Dislexia
A
definição mais utilizada, segundo a ABD é a de 1994 da International
Dyslexia Association (IDA): “Dislexia é um dos muitos distúrbios de
aprendizagem. É um distúrbio específico de origem constitucional
caracterizado por uma dificuldade na decodificação de palavras simples
que, como regra, mostra uma insuficiência no processamento fonológico.
Essas dificuldades não são esperadas com relação à idade e a outras
dificuldades acadêmicas cognitivas; não são um resultado de distúrbios
de desenvolvimento geral nem sensorial. A dislexia se manifesta por
várias dificuldades em diferentes formas de linguagem freqüentemente
incluindo, além das dificuldades com leitura, uma dificuldade de escrita
e soletração.”
Em
2003, o Annals of Dyslexia, elaborado pela IDA, propôs uma nova
definição: “Dislexia é uma dificuldade de aprendizagem de origem
neurológica. É caracterizada pela dificuldade com a fluência correta na
leitura e por dificuldade na habilidade de decodificação e soletração.
Essas dificuldades resultam tipicamente do déficit no componente
fonológico da linguagem que é inesperado em relação a outras habilidades
cognitivas consideradas na faixa etária.” Tal definição contou com a
participação de vários profissionais, entre eles: Susan Brady, Hugh
Catts, Emerson Dickman, Guinenere Éden, Jack Fletcher, Jeffrey Gilger,
Robin Moris, Harley Tomey e Thomas Viall.
O
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-IV (1995)
caracteriza a dislexia como comprometimento acentuado no
desenvolvimento das habilidades de reconhecimento das palavras e da
compreensão da leitura. O diagnóstico é realizado somente se esta
incapacidade interferir significativamente no desempenho escolar ou nas
atividades da vida diária (AVD’s) que requerem habilidades de leitura. A
leitura oral no disléxico é caracterizada por omissões, distorções e
substituições de palavras e pela leitura lenta e vacilante. Neste
distúrbio, a compreensão da leitura também é afetada.
Fonseca
(1995), coloca que a dislexia trata-se de uma desordem (dificuldade)
manifestada na aprendizagem da leitura, independentemente de instrução
convencional, adequada inteligência e oportunidade sócio-cultural. E,
portanto, dependente de funções cognitivas, que são de origem orgânica
na maioria dos casos.
Condemarim
(1986), expressa seu pensamento sobre dislexia dizendo que é um
conjunto de sintomas reveladores de uma disfunção parietal (o lobo do
cérebro onde fica o centro nervoso da escrita), geralmente hereditário,
ou às vezes adquirida, que afeta a aprendizagem da leitura num contínuo
que se estende do leve sintoma ao severo. É freqüentemente acompanhada
de transtorno na aprendizagem da escrita, ortografia, gramática e
redação.
Conforme
ressalta Myklebust (1987), a dislexia representa um déficit na
capacidade de simbolizar, começa a se definir a partir da necessidade
que tem a criança de lidar receptivamente ou expressivamente com a
representação da realidade, ou antes, com a simbolização da realidade,
ou poderíamos também dizer, com a nomeação do mundo.
Segundo
um levantamento feito pela Associação Brasileira de Dislexia (ABD), em
média 40% dos casos diagnosticados na faixa mais crítica, entre 10 a 12
anos, são de grau severo, 40% são de grau moderado e 20% de grau leve.
Atualmente
se observa um fenômeno de “vulgarização”/generalização do termo
dislexia, qualquer distúrbio de linguagem apresentado pela criança, logo
é qualificado como dislexia, tanto pelos pais como pela escola. O
problema nem sempre está na criança e sim nos processos educacionais,
sob a responsabilidade familiar, ou nos processos formais de
aprendizagem, sob incumbência da instituição escolar. Além dos problemas
de ensinagem, temos também a alfabetização precoce, cada vez mais as
crianças estão menos prontas para iniciar o processo e são identificadas
dificuldades de aprendizagem que, na realidade, não existem.
Lima
(2002), enfatiza que todo processo de aprendizagem está articulado com a
história de cada indivíduo, e o ser humano aprende mais facilmente
quando o novo pode ser relacionado com algum aspecto da sua experiência
prévia, com o conhecimento anterior, com alguma questão que o indivíduo
se colocou, com imagens, palavras e fatos que estão em sua memória, com
vivências culturais.
Ao
que parece, por trás desses problemas específicos de aprendizagem,
existe sempre um fator biológico, hereditário, isto é, há uma disposição
natural de a mesma dificuldade ocorrer em outros membros da família.
Coll (1995), descreve isso dizendo que quando falamos de problemas de
linguagem, não podemos nos esquecer de buscar no ambiente social da
criança todos os dados que nos permitam compreender melhor as
dificuldades que esta apresenta.
A
neurologista inglesa Guinevere Éden, do Centro de Investigação
Neurológica de Georgetown, fez uma pesquisa com cérebros de disléxicos
na qual ela constatou que uma das características comuns às crianças
disléxicas é a dificuldade em reconhecer em que direção os objetos se
movem. Por meio de exames de ressonância magnética funcional, foi
possível verificar que o cérebro de um portador de dislexia é anatômico e
fisiologicamente diferente de uma pessoa que não sofre do distúrbio. De
acordo com ela, ficou claro que o hemisfério direito do cérebro, não
relacionado à linguagem, apresenta maior atividade do que o esquerdo.
Para superar essa condição é preciso aprender como compensá-la.
Rotta
(2006), as diferenças estruturais entre o cérebro das pessoas com
dislexia e o das pessoas sem dislexia concentram-se fundamentalmente no
plano temporal. Além da simetria incomum dos planos temporais, o cérebro
de leitores disléxicos tem alterações na citoarquitetura e alterações
do cerebelo e suas vias. Isso ocorre provavelmente porque houve algum
tipo de agressão nos primeiros estágios do desenvolvimento. Finalmente,
os neurônios de tecido cerebral dos leitores disléxicos parecem ser
menores que a média, pelo menos em algumas áreas de cérebro (por
exemplo, o tálamo). O tamanho menor dos neurônios talâmicos pode muito
bem estar ligado às anormalidades tanto do sistema visual quanto no
sistema auditivo de indivíduos com dislexia. O estudo de Galaburda e
colaboradores, em 2001, demonstrou experimentalmente que as alterações
na citoarquitetura do córtex temporal e dos tálamos determinam um
processamento lento dos sons.
Dentro
do quadro da dislexia devemos estar atentos ao histórico familiar para
parentes próximos que apresentem a mesma deficiência de linguagem.
Também a aspectos pré, peri e pós-natal se o parto foi difícil, se pode
ter ocorrido algum problema de anoxia ( asfixia relativa), prematuridade
do feto (peso abaixo do normal), ou hipermaturidade ( nascimento passou
da data prevista para o parto). Se a criança adquiriu alguma doença
infecto-contagiosa, que tenha produzido convulsões ou perda de
consciência, se ocorreu algum atraso na aquisição da linguagem ou
perturbações na articulação da mesma, se houve um atraso para andar, e
algum problema de dominância lateral (uso retardado da mão esquerda ou
direita), entre outros.
Dentro
da etiologia da dislexia sempre deverão ser considerados dois aspectos,
que podem estar isolados ou relacionados, como também serem
complementares: causas genéticas e causas adquiridas. A etiologia pode
ser dividida em : genética, adquirida e multifatorial ou mista.
2. Tipos de Dislexia:
A dislexia pode ser classificada de várias formas, de acordo com os critérios usados para classificação.
Alguns autores classificam a dislexia tendo como base testes diagnósticos, fonoaudiológico, pedagógicos e psicológicos.
Conforme Ianhez (2002), a dislexia pode ser classificada em:
2.1 Dislexia disfonética: dificuldades
de percepção auditiva na análise e síntese de fonemas, dificuldades
temporais, e nas percepções da sucessão e da duração ( troca de fonemas –
sons, grafemas – diferentes, dificuldades no reconhecimento e na
leitura de palavras que não têm significado, alterações na ordem das
letras e sílabas, omissões e acréscimos, maior dificuldade na escrita do
que na leitura, substituições de palavras por sinônimos);
2.2 Dislexia diseidética: dificuldade
na percepção visual, na percepção gestáltica, na análise e síntese de
fonemas ( leitura silábica, sem conseguir a síntese das palavras,
aglutinações e fragmentações de palavras, troca por equivalentes
fonéticos, maior dificuldade para a leitura do que para a escrita);
2.3 Dislexia visual: deficiência na percepção visual; na coordenação visomotora (não visualiza cognitivamente o fonema);
2.4 Dislexia auditiva: deficiência na percepção auditiva, na memória auditiva (não audiabiliza cognitivamente o fonema).
2.5 Dislexia mista: que seria a combinação de mais de um tipo de dislexia.
Para Moojen apud Rotta (2006), é possível classificar a dislexia em três tipos:
2.1.1 Dislexia fonológica (sublexical ou disfonética): caracterizada
por uma dificuldade seletiva para operar a rota fonológica durante a
leitura, apresentando, não obstante, um funcionamento aceitável da rota
lexical; com freqüência os problemas residem no conversor fonema-grafema
e/ou no momento de juntar os sons parciais em uma palavra completa.
Sendo assim, as dificuldades fundamentais residem na leitura de palavras
não-familiares, sílabas sem sentido ou pseudopalavras, mostrando melhor
desempenho na leitura de palavras já familiarizadas. Subjacente a essa
via, encontra-se dificuldades em tarefas de memória e consciência
fonológica. Considerando o grande esforço que fazem para reconhecer as
palavras, portanto, para manter uma informação na memória de trabalho,
são obrigados a repetir os sons para não perdê-los definitivamente. Como
conseqüência, toda essa concentração despendida no reconhecimento das
palavras acarreta em dificuldades na compreensão do que foi lido.
2.2.1 Dislexia lexical (de superfície): as
dificuldades residem na operação da rota lexical (preservada ou
relativamente preservada a rota fonológica), afetando fortemente a
leitura de palavras irregulares. Nesses casos, os disléxico lêem
lentamente, vacilando e errando com freqüência, pois ficam escravos da
rota fonológica, que é morosa em seu funcionamento. Diante disso, os
erros habituais são silabações, repetições e retificações, e , quando
pressionados a ler rapidamente, cometem substituições e lexicalizações;
às vezes situam incorretamente o acento prosódico das palavras.
2.3.1 Dislexia Mista: nesse
caso, os disléxicos apresentam problemas para operar tanto com a rota
fonológica quanto com a lexical. São assim situações mais graves e
exigem um esforço ainda maior para atenuar o comprometimento das vias de
acesso ao léxico.
Entre
as consequências da dislexia encontramos a repetência e evasão, pois se
o problema não é detectado e acompanhado, a criança não aprende a ler e
escrever. Acontece também o desestímulo, a solidão, a vergonha, e
implicações em seu autoconceito e rebaixamento de sua autoestima, porque
o aluno perde o interesse em aprender, se acha incapaz e desprovido de
recursos intelectuais necessários para tal. Pode apresentar uma conduta
inadequada com o grupo, gerando problemas de comportamento, como
agressividade e até envolvimento com drogas. Como podemos constatar que
as seqüelas são as mais abrangentes, em todos os setores da vida. Começa
com um distúrbio de leitura e escrita e acaba com um problema que pode
durar a vida inteira, como depressão e desvio de conduta.
3. A dislexia e a alfabetização:
Lima
(2002), coloca que é função da escola ampliar a experiência humana,
portanto a escola não pode ser limitada ao que é significativo para o
aluno, mas criar situações de ensino que ampliem a experiência,
aumentando os campos de significação.
Do
ponto de vista do desenvolvimento e da construção de significados, só
pode ser significativo para a pessoa aquilo do qual ela possui um mínimo
de experiências e de informação.
Por
isso, o disléxico precisa olhar e ouvir atentamente, observar os
movimentos da mão quando escrever e prestar atenção aos movimentos da
boca quando fala. Desta maneira, a criança disléxica associará a forma
escrita de uma letra tanto com seu som como com os movimentos, pois
falar, ouvir, ler e escrever, são atividades da linguagem.
Fonseca
(1995), retrata muito bem isso quando diz que uma coisa é a criança que
não quer aprender a ler, outra é a criança que não pode aprender a ler
com os métodos pedagógicos tradicionais. Não podemos assumir atitudes
reducionistas que afirmam que a dislexia não existe. De fato, a dislexia
é muito mais do que uma dificuldade na leitura. A dislexia normalmente
não aparece isolada, ela surge integrada numa constelação de problemas
que justificam uma deficiente manipulação do comportamento simbólico que
trata de uma aquisição exclusivamente humana.
Muitos
autores tem defendido o método fonético como o mais adequado na
alfabetização de disléxicos e não disléxicos. Os métodos fonéticos
favorecem a aquisição e o desenvolvimento da consciência fonológica que é
a capacidade de perceber que o discurso espontâneo é uma seqüência de
sentenças e que estas são uma seqüência de palavras( consciência da
palavra); que as palavras são uma seqüência de sílabas (consciência
silábica) e que as sílabas são uma seqüência de fonemas (consciência
fonêmica), o que auxiliaria muito nas dificuldades dos alunos
disléxicos.
Para
auxiliar o aluno disléxico em suas dificuldades, a escola deve dar
encorajamento, atender e respeitar as capacidades e os limites da
criança, estar informada, para amparar a criança em sua dificuldade,
manter o professor da classe familiarizado e sensibilizado com a
dislexia, para compreender e apoiar a criança, na sala de aula,
reconhecer a necessidade de ajuda extra e desenvolver um clima de
paciência, para que as crianças possam ter tempo suficiente para cumprir
suas tarefas e, até mesmo, repeti-las várias vezes para retê-las.
É
importante, também, conscientizar toda a comunidade escolar que estas
“facilidades” dadas aos disléxicos, na verdade, representam a única
forma que este tem para competir em igualdade de condições com seus
colegas.
4. Sinais de dislexia na idade escolar:
Para Ianhez (2002) estes são sinais importantes de dislexia na idade escolar:
•Lentidão na aprendizagem dos mecanismos da leitura e escrita;
•Trocas ortográficas ocorrem, mas dependem do tipo de dislexia;
•Problema para reconhecer rimas e alterações (fonemas repetidos em uma frase);
•Desatenção e dispersão;
•Desempenho escolar abaixo da média, em matérias específicas, que dependem da linguagem escrita;
•Melhores resultados, nas avaliações orais, do que nas escritas;
•Dificuldade de coordenação motora fina (para escrever, desenhar e pintar) e grossa (é descoordenada);
•Dificuldade de copiar as lições do quadro, ou de um livro;
•Problema de lateralidade (confusão entre esquerda e direita, ginástica);
•Dificuldade de expressão: vocabulário pobre, frases curtas, estrutura simples, sentenças vagas;
•Dificuldade em manusear mapas e dicionários;
•Esquecimento de palavras;
•Problema de conduta: retração, timidez, excessiva e depressão;
•Desinteresse ou negação da necessidade de ler;
•Leitura demorada, silabadas e com erros. Esquecimento de tudo o que lê;
•Salta linhas durante a leitura, acompanha a linha de leitura com o dedo;
•Dificuldade em matemática, desenho geométrico e em decorar seqüências;
•Desnível entre o que ouve e o que lê. Aproveita o que ouve, mas não o que lê;
•Demora demasiado tempo na realização dos trabalhos de casa;
•Não gosta de ir a escola;
•Apresenta
“picos de aprendizagem”, nuns dias parece assimilar e compreender os
conteúdos e noutro, parece ter esquecido o que tinha aprendido
anteriormente;
•Pode evidenciar capacidade acima da média em áreas como: desenho, pintura, música, teatro, esporte, etc;
O
estudo da dislexia, em sala de aula, tem como ponto de partida a
compreensão, das quatro habilidades fundamentais da linguagem verbal: a
leitura, a escrita, a fala e a escuta. Destas, a leitura é a habilidade
lingüística mais difícil e complexa, e a mais diretamente relacionada
com a dificuldade específica de acesso ao código escrito denominada
“dislexia”. (PINTO, 2003)
No
caso da criança em idade escolar, a psicolinguística define a dislexia
como um déficit inesperado na aprendizagem da leitura (dislexia), da
escrita (disgrafia) e da ortografia (disortografia) na idade em que
essas habilidades já deveriam ter sido automatizadas. É o que se
denomina “dislexia de desenvolvimento”.
Para
ensinar crianças com distúrbios de aprendizagem, é preciso conhecer os
processos educacionais. Daí resulta a importância da pré-escola, que é a
época propícia para desenvolver a capacidade cognitiva da criança
normal ou mesmo disléxica, através de métodos ativos e baseados na
psicologia, de Jean Piaget. É preciso então atender aos estágios de
desenvolvimento mental da criança, sem pressa de alfabetizar, antes que
ela esteja madura neurologicamente.
Para
a criança disléxica, o método multissensorial surge com o objetivo de
trabalhar a criança, para que aprenda a dar respostas automáticas
duradouras (nomes, sons e fonemas) e desenvolver habilidades como
sequenciar palavras. Na alfabetização, a
introdução de cada letra, com ênfase na sua relação com o nome/som e com
a importância em dar a sua forma correta, torna o ensino sistemático e
cumulativo, e deverá ser avaliado regularmente, de forma a verificar a
sua eficiência.
5. O papel do professor:
Coll
( 1995), propõem que os professores encontram-se normalmente, diante de
um grupo de alunos com diferentes níveis , na área da
comunicativo-linguística. Crianças que diferem quanto aos usos que fazem
da linguagem, em função da procedência geográfica, social e cultural.
Os
professores precisam estar atentos para esta realidade, e para as
particularidades de seu grupo. Suspeitando dos sintomas, deve sugerir um
encaminhamento clínico para a criança e após diagnosticado, o quadro, é
necessário que ele se dedique muito ao aluno, em sala de aula, e ao
longo do tratamento, que envolve em partes iguais a escola, a família e
profissionais da saúde.
A
primeira tarefa do professor é resgatar a autoconfiança do aluno.
Descobrir suas habilidades para que possa acreditar em si mesmo ao se
destacar em outras áreas.
O
papel do professor é dirigir um olhar flexível para cada aluno que
tenha dificuldade, é compreender a natureza dessas dificuldades, buscar
um diagnóstico especializado, uma orientação para melhorar o dia-a-dia
da criança, e se instrumentalizar, pois há muitos professores que
lecionam e não sabem o que é dislexia.
Somos
de opinião que o professor primário deve ele próprio construir os seus
instrumentos de diagnóstico pedagógico (diagnóstico informal) a fim de
conduzir a sua atividade mais coerentemente... é do maior interesse o
uso de instrumentos que permitam detectar precocemente qualquer
dificuldade de aprendizagem, pois só assim uma intervenção
psicopedagógica pode ser considerada socialmente útil, pois quanto mais
tarde for identificada a dificuldade, menos hipóteses haverá para
solucionar corretamente. ( FONSECA, 1995)
O
professor que deseja ajudar seus alunos, sabe que é necessário
encaminhá-lo para tratamento e colaborar nesse tratamento. Mas ele sabe
também, que o atendimento gratuito é sujeito a grande espera e que o
nível econômico da maioria dos escolares, não permite tratamento
particular. Só através de um trabalho paciente e constante, poderá
prestar a ajuda, que a criança tanto necessita.
O
ideal é trabalhar a autonomia da criança, para que ela não comece a
sentir-se dependente em tudo. O professor deve acolher e respeitá-lo, em
suas diferenças, sem cair no sentimento de pena.
Cabe
ao professor recorrer a diversas atividades e técnicas de ensino e
descobrir qual delas melhor se adapta a cada estudante e a cada
situação.
É
importante que o professor explique à criança o seu problema, sente ao
lado dela, não a pressione com o tempo, não estabeleça competições com
os outros, que seja flexível quanto ao conteúdo das lições, que faça
críticas construtivas, estimule o aluno a escrever em linhas alternadas
(o que permite a leitura da caligrafia imprecisa), certifique-se de que a
tarefa de casa foi entendida pela criança, peça aos pais que releiam
com ela as instruções, evite anotar todos os erros na correção (dando
mais importância ao conteúdo), não corrija com lápis vermelho (isso fere
a suscetibilidade da criança com problemas de aprendizagem), e procure
descobrir os interesses e leituras que prendam a atenção da criança.
É
de grande importância ressaltar, que a manutenção de turmas pequenas,
com no máximo 20 alunos, ou menos, é de extrema relevância, para que o
professor tenha oportunidade de observar de maneira adequada a todos os
educandos, como também dispor de tempo para auxiliá-los.
6. Sugestões e recursos:
A ABD faz algumas sugestões visando a melhoria da AVD’s e qualidade de vida da criança disléxica, tais como:
•Estabelecer horários para refeições, sono, deveres de casa e recreações;
•As
roupas devem ser arrumadas na sequência que ele vai vestir, para evitar
confusões e preocupações à criança (simplificar usando zíper em vez de
botão, sapatos e tênis sem cordão e camisetas);
•Quando
for ensinar a amarrar os sapatos, não fique de frente para a criança,
coloque-se ao seu lado, com os braços sobre o ombro dela;
•Marque no relógio, com palavras, as horas das obrigações. Isso evita a preocupação da criança;
•Para
as crianças que tem dificuldades com direita e esquerda, uma marca é
necessária. Isso pode ser feito com um relógio de pulso, um bracelete ou
um botão pregado no bolso do lado favorito;
•Reforçar a ordem das letras do alfabeto, cantando e dividindo-as em pequenos grupos;
•Ensinar a criança a “sentir” as letras através de diferentes texturas de materiais, como areia, papel, veludo, sabão, etc;
•Ler histórias que se encontrem no nível de entendimento da criança;
•Instruir
as crianças canhotas precocemente, para evitar que assumam posturas
pouco confortáveis e mesmo prejudiciais, como encobrir o papel com a mão
ao escrever;
•Providenciar
para que a criança use lápis ou caneta grossos, com película de
borracha ao redor, e que sejam de forma triangular;
•A
criança disléxica confunde-se com o volume de palavras e números com
que tem de se defrontar. Para evitar isso, arranjar um cartão de
aproximadamente 8cm de comprimento por 2cm de largura, com uma janela no
meio, da largura de uma linha escrita e comprimento de 4cm. Deslizando o
cartão na folha à medida que a criança lê, ele bloqueia o acesso visual
para as linhas de baixo e de cima e dirige a atenção da criança da
esquerda para a direita.
A
motivação é muito importante para a criança disléxica, pois, ao se
sentir limitada e inferiorizada, ela pode se revoltar e assumir uma
atitude de negativismo. Por outro lado, quando se vê compreendida e
amparada, ganha segurança e vontade de colaborar.
Existem também alguns recursos e alternativas para que a criança consiga acompanhar a turma, entre eles:
•Dar a ele um resumo, do programa a ser desenvolvido;
•Iniciar cada novo conteúdo, com um esquema, mostrando o que será apresentado no período. No final, resumir os pontos-chaves;
•Usar
vários recursos de apoio para apresentar a lição `a classe, além do
quadro- negro: projetor de slides, retroprojetor, vídeos e outros
recursos multimídia;
•Introduzir vocabulário novo ou técnico de forma contextualizada;
•Evitar dar instruções orais e escritas ao mesmo tempo;
•Avisar,
com antecedência, quando houver trabalhos que envolvam leitura, para
que o aluno, encontre outras formas de realizá-lo, como gravar o livro,
por exemplo;
•Fazer revisões com tempo disponível para responder às possíveis dúvidas;
•Autorizar o uso de tabuadas, calculadoras simples, rascunhos e dicionários, durante as atividades e avaliações;
•Aumentar o limite do tempo para atividades escritas;
•Ler enunciados em voz alta e verificar se todos entenderam o que está sendo pedido;
•Usar gravador;
•Confecção, do próprio material para alfabetização, como desenhar e montar uma cartilha;
•Uso de gravuras e fotografias (a imagem é essencial);
•Material dourado (Material Curisineire);
•Folhas quadriculadas para matemática;
•Não deve ser forçada a ler em voz alta, em classe, a menos que demonstre desejo em fazê-lo;
•Uso de informática, como corretor ortográfico.
Entre alguns exemplos de atividades e técnicas aplicáveis ao disléxico, podemos destacar: colocar
o aluno na primeira classe (para poder dar atenção especial a ele),
repetir só para a criança o que disse para a classe, ler novamente um
trecho do livro só para ela, corrigir atividades ao lado dela, dar um
tempo maior para que faça o mesmo trabalho que os demais, substituir
avaliações e outros trabalhos escritos por orais e utilizar programas
oferecidos no mercado para montar uma metodologia de apoio ao
aprendizado .
Dislexia
A
definição mais utilizada, segundo a ABD é a de 1994 da International
Dyslexia Association (IDA): “Dislexia é um dos muitos distúrbios de
aprendizagem. É um distúrbio específico de origem constitucional
caracterizado por uma dificuldade na decodificação de palavras simples
que, como regra, mostra uma insuficiência no processamento fonológico.
Essas dificuldades não são esperadas com relação à idade e a outras
dificuldades acadêmicas cognitivas; não são um resultado de distúrbios
de desenvolvimento geral nem sensorial. A dislexia se manifesta por
várias dificuldades em diferentes formas de linguagem freqüentemente
incluindo, além das dificuldades com leitura, uma dificuldade de escrita
e soletração.”
Em
2003, o Annals of Dyslexia, elaborado pela IDA, propôs uma nova
definição: “Dislexia é uma dificuldade de aprendizagem de origem
neurológica. É caracterizada pela dificuldade com a fluência correta na
leitura e por dificuldade na habilidade de decodificação e soletração.
Essas dificuldades resultam tipicamente do déficit no componente
fonológico da linguagem que é inesperado em relação a outras habilidades
cognitivas consideradas na faixa etária.” Tal definição contou com a
participação de vários profissionais, entre eles: Susan Brady, Hugh
Catts, Emerson Dickman, Guinenere Éden, Jack Fletcher, Jeffrey Gilger,
Robin Moris, Harley Tomey e Thomas Viall.
O
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-IV (1995)
caracteriza a dislexia como comprometimento acentuado no
desenvolvimento das habilidades de reconhecimento das palavras e da
compreensão da leitura. O diagnóstico é realizado somente se esta
incapacidade interferir significativamente no desempenho escolar ou nas
atividades da vida diária (AVD’s) que requerem habilidades de leitura. A
leitura oral no disléxico é caracterizada por omissões, distorções e
substituições de palavras e pela leitura lenta e vacilante. Neste
distúrbio, a compreensão da leitura também é afetada.
Fonseca
(1995), coloca que a dislexia trata-se de uma desordem (dificuldade)
manifestada na aprendizagem da leitura, independentemente de instrução
convencional, adequada inteligência e oportunidade sócio-cultural. E,
portanto, dependente de funções cognitivas, que são de origem orgânica
na maioria dos casos.
Condemarim
(1986), expressa seu pensamento sobre dislexia dizendo que é um
conjunto de sintomas reveladores de uma disfunção parietal (o lobo do
cérebro onde fica o centro nervoso da escrita), geralmente hereditário,
ou às vezes adquirida, que afeta a aprendizagem da leitura num contínuo
que se estende do leve sintoma ao severo. É freqüentemente acompanhada
de transtorno na aprendizagem da escrita, ortografia, gramática e
redação.
Conforme
ressalta Myklebust (1987), a dislexia representa um déficit na
capacidade de simbolizar, começa a se definir a partir da necessidade
que tem a criança de lidar receptivamente ou expressivamente com a
representação da realidade, ou antes, com a simbolização da realidade,
ou poderíamos também dizer, com a nomeação do mundo.
Segundo
um levantamento feito pela Associação Brasileira de Dislexia (ABD), em
média 40% dos casos diagnosticados na faixa mais crítica, entre 10 a 12
anos, são de grau severo, 40% são de grau moderado e 20% de grau leve.
Atualmente
se observa um fenômeno de “vulgarização”/generalização do termo
dislexia, qualquer distúrbio de linguagem apresentado pela criança, logo
é qualificado como dislexia, tanto pelos pais como pela escola. O
problema nem sempre está na criança e sim nos processos educacionais,
sob a responsabilidade familiar, ou nos processos formais de
aprendizagem, sob incumbência da instituição escolar. Além dos problemas
de ensinagem, temos também a alfabetização precoce, cada vez mais as
crianças estão menos prontas para iniciar o processo e são identificadas
dificuldades de aprendizagem que, na realidade, não existem.
Lima
(2002), enfatiza que todo processo de aprendizagem está articulado com a
história de cada indivíduo, e o ser humano aprende mais facilmente
quando o novo pode ser relacionado com algum aspecto da sua experiência
prévia, com o conhecimento anterior, com alguma questão que o indivíduo
se colocou, com imagens, palavras e fatos que estão em sua memória, com
vivências culturais.
Ao
que parece, por trás desses problemas específicos de aprendizagem,
existe sempre um fator biológico, hereditário, isto é, há uma disposição
natural de a mesma dificuldade ocorrer em outros membros da família.
Coll (1995), descreve isso dizendo que quando falamos de problemas de
linguagem, não podemos nos esquecer de buscar no ambiente social da
criança todos os dados que nos permitam compreender melhor as
dificuldades que esta apresenta.
A
neurologista inglesa Guinevere Éden, do Centro de Investigação
Neurológica de Georgetown, fez uma pesquisa com cérebros de disléxicos
na qual ela constatou que uma das características comuns às crianças
disléxicas é a dificuldade em reconhecer em que direção os objetos se
movem. Por meio de exames de ressonância magnética funcional, foi
possível verificar que o cérebro de um portador de dislexia é anatômico e
fisiologicamente diferente de uma pessoa que não sofre do distúrbio. De
acordo com ela, ficou claro que o hemisfério direito do cérebro, não
relacionado à linguagem, apresenta maior atividade do que o esquerdo.
Para superar essa condição é preciso aprender como compensá-la.
Rotta
(2006), as diferenças estruturais entre o cérebro das pessoas com
dislexia e o das pessoas sem dislexia concentram-se fundamentalmente no
plano temporal. Além da simetria incomum dos planos temporais, o cérebro
de leitores disléxicos tem alterações na citoarquitetura e alterações
do cerebelo e suas vias. Isso ocorre provavelmente porque houve algum
tipo de agressão nos primeiros estágios do desenvolvimento. Finalmente,
os neurônios de tecido cerebral dos leitores disléxicos parecem ser
menores que a média, pelo menos em algumas áreas de cérebro (por
exemplo, o tálamo). O tamanho menor dos neurônios talâmicos pode muito
bem estar ligado às anormalidades tanto do sistema visual quanto no
sistema auditivo de indivíduos com dislexia. O estudo de Galaburda e
colaboradores, em 2001, demonstrou experimentalmente que as alterações
na citoarquitetura do córtex temporal e dos tálamos determinam um
processamento lento dos sons.
Dentro
do quadro da dislexia devemos estar atentos ao histórico familiar para
parentes próximos que apresentem a mesma deficiência de linguagem.
Também a aspectos pré, peri e pós-natal se o parto foi difícil, se pode
ter ocorrido algum problema de anoxia ( asfixia relativa), prematuridade
do feto (peso abaixo do normal), ou hipermaturidade ( nascimento passou
da data prevista para o parto). Se a criança adquiriu alguma doença
infecto-contagiosa, que tenha produzido convulsões ou perda de
consciência, se ocorreu algum atraso na aquisição da linguagem ou
perturbações na articulação da mesma, se houve um atraso para andar, e
algum problema de dominância lateral (uso retardado da mão esquerda ou
direita), entre outros.
Dentro
da etiologia da dislexia sempre deverão ser considerados dois aspectos,
que podem estar isolados ou relacionados, como também serem
complementares: causas genéticas e causas adquiridas. A etiologia pode
ser dividida em : genética, adquirida e multifatorial ou mista.
2. Tipos de Dislexia:
A dislexia pode ser classificada de várias formas, de acordo com os critérios usados para classificação.
Alguns autores classificam a dislexia tendo como base testes diagnósticos, fonoaudiológico, pedagógicos e psicológicos.
Conforme Ianhez (2002), a dislexia pode ser classificada em:
2.1 Dislexia disfonética: dificuldades
de percepção auditiva na análise e síntese de fonemas, dificuldades
temporais, e nas percepções da sucessão e da duração ( troca de fonemas –
sons, grafemas – diferentes, dificuldades no reconhecimento e na
leitura de palavras que não têm significado, alterações na ordem das
letras e sílabas, omissões e acréscimos, maior dificuldade na escrita do
que na leitura, substituições de palavras por sinônimos);
2.2 Dislexia diseidética: dificuldade
na percepção visual, na percepção gestáltica, na análise e síntese de
fonemas ( leitura silábica, sem conseguir a síntese das palavras,
aglutinações e fragmentações de palavras, troca por equivalentes
fonéticos, maior dificuldade para a leitura do que para a escrita);
2.3 Dislexia visual: deficiência na percepção visual; na coordenação visomotora (não visualiza cognitivamente o fonema);
2.4 Dislexia auditiva: deficiência na percepção auditiva, na memória auditiva (não audiabiliza cognitivamente o fonema).
2.5 Dislexia mista: que seria a combinação de mais de um tipo de dislexia.
Para Moojen apud Rotta (2006), é possível classificar a dislexia em três tipos:
2.1.1 Dislexia fonológica (sublexical ou disfonética): caracterizada
por uma dificuldade seletiva para operar a rota fonológica durante a
leitura, apresentando, não obstante, um funcionamento aceitável da rota
lexical; com freqüência os problemas residem no conversor fonema-grafema
e/ou no momento de juntar os sons parciais em uma palavra completa.
Sendo assim, as dificuldades fundamentais residem na leitura de palavras
não-familiares, sílabas sem sentido ou pseudopalavras, mostrando melhor
desempenho na leitura de palavras já familiarizadas. Subjacente a essa
via, encontra-se dificuldades em tarefas de memória e consciência
fonológica. Considerando o grande esforço que fazem para reconhecer as
palavras, portanto, para manter uma informação na memória de trabalho,
são obrigados a repetir os sons para não perdê-los definitivamente. Como
conseqüência, toda essa concentração despendida no reconhecimento das
palavras acarreta em dificuldades na compreensão do que foi lido.
2.2.1 Dislexia lexical (de superfície): as
dificuldades residem na operação da rota lexical (preservada ou
relativamente preservada a rota fonológica), afetando fortemente a
leitura de palavras irregulares. Nesses casos, os disléxico lêem
lentamente, vacilando e errando com freqüência, pois ficam escravos da
rota fonológica, que é morosa em seu funcionamento. Diante disso, os
erros habituais são silabações, repetições e retificações, e , quando
pressionados a ler rapidamente, cometem substituições e lexicalizações;
às vezes situam incorretamente o acento prosódico das palavras.
2.3.1 Dislexia Mista: nesse
caso, os disléxicos apresentam problemas para operar tanto com a rota
fonológica quanto com a lexical. São assim situações mais graves e
exigem um esforço ainda maior para atenuar o comprometimento das vias de
acesso ao léxico.
Entre
as consequências da dislexia encontramos a repetência e evasão, pois se
o problema não é detectado e acompanhado, a criança não aprende a ler e
escrever. Acontece também o desestímulo, a solidão, a vergonha, e
implicações em seu autoconceito e rebaixamento de sua autoestima, porque
o aluno perde o interesse em aprender, se acha incapaz e desprovido de
recursos intelectuais necessários para tal. Pode apresentar uma conduta
inadequada com o grupo, gerando problemas de comportamento, como
agressividade e até envolvimento com drogas. Como podemos constatar que
as seqüelas são as mais abrangentes, em todos os setores da vida. Começa
com um distúrbio de leitura e escrita e acaba com um problema que pode
durar a vida inteira, como depressão e desvio de conduta.
3. A dislexia e a alfabetização:
Lima
(2002), coloca que é função da escola ampliar a experiência humana,
portanto a escola não pode ser limitada ao que é significativo para o
aluno, mas criar situações de ensino que ampliem a experiência,
aumentando os campos de significação.
Do
ponto de vista do desenvolvimento e da construção de significados, só
pode ser significativo para a pessoa aquilo do qual ela possui um mínimo
de experiências e de informação.
Por
isso, o disléxico precisa olhar e ouvir atentamente, observar os
movimentos da mão quando escrever e prestar atenção aos movimentos da
boca quando fala. Desta maneira, a criança disléxica associará a forma
escrita de uma letra tanto com seu som como com os movimentos, pois
falar, ouvir, ler e escrever, são atividades da linguagem.
Fonseca
(1995), retrata muito bem isso quando diz que uma coisa é a criança que
não quer aprender a ler, outra é a criança que não pode aprender a ler
com os métodos pedagógicos tradicionais. Não podemos assumir atitudes
reducionistas que afirmam que a dislexia não existe. De fato, a dislexia
é muito mais do que uma dificuldade na leitura. A dislexia normalmente
não aparece isolada, ela surge integrada numa constelação de problemas
que justificam uma deficiente manipulação do comportamento simbólico que
trata de uma aquisição exclusivamente humana.
Muitos
autores tem defendido o método fonético como o mais adequado na
alfabetização de disléxicos e não disléxicos. Os métodos fonéticos
favorecem a aquisição e o desenvolvimento da consciência fonológica que é
a capacidade de perceber que o discurso espontâneo é uma seqüência de
sentenças e que estas são uma seqüência de palavras( consciência da
palavra); que as palavras são uma seqüência de sílabas (consciência
silábica) e que as sílabas são uma seqüência de fonemas (consciência
fonêmica), o que auxiliaria muito nas dificuldades dos alunos
disléxicos.
Para
auxiliar o aluno disléxico em suas dificuldades, a escola deve dar
encorajamento, atender e respeitar as capacidades e os limites da
criança, estar informada, para amparar a criança em sua dificuldade,
manter o professor da classe familiarizado e sensibilizado com a
dislexia, para compreender e apoiar a criança, na sala de aula,
reconhecer a necessidade de ajuda extra e desenvolver um clima de
paciência, para que as crianças possam ter tempo suficiente para cumprir
suas tarefas e, até mesmo, repeti-las várias vezes para retê-las.
É
importante, também, conscientizar toda a comunidade escolar que estas
“facilidades” dadas aos disléxicos, na verdade, representam a única
forma que este tem para competir em igualdade de condições com seus
colegas.
4. Sinais de dislexia na idade escolar:
Para Ianhez (2002) estes são sinais importantes de dislexia na idade escolar:
•Lentidão na aprendizagem dos mecanismos da leitura e escrita;
•Trocas ortográficas ocorrem, mas dependem do tipo de dislexia;
•Problema para reconhecer rimas e alterações (fonemas repetidos em uma frase);
•Desatenção e dispersão;
•Desempenho escolar abaixo da média, em matérias específicas, que dependem da linguagem escrita;
•Melhores resultados, nas avaliações orais, do que nas escritas;
•Dificuldade de coordenação motora fina (para escrever, desenhar e pintar) e grossa (é descoordenada);
•Dificuldade de copiar as lições do quadro, ou de um livro;
•Problema de lateralidade (confusão entre esquerda e direita, ginástica);
•Dificuldade de expressão: vocabulário pobre, frases curtas, estrutura simples, sentenças vagas;
•Dificuldade em manusear mapas e dicionários;
•Esquecimento de palavras;
•Problema de conduta: retração, timidez, excessiva e depressão;
•Desinteresse ou negação da necessidade de ler;
•Leitura demorada, silabadas e com erros. Esquecimento de tudo o que lê;
•Salta linhas durante a leitura, acompanha a linha de leitura com o dedo;
•Dificuldade em matemática, desenho geométrico e em decorar seqüências;
•Desnível entre o que ouve e o que lê. Aproveita o que ouve, mas não o que lê;
•Demora demasiado tempo na realização dos trabalhos de casa;
•Não gosta de ir a escola;
•Apresenta
“picos de aprendizagem”, nuns dias parece assimilar e compreender os
conteúdos e noutro, parece ter esquecido o que tinha aprendido
anteriormente;
•Pode evidenciar capacidade acima da média em áreas como: desenho, pintura, música, teatro, esporte, etc;
O
estudo da dislexia, em sala de aula, tem como ponto de partida a
compreensão, das quatro habilidades fundamentais da linguagem verbal: a
leitura, a escrita, a fala e a escuta. Destas, a leitura é a habilidade
lingüística mais difícil e complexa, e a mais diretamente relacionada
com a dificuldade específica de acesso ao código escrito denominada
“dislexia”. (PINTO, 2003)
No
caso da criança em idade escolar, a psicolinguística define a dislexia
como um déficit inesperado na aprendizagem da leitura (dislexia), da
escrita (disgrafia) e da ortografia (disortografia) na idade em que
essas habilidades já deveriam ter sido automatizadas. É o que se
denomina “dislexia de desenvolvimento”.
Para
ensinar crianças com distúrbios de aprendizagem, é preciso conhecer os
processos educacionais. Daí resulta a importância da pré-escola, que é a
época propícia para desenvolver a capacidade cognitiva da criança
normal ou mesmo disléxica, através de métodos ativos e baseados na
psicologia, de Jean Piaget. É preciso então atender aos estágios de
desenvolvimento mental da criança, sem pressa de alfabetizar, antes que
ela esteja madura neurologicamente.
Para
a criança disléxica, o método multissensorial surge com o objetivo de
trabalhar a criança, para que aprenda a dar respostas automáticas
duradouras (nomes, sons e fonemas) e desenvolver habilidades como
sequenciar palavras. Na alfabetização, a
introdução de cada letra, com ênfase na sua relação com o nome/som e com
a importância em dar a sua forma correta, torna o ensino sistemático e
cumulativo, e deverá ser avaliado regularmente, de forma a verificar a
sua eficiência.
5. O papel do professor:
Coll
( 1995), propõem que os professores encontram-se normalmente, diante de
um grupo de alunos com diferentes níveis , na área da
comunicativo-linguística. Crianças que diferem quanto aos usos que fazem
da linguagem, em função da procedência geográfica, social e cultural.
Os
professores precisam estar atentos para esta realidade, e para as
particularidades de seu grupo. Suspeitando dos sintomas, deve sugerir um
encaminhamento clínico para a criança e após diagnosticado, o quadro, é
necessário que ele se dedique muito ao aluno, em sala de aula, e ao
longo do tratamento, que envolve em partes iguais a escola, a família e
profissionais da saúde.
A
primeira tarefa do professor é resgatar a autoconfiança do aluno.
Descobrir suas habilidades para que possa acreditar em si mesmo ao se
destacar em outras áreas.
O
papel do professor é dirigir um olhar flexível para cada aluno que
tenha dificuldade, é compreender a natureza dessas dificuldades, buscar
um diagnóstico especializado, uma orientação para melhorar o dia-a-dia
da criança, e se instrumentalizar, pois há muitos professores que
lecionam e não sabem o que é dislexia.
Somos
de opinião que o professor primário deve ele próprio construir os seus
instrumentos de diagnóstico pedagógico (diagnóstico informal) a fim de
conduzir a sua atividade mais coerentemente... é do maior interesse o
uso de instrumentos que permitam detectar precocemente qualquer
dificuldade de aprendizagem, pois só assim uma intervenção
psicopedagógica pode ser considerada socialmente útil, pois quanto mais
tarde for identificada a dificuldade, menos hipóteses haverá para
solucionar corretamente. ( FONSECA, 1995)
O
professor que deseja ajudar seus alunos, sabe que é necessário
encaminhá-lo para tratamento e colaborar nesse tratamento. Mas ele sabe
também, que o atendimento gratuito é sujeito a grande espera e que o
nível econômico da maioria dos escolares, não permite tratamento
particular. Só através de um trabalho paciente e constante, poderá
prestar a ajuda, que a criança tanto necessita.
O
ideal é trabalhar a autonomia da criança, para que ela não comece a
sentir-se dependente em tudo. O professor deve acolher e respeitá-lo, em
suas diferenças, sem cair no sentimento de pena.
Cabe
ao professor recorrer a diversas atividades e técnicas de ensino e
descobrir qual delas melhor se adapta a cada estudante e a cada
situação.
É
importante que o professor explique à criança o seu problema, sente ao
lado dela, não a pressione com o tempo, não estabeleça competições com
os outros, que seja flexível quanto ao conteúdo das lições, que faça
críticas construtivas, estimule o aluno a escrever em linhas alternadas
(o que permite a leitura da caligrafia imprecisa), certifique-se de que a
tarefa de casa foi entendida pela criança, peça aos pais que releiam
com ela as instruções, evite anotar todos os erros na correção (dando
mais importância ao conteúdo), não corrija com lápis vermelho (isso fere
a suscetibilidade da criança com problemas de aprendizagem), e procure
descobrir os interesses e leituras que prendam a atenção da criança.
É
de grande importância ressaltar, que a manutenção de turmas pequenas,
com no máximo 20 alunos, ou menos, é de extrema relevância, para que o
professor tenha oportunidade de observar de maneira adequada a todos os
educandos, como também dispor de tempo para auxiliá-los.
6. Sugestões e recursos:
A ABD faz algumas sugestões visando a melhoria da AVD’s e qualidade de vida da criança disléxica, tais como:
•Estabelecer horários para refeições, sono, deveres de casa e recreações;
•As
roupas devem ser arrumadas na sequência que ele vai vestir, para evitar
confusões e preocupações à criança (simplificar usando zíper em vez de
botão, sapatos e tênis sem cordão e camisetas);
•Quando
for ensinar a amarrar os sapatos, não fique de frente para a criança,
coloque-se ao seu lado, com os braços sobre o ombro dela;
•Marque no relógio, com palavras, as horas das obrigações. Isso evita a preocupação da criança;
•Para
as crianças que tem dificuldades com direita e esquerda, uma marca é
necessária. Isso pode ser feito com um relógio de pulso, um bracelete ou
um botão pregado no bolso do lado favorito;
•Reforçar a ordem das letras do alfabeto, cantando e dividindo-as em pequenos grupos;
•Ensinar a criança a “sentir” as letras através de diferentes texturas de materiais, como areia, papel, veludo, sabão, etc;
•Ler histórias que se encontrem no nível de entendimento da criança;
•Instruir
as crianças canhotas precocemente, para evitar que assumam posturas
pouco confortáveis e mesmo prejudiciais, como encobrir o papel com a mão
ao escrever;
•Providenciar
para que a criança use lápis ou caneta grossos, com película de
borracha ao redor, e que sejam de forma triangular;
•A
criança disléxica confunde-se com o volume de palavras e números com
que tem de se defrontar. Para evitar isso, arranjar um cartão de
aproximadamente 8cm de comprimento por 2cm de largura, com uma janela no
meio, da largura de uma linha escrita e comprimento de 4cm. Deslizando o
cartão na folha à medida que a criança lê, ele bloqueia o acesso visual
para as linhas de baixo e de cima e dirige a atenção da criança da
esquerda para a direita.
A
motivação é muito importante para a criança disléxica, pois, ao se
sentir limitada e inferiorizada, ela pode se revoltar e assumir uma
atitude de negativismo. Por outro lado, quando se vê compreendida e
amparada, ganha segurança e vontade de colaborar.
Existem também alguns recursos e alternativas para que a criança consiga acompanhar a turma, entre eles:
•Dar a ele um resumo, do programa a ser desenvolvido;
•Iniciar cada novo conteúdo, com um esquema, mostrando o que será apresentado no período. No final, resumir os pontos-chaves;
•Usar
vários recursos de apoio para apresentar a lição `a classe, além do
quadro- negro: projetor de slides, retroprojetor, vídeos e outros
recursos multimídia;
•Introduzir vocabulário novo ou técnico de forma contextualizada;
•Evitar dar instruções orais e escritas ao mesmo tempo;
•Avisar,
com antecedência, quando houver trabalhos que envolvam leitura, para
que o aluno, encontre outras formas de realizá-lo, como gravar o livro,
por exemplo;
•Fazer revisões com tempo disponível para responder às possíveis dúvidas;
•Autorizar o uso de tabuadas, calculadoras simples, rascunhos e dicionários, durante as atividades e avaliações;
•Aumentar o limite do tempo para atividades escritas;
•Ler enunciados em voz alta e verificar se todos entenderam o que está sendo pedido;
•Usar gravador;
•Confecção, do próprio material para alfabetização, como desenhar e montar uma cartilha;
•Uso de gravuras e fotografias (a imagem é essencial);
•Material dourado (Material Curisineire);
•Folhas quadriculadas para matemática;
•Não deve ser forçada a ler em voz alta, em classe, a menos que demonstre desejo em fazê-lo;
•Uso de informática, como corretor ortográfico.
Entre alguns exemplos de atividades e técnicas aplicáveis ao disléxico, podemos destacar: colocar
o aluno na primeira classe (para poder dar atenção especial a ele),
repetir só para a criança o que disse para a classe, ler novamente um
trecho do livro só para ela, corrigir atividades ao lado dela, dar um
tempo maior para que faça o mesmo trabalho que os demais, substituir
avaliações e outros trabalhos escritos por orais e utilizar programas
oferecidos no mercado para montar uma metodologia de apoio ao
aprendizado .
Nenhum comentário:
Postar um comentário