, esse sapiens.
1) Quais são as características citadas no texto do "Homo Naledi"?
2) Por que, segundo o autor, as cenas das remoções dos ossos dos naledi são "cenas angustiantes, claustrofóbicas"?
3) Com o que o autor compara o gênero "homo"?
4) Observe a frase: "O que interessa é que um, esse sim, lídimo parente do lobo [...]" (4º parágrafo). Qual o significado do termo destacado, neste contexto?
5) Qual espécie, segundo o texto, tinha como característica o poder?
6) Qual espécie, segundo o autor, acabou com as outras e por quê?
7) Por que, segundo o autor, nossa espécie é exclusivista?
8) O que, segundo o autor, os sapiens odeiam, e por quê?
9)
Transcreva, do 3º parágrafo, duas frases que tenham verbos conjugados
no Futuro do Pretérito do Indicativo. Em seguida, reescreva-as,
empregando o verbo no Futuro do Presente. Faça as alterações
necessárias.
10)
Reescreva as frases abaixo, empregando os verbos no Modo/Tempo,
Número/Pessoa solicitados entre parênteses. Faça as alterações
necessárias.
a)
"Ele parecia esperto e certamente era ágil e flexível: enterrava seus
mortos em lugares estreitíssimos nas cavernas africanas." (3º parágrafo)
(Presente do Indicativo / 3º pessoa do plural)
b)
"Só os menores cientistas conseguiram se esgueirar para retirar os
ossos dos naledi de lá." (3º parágrafo) (Futuro do Presente do
Indicativo / 3ª pessoa do singular)
c) "Acabamos com todos." (6º parágrafo) (Pretérito Perfeito do Indicativo / 2ª pessoa do singular)
d) "Você duvida disso?" (10º parágrafo) (Pretérito Imperfeito do Indicativo / 1ª pessoa do plural)
e)
"Por que não destruiríamos sem piedade tipos humanos de outras
espécies?" (13º parágrafo) ( Futuro do Presente do Indicativo / 3ª
pessoa do plural)
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