Personagens históricos da resistência negra


PERSONAGENS HISTÓRICOS DA RESISTÊNCIA NEGRA

Dandara
Dandara foi uma das lideranças femininas negras que lutaram, junto com Zumbi dos Palmares, contra o sistema escravocrata do século XVII. Não há registro do local de seu nascimento, tampouco de sua ascendência africana. Relatos nos levam a crer que nasceu no Brasil e estabeleceu-se no Quilombo dos Palmares ainda menina.
Quando os primeiros negros se rebelaram contra a escravidão no Brasil e formaram o Quilombo dos Palmares, na Serra da Barriga, em Alagoas, Dandara estava junto com Ganga-Zumba. Participou de todos os ataques e defesas da resistência palmarina. Na condição de líder, Dandara chegou a questionar os termos do tratado de paz assinado por Ganga-Zumba e pelo governo português. Posicionando-se contra o tratado, opôs-se a Ganga-Zumba, ao lado de Zumbi.

Sempre perseguindo o ideal de liberdade, Dandara não tinha limites quando estavam em jogo a segurança de Palmares e a eliminação do inimigo. Chegando perto da cidade do Recife, depois de vencer várias batalhas, Dandara pediu a Zumbi que tomasse a cidade. Sua posição era compartilhada por outras lideranças palmarinas. Para Dandara, a paz em troca de terras no Vale do Cacau era a destruição da República de Palmares e a volta à escravidão. Dandara foi morta, com outros palmarinos, em 6 de fevereiro de 1694, após a destruição da Cerca Real dos Macacos, que fazia parte do Quilombo dos Palmares.

Aleijadinho, artista insuperável
Da união de um arquiteto português, Manoel Francisco Lisboa, e de sua escrava africana Izabel, nasceu, na cidade de Vila Rica, por volta de 1730, Antônio Francisco Lisboa — o Aleijadinho. Considerado filho bastardo, foi alforriado pelo pai no dia em que nasceu.
Como sempre acompanhava o pai e o tio, Antônio Francisco Lisboa, aprendeu, observando-os trabalhar, a desenhar, projetar e esculpir. Logo se tornou ajudante deles e, aos 13 anos, fez seu primeiro projeto, o desenho de um chafariz para o pátio do palácio do governador. A sua primeira encomenda remunerada foi a de esculpir quatro anjos para o andor de São Francisco de Borja, padroeiro de Portugal.

Considerado o marco da arquitetura mineira no século XVIII, pode-se dizer que Aleijadinho dividiu a história do Barroco brasileiro em antes e depois dele. Porém, só teve o seu nome reconhecido depois que o jurista Rodrigo José Ferreira Bretãs resgatou parte de sua biografia, com a ajuda da nora do artista, Joana Lopes, no livro Traços Biográf icos Relativos ao Finado Antônio Francisco Lisboa, de 1858.
Em vez do mármore europeu, esculpia em pedra-sabão. Com a pedra-sabão, foi possível para o escultor desenvolver a complexidade e a delicadeza dos relevos de suas obras; através dela, ele conseguiu transmitir a descontração, a dor, a austeridade e a maldade do ser humano.
Passando um pouco dos 50 anos de idade, já havia sido acometido por uma doença que deformou completamente o escultor, o mais famoso e expressivo do Barroco brasileiro, e que lhe deu o apelido de Aleijadinho.
Esse grandioso artista nos deixa como legado maior o exemplo de que, para um homem com determinação, vontade e um grande espírito de luta, não existem obstáculos.

Antônio Francisco Lisboa faleceu pobre, em novembro de 1814, mas faz-se vivo até os nossos dias através de suas obras, que, testemunhando o passado, enriquecem o presente e acolhem o futuro.

Nelson Mandela
Depois de ter passado 28 anos na prisão e de se tornar um dos presos políticos mais famosos do mundo, Nelson Mandela elegeu-se, em 1994, o primeiro presidente negro da África do Sul, o que representou o fim definitivo do regime do apartheid no país.
Nelson Rolihlahla Mandela nasceu em Umtata, Transkei, em 18 de julho de 1918. Filho do chefe da casa real do Transkei (tribo Tembu), estudou nas universidades de Fort Hare e Witwatersrand. Formou-se em Letras e Direito em 1942. Dois anos depois, ingressou no Congresso Nacional Africano e passou a combater a política racista do apartheid. Julgado por traição de 1956 a 1961, foi absolvido. No ano seguinte, contudo, voltou a ser preso e foi condenado a cinco anos de prisão.
Ainda no cárcere, Mandela foi acusado de subversão, com vários outros acusados, depois que a polícia encontrou, no bairro de Rivonia, em Johannesburg, grande quantidade de armas e equipamentos na sede da ala militar do Congresso Nacional africano. Em junho de 1964, foi condenado à prisão perpétua. Em 1979, Mandela recebeu o Prêmio Jawaharlal Nehru e publicou I Am Prepared to Die (Estou Disposto a Morrer). Onze anos depois, teve sua pena revogada, como conseqüência do plano de abertura política do governo sul-africano, que, pressionado pela opinião pública internacional, aboliu oficialmente o apartheid. O movimento de democratização culminou com a eleição de Mandela para a Presidência da África do Sul, em abril de 1994.

Lélia Gonzalez
Lélia Gonzalez viveu intensamente a história política e cultural brasileira. Mineira de nascimento, filha de um ferroviário negro e mãe de origem indígena, empregada doméstica e penúltima de dezoito irmãos, migrou em 1942 para o Rio de Janeiro. Sua trajetória guarda pouca semelhança com a maioria da população negra, pois ascende na década de 70, no Rio de Janeiro, ainda um período de forte repressão dos governos militares. Pioneira nos cursos sobre Cultura Negra, entre os quais se destaca o 1º Curso de Cultura Negra na Escola de Artes Visuais no Parque Lage. Essa escola foi também lugar de expressão de vários artistas e de intelectuais negros. Fez inúmeras viagens pelo Brasil e ao exterior (EUA, países da África, da América Central, do Caribe e da Europa), buscando denunciar o mito da democracia racial brasileira e o regime de exceção em que o Brasil vivia. Sua meta era, enquanto intelectual e ativista, oferecer instrumentos práticos e teóricos de desmonte das opressões vividas pela maioria da população brasileira.

Cuti
Cuti é pseudônimo de Luiz Silva — poeta, ensaísta e escritor negro. Nasceu em Ourinhos, interior de São Paulo, em 31 de outubro de 1951. É um dos mais engajados militantes da literatura afro-brasileira. Formou-se em Letras (Português–Francês) pela Universidade de São Paulo em 1980 e pós-graduou-se em Teoria da Literatura no Instituto de Estudos da Linguagem (Unicamp). Autor de livros como Poemas da Carapinha e Batuque de Tocaia (edição do autor), foi um dos fundadores e membro do Quilombhoje Literatura — grupo paulistano de escritores surgido em 1980 e dedicado a discutir e aprofundar a experiência afro-brasileira na literatura — e um dos criadores e mantenedores da série Cadernos Negros, “nascida no bojo de um incipiente movimento que pretendia dar continuidade à histórica epopéia de uma imprensa negra”.
“Democracia racial é uma camisa de força da literatura negra.” O poeta e militante negro Luiz Silva, o Cuti, diz que a falsa idéia da boa convivência faz parte da ideologia racista.

Luiz Gama
Luiz Gonzaga Pinto da Gama (Salvador/BA, 1830 – São Paulo/SP, 1882) era filho de escravos e foi vendido pelo pai, em 1840, por causa de uma dívida de jogo. Comprado em leilão pelo alferes Antonio Pereira Cardoso, passou a viver em cativeiro em Lorena/SP. Em 1847, foi alfabetizado por Antonio Rodrigues do Prado Júnior, hóspede de Antonio Pereira Cardoso. No ano seguinte, fugiu da fazenda e foi para São Paulo/SP. Lá, casou-se, por volta de 1850, e freqüentou o curso de Direito como ouvinte, mas não chegou a completá-lo. Em 1864, fundou o jornal Diabo Coxo, do qual foi redator. O periódico era ilustrado pelo italiano Angelo Agostini, considerado marco da imprensa humorística de São Paulo. Entre 1864 e 1875, colaborou nos jornais Ipiranga, Cabrião, Coroaci e O Polichileno. Fundou, em 1869, o jornal Radical Paulistano, com Rui Barbosa. Sempre utilizou seu trabalho na imprensa para a divulgação de suas idéias antiescravistas e republicanas. Em 1873, foi um dos fundadores do Partido Republicano Paulista, em Itu/SP. Nos anos seguintes, teve intensa participação em sociedades emancipadoras, na organização de sociedades secretas para fugas e ajuda financeira a negros, além do auxílio na libertação, nos tribunais, de mais de 500 escravos foragidos. Por volta de 1880, foi líder da Mocidade Abolicionista e Republicana.

Solano Trindade
De todos os escritores negros ligados à coletividade negra brasileira, o que deixou presença mais forte foi Solano Trindade. Foi o primeiro, naquele tempo, a escrever com especificidade, para negros.
Solano Trindade era poeta, pintor, teatrólogo, ator e folclorista. Nasceu no dia 24 de julho de 1908, no bairro de São José, no Recife, capital de Pernambuco. Era filho de Manuel Abílio, mestiço, sapateiro, e da quituteira Merença (Emerenciana). Estudou até completar um ano de desenho no Liceu de Artes e Ofícios. A partir de então, começou a escrever. Solano Trindade foi o poeta da resistência negra por excelência.

Em 1940, transferiu-se para Belo Horizonte. Depois, chegou ao Rio Grande do Sul, fixando-se por um tempo em Pelotas, onde fundou, com o poeta Balduíno de Oliveira, um grupo de arte popular. Essa foi sua primeira tentativa de criar um teatro do povo, o que não se concretizou devido à enchente de 1941, que carregou todo o material. Voltou então para o Recife, indo logo depois para o Rio, onde, no “Café Vermelhinho”, detinha-se a discutir e a conversar com jovens poetas e intelectuais, artistas de teatro, políticos e jornalistas. Ali fez sucesso.
Em 1944, editou o livro Poemas de uma vida simples, no qual se encontra o seu declamadíssimo Trem sujo da Leopoldina. Em 1945, fundou o Comitê Democrático Afro-brasileiro, com Raimundo Souza Dantas, Aladir Custódio e Corsino de Brito.
Em 1954, esteve em São Paulo, criando, na cidade de Embu, um pólo de cultura e tradições afro-americanas. Em São Paulo, também fundou o Teatro Popular Brasileiro (TPB), onde desenvolveu uma intensa atividade cultural voltada para o folclore e para a denúncia do racismo. Em 1955, viajou para a Europa com o TPB, onde deu espetáculos de canto e dança. Em 1958, editou Seis tempos de poesia; em 1961, Cantares ao meu povo (com uma reunião de poemas anteriores).
Solano Trindade faleceu no Rio de Janeiro, em 19 de fevereiro de 1974; sua obra, não! Continuará eternamente viva, como que escrita com brasas na pele escura de todo afro-descendente, mesmo que não queira, mesmo que não saiba.

André Rebouças
Nascido na Bahia, seguiu a carreira de engenheiro, tornando-se o responsável por importantes obras ferroviárias, portuárias e de saneamento em diversas províncias do Brasil. Foi militante do movimento abolicionista junto com José do Patrocínio, tendo fundado, com Joaquim Nabuco, o Centro Abolicionista da Escola Politécnica, onde era professor e jornalista. Amigo íntimo de Carlos Gomes, registrou em seus diários fatos importantes da carreira do maestro no Brasil e na Europa. Intercedeu diversas vezes junto ao Imperador Pedro II e a políticos brasileiros, solicitando ajuda financeira para encenações das óperas do maestro. Rebouças era presença constante na casa da família Gomes, em Milão, sendo padrinho de batismo de Carlos André. Defensor da Monarquia e leal a Pedro II, após a Proclamação da República, exilou-se em Funchal, na Ilha da Madeira, onde morreu em 1898.

José Correia Leite
Nascido em 23 de agosto de 1900, o fundador do jornal O Clarim da Alvorada, José Correia Leite, ergueu-se como um símbolo imperecível que prova, de forma eloqüente, a tenacidade e a natureza insubmissa dos afro-descendentes. Imaginem, os senhores, o que seria de penoso e desgastante fazer um jornal dedicado exclusivamente para negros pelos idos da década de 20; pois foi o que José Correia Leite e Jayme de Aguiar tiveram a audácia de fazer. José Correia Leite era um negro simples, dotado de uma argúcia, de uma capacidade de percepção da dura realidade que envolvia um descendente de escravo que pretendesse transpor a linha ou os limites da cor impostos a ele por uma sociedade branca, machista, escravagista e usurpadora. Poucos homens de sua estatura humilde, mas altiva — como ele mesmo dizia: “Eu sou um autodidata” —, podem estabelecer-se como uma luminosa referência no centro das dramáticas trepidações que fizeram com que a primeira, ou a Velha República, viesse a ruir inapelavelmente da forma que se deu de 1890 a 1930, como se verificou com a vida amarga, mas gloriosa, de José Correia Leite. (...) Como epicentro desses acontecimentos, nós podemos ter um corte amplo e profundo na carnadura da vida social, econômica, política e cultural de São Paulo, do Brasil e do mundo dos dias em que esse extraordinário personagem viveu, quando os episódios se projetaram em nossa etnia de modo quase cinematográfico. Portanto, ler o livro de José Correia Leite, tão bem escrito e interpretado pelo escritor, teatrólogo e ensaísta Cuti (Luiz Silva), intitulado... E Disse o Velho Militante José Correia Leite, é uma maneira deleitosa e instrutiva de se enriquecer de novos conhecimentos.
(Fonte: Quem é quem na negritude brasileira, Prof. Eduardo de Oliveira. Informações: www.luizcuti.silva.nom.br.)

Martin Luther King
Quando Martin Luther King foi atingido pela bala de um atirador solitário, em abril de 1968, muitas pessoas, em todo o mundo, choraram. O líder assassinado era um grande homem. Figura central da campanha pelos direitos civis do povo negro dos Estados Unidos, King sempre temeu, um dia, morrer pelas mãos dos brancos que se opunham a ele.
No sul dos Estados Unidos, os negros libertados da escravidão durante a Guerra Civil ainda não podiam freqüentar a mesma escola que os brancos, comer nos mesmos restaurantes e usar os mesmos banheiros. Os brancos queriam manter a situação como estava, mas Luther King decidira lutar para acabar com essa desigualdade. Tinha, porém, consciência de que o ódio não era a melhor resposta. Influenciado pelos escritos de Gandhi, King liderou seus seguidores na dramática campanha contra a violência. Aqueles que o apoiavam poderiam ser atacados e banidos das ruas. Poderiam ser presos e até mortos. Mesmo assim, King ensinava que não deveriam jamais enveredar pelos caminhos do ódio. Luther King morreu pelas suas idéias, mas, hoje, os negros norte-americanos podem caminhar com orgulho pelas ruas.

Milton Santos
Biografia incomum. Milton Santos nasceu em Brotas de Macaúbas, no interior da Bahia, em 1926. Os pais, professores primários, o alfabetizaram em casa. Aos 8 anos, já havia concluído o equivalente ao curso primário. Neto de escravos por parte de pai, foi incentivado a estudar sempre e muito. Dos 8 aos 10 anos, por exemplo, quando vivia em Alcobaça, aprendeu francês e boas maneiras, sempre em casa, enquanto aguardava o tempo para ingressar no ginasial. Os benefícios de sua aplicação nos estudos, o País nunca poderá negar, mas o geógrafo confessava uma frustração: embora Alcobaça seja um pedaço de terra entre o Oceano Atlântico e um rio, Milton, sempre às voltas com livros, nunca aprendeu a nadar. Da mesma forma, nunca participou das peladas e jamais entrou num estádio de futebol. Já em Salvador, custeava suas aulas no colégio, lecionando Geografia na própria escola aos alunos do que seria, atualmente, o Ensino Médio. Depois, incentivado por um tio advogado, cursou Direito. Diplomado, não chegou a exercer a profissão; prestou concurso público para professor secundário e foi lecionar Geografia em Ilhéus. Iniciou, então, carreira repleta de desafios, não raro impostos pela sua condição de negro. Rodou o mundo estudando e lecionando, numa trajetória impressionante. Aprendeu e ensinou na Europa, nas Américas e na África. Fez trabalhar em seu favor o doloroso exílio que a ditadura militar lhe impôs por treze anos.

Rainha Nzinga Mbandi
Nasceu no Ndongo Oriental (Angola atual), em 1582. Foi embaixatriz em Luanda, durante o reinado do seu irmão, e travou luta sem quartel durante trinta anos contra os portugueses, pela independência da sua gente e pela sobrevivência do seu reino.
Com a morte do irmão, tornou-se a rainha de Ndongo e, para enfrentar os portugueses, formou uma tríplice aliança com o rei do Congo e os holandeses.

Tendo um compromisso total com a libertação de Angola, Nzinga foi, durante toda a sua vida, a personalidade mais importante daquele país, sendo reverenciada como uma das inspirações do nacionalismo angolano atual, não só pela resistência aos invasores, mas também pela sua habilidade diplomática e sua altivez.
Um episódio revela bem essas qualidades: quando se apresentou como embaixatriz em Luanda, o governador a recebeu numa sala onde havia apenas uma cadeira e uma almofada. O governador lhe ofereceu a almofada, o que Nzinga recusou, por ofender a sua dignidade real, e sentou-se no corpo ajoelhado de um dos acompanhantes da sua corte, eliminando a posição de inferioridade que sutilmente lhe foi oferecida pelo governador. Em seguida, discutiu um acordo de respeito à soberania do seu reino, expressando-se na língua portuguesa com perfeição. O efeito dessas atitudes causou um impacto psicológico que a levou a conseguir uma vitória diplomática naquela ocasião.
Sempre foi muito respeitada pela estratégia que empregava e que se aproximava da moderna guerrilha. Essa tática de luta influenciou diretamente o quilombo dos Palmares, já que os negros palmarinos eram foragidos dos estados de Pernambuco e de Alagoas, região para onde foram trazidos os africanos de Angola.
Nzinga morreu em 1663, mas, no Nordeste brasileiro, sua imagem sobrevive no folclore negro, especialmente nos congos e nas congadas, onde ela é a Rainha Jinga (Ginga).

Alzira Rufino
Alzira Rufino nasceu em Santos (São Paulo, Brasil), em 06 de julho de 1949. De família negra e pobre, tendo trabalhado desde criança, aos 17 anos foi admitida em um hospital como auxiliar de cozinha. Ficou na função por dois anos, período em que ganhou seu primeiro prêmio literário. Aos 19 anos, iniciou os estudos na área da saúde. Dedicando-se seriamente, galgou os diferentes níveis de sua área de atuação, até graduar-se em Enfermagem.
Em março de 1985, organizou a primeira Semana da Mulher da Região da Baixada Santista, reunindo todas as organizações de mulheres. Em 1986, fundou o Coletivo de Mulheres Negras da Baixada Santista, um dos mais antigos grupos de mulheres negras do Brasil. Em 1990, fundou a Casa de Cultura da Mulher Negra (CCMN).
Alzira é ialorixá, poeta e presidente da Casa de Cultura da Mulher Negra e tem recebido inúmeras homenagens e distinções, dentre elas: do Conselho Nacional da Mulher Brasileira, da Câmara Municipal de Santos e da Câmara Municipal do Cubatão; indicada por organizações brasileiras para integrar a delegação não-governamental para a Conferência Mundial de Direitos Humanos, em Viena. Em 2005, foi uma das mil mulheres indicadas para o Prêmio Nobel da Paz 2005. Recebeu homenagem da Subcomissão do Advogado Negro (Subseção Santos/SP da Ordem dos Advogados do Brasil); foi homenageada, juntamente com a CCMN, pela Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, com o Prêmio Zumbi dos Palmares; recebeu o Troféu Anid (Ação Negra de Integração e Desenvolvimento), na cidade de Barueri/SP.
Desde 1992, a ativista é fellow da Ashoka, tendo coordenado a Rede Feminista Latino-americana e do Caribe contra a Violência Doméstica, Sexual e Racial, na sub-região Brasil (de 1995 a 1998). A Casa de Cultura da Mulher Negra (CCMN), presidida por Alzira, foi a primeira ONG brasileira a ser credenciada pela OEA (OAS), em 2001.

Tem publicado artigos em jornais e revistas brasileiras e do exterior. Ganhou diversos prêmios de poesia em nível local e nacional e tem publicações de poesia, ficção e ensaios.

Abdias do Nascimento
Abdias do Nascimento foi um dos fundadores da Frente Negra Brasileira (importante movimento iniciado em São Paulo), em 1931: criou o Teatro Experimental do Negro (TEN), em 1944; foi secretário de Defesa da Promoção das Populações Afro-brasileiras do Rio de Janeiro, deputado federal pelo mesmo estado em 1983 e senador da República em 1997.
É autor de vários livros: Sortilégio, Dramas para Negros e Prólogo para Brancos, O Negro Revoltado, entre outros.
É professor benemérito da Universidade do Estado de Nova York e doutor honoris causa pelo Estado do Rio de Janeiro.
Abdias do Nascimento é, sem dúvida, um fundamental militante no combate à discriminação racial no Brasil. Sua história confunde-se com as conquistas sociais dos negros nos últimos sessenta anos.
Abdias nasceu no interior de São Paulo, na cidade de Franca, em 14 de março de 1914. Filho de uma doceira e de um sapateiro, desde cedo aprendeu a lutar por seus ideais e objetivos. Foi protagonista de vários fatos históricos, como a criação do Movimento Negro Unificado, em São Paulo.

Malcom X
Malcom Little nasceu em 26 de maio de 1925, na pequena cidade de Lansing, perto do centro industrial de Detroit. Suas pregações, entrevistas e sua postura dinâmica o tornaram um líder e centro de atenções onde quer que discursasse.
Sua autobiografia começa com a descrição de uma noite em que sua mãe, ainda grávida dele, abre a porta da casa e vê homens da Ku Klux Klan brandindo rifles e gritando ameaças contra seu pai. O reverendo Earl Little era ministro batista e militante ativo da Universal Negro Improvement Association (Unia) — Associação Universal para Emancipação do Negro, de Marcus Gave. Outras cenas semelhantes voltariam a acontecer, e a família seria obrigada a mudar de cidade mais uma vez por causa da perseguição.
Na juventude, Malcom trocou o sul pelo leste dos Estados Unidos, indo primeiro morar com uma irmã em Boston e, depois, transferindo-se para Nova York, no Harlem, em cujas ruas ele faria seu curso de malandragem, envolvendo-se com a alta bandidagem e com jogos de azar, tornando-se traficante de drogas e ladrão, até ser preso em 1946, aos 20 anos de idade.

“O fato de ter uma namorada branca chamada Sophia é que foi o fator determinante para minha prisão”, explica Malcom em sua biografia. Foi na prisão que a vida de Malcom Little começaria a mudar. Ali ele se dedicou a intensas leituras até tomar contato e aderir, através de sua própria família, à nação perdida e encontrada do Islã, nome do grupo conhecido como Muçulmanos Negros. A partir do ingresso no Islã é que ele abandonaria o sobrenome Little, passando a se chamar Malcom X. Aliás, sobre essa questão dos sobrenomes, é preciso explicar que os muçulmanos da nação Islã repudiam a palavra negro, que, para eles, é vinculada à escravidão.
É o próprio Malcom quem explica: “Para mim, o X substituía o nome de senhor de escravo branco “Little”, que algum demônio de olhos azuis impusera aos meus pais”. Assim como Malcom Little se tornou Malcom X, havia um Luis X no templo de Boston ou um Wilfred X em Detroit e um Lucius X em Washington.
A brilhante trajetória de Malcom, seu brilhante carisma pessoal, sua dedicação à causa da nação logo iriam levá-lo a uma posição de destaque dentro da nação Islã e fora dela também.
Malcom, quando esteve vinculado à nação, opunha-se à não-violência pregada por Martin Luther King e a todas as propostas de integração à sociedade branca. Para ele — Malcom —, o homem branco era o diabo e não havia a mínima possibilidade de negociar com o demônio.
Em 1954, Malcom voltou para o Harlem e fundou o templo número sete, onde também encontrou a sua esposa, “irmã” Betty.
Nos cincos anos que se seguiram, os Muçulmanos Negros se tornaram notícia nos principais jornais e revistas americanas. A ascensão de Malcom X e o afastamento cada vez maior por parte do líder Elijah Muhammad acabaram resultando num conflito. O velho líder estava esperando um motivo para destruir Malcom X e toda a influência que tinha conquistado junto à comunidade Islã.
Mas o assassinato de John F. Kennedy, em novembro de 1963, iria selar o destino dos dois principais líderes da nação Islã. Logo depois do assassinato, Muhammad determinou que os ministros não deviam fazer qualquer comentário sobre o assunto. Mas, perguntado a respeito, Malcom acabou respondendo que “era um caso típico do tiro que saiu pela culatra”, explicando que o ódio dos homens brancos não se havia detido com a morte de pretos indefesos. Esse ódio, que haviam permitido que se espalhasse sem qualquer controle, acabaria por atingir o próprio chefe de Estado desse país.
A declaração repercutiu intensamente, e Malcom foi proibido por Elijah de falar, acelerando o processo que levaria Malcom a se desligar da nação do Islã e, possivelmente, ao seu assassinato.
Daí para frente, os confrontos entre Malcom X e Elijah Muhammad tornaram-se constantes e cada vez mais evidentes, e a separação era inevitável.
Quando retornou de sua peregrinação a Meca, ele declarou estar na corda bamba, pois era diferente demais para os muçulmanos; demasiadamente religioso para outros grupos; moderado demais para os militares; demasiadamente militante para os moderados. Perto do fim da vida, declarou a um amigo: “Irmão, você sabe que alguns dos maiores líderes da história nunca foram reconhecidos enquanto não estavam seguramente enterrados?”.
Malcom X morreu aos 39 anos, no dia 21 de fevereiro de 1965. Um tiro de revolver pôs fim à vida do ex-condenado que se redimiu através da disciplina, do autodidatismo e do exame penetrante de si mesmo. Suas últimas palavras, segundo os registros, foram: “Paz. Vamos manter a calma, irmãos”.
Como ele mesmo havia anunciado, não viu sua biografia chegar às livrarias. Alex Haley, com seu talento, transformou a história do líder no livro Malcom X. Spike Lee transformou o livro em filme.
Atualmente os jovens têm Malcom X como orgulho e referência política por ter mostrado ao mundo o seu orgulho de ser negro.
Hoje, nas comunidades negras, a história de sua vida é mostrada como exemplo para os jovens. E seu legado político, a idéia de que não pode haver unidade entre brancos e pretos antes de os pretos terem se unido, continua vivo.

Luiza Mahin
A descrição de Luiza Mahin é escassa, despertando, assim, a curiosidade dessa africana de etnia mina-jeje que participou de uma das maiores rebeliões negras e muçulmanas — a Revolta dos Malês, em 1835.
Sobre o ano de nascimento de Luiza Mahin, não dá para definir. Ela teria vindo para o Brasil embarcada no Forte de El-Mina, ou São Jorge da Mina, localizado no antigo reino de Daomé. Os escravizados enviados para lá eram, em geral, prisioneiros de guerra ou capturados na região de Biad-Es-Sudan — em grande maioria praticantes do islamismo.
Outro dado interessante é que o Mahin do sobrenome dela, na verdade, é referente à sua descendência da etnia mahi — povo ioruba, também de Daomé. E outra informação não confirmada é que ela poderia ser uma princesa, por isso o grau de formação política que tinha.
A descrição física de Luiza Mahin é comum em qualquer fonte de informação: negra, baixa, magra e bonita; de personalidade forte, solidária, mas um tanto sofrida. Profissionalmente, era vendedora de quitutes e teria obtido a liberdade em 1812. Essa data é colocada como referência de seu nascimento, mas sem documentos oficiais para confirmação.
Religiosamente, Luiza era muçulmana, negando-se sistematicamente a ser submetida aos ritos católicos. Era letrada em árabe e lia o Alcorão, sendo, inclusive, responsável pela disseminação das palavras do profeta Maomé entre os negros não convertidos.
Unida com um grupo de mais de 600 pessoas, participou da organização da frustrada Revolta dos Malês, de 1835. Na madrugada do dia 25 de janeiro, após meses de arregimentação e planejamento, pretendiam instalar em Salvador um governo teocrático inspirado no Islã. O evento tinha motivação nas jihads — guerras santas —, que, simultaneamente, na África, visavam a destituição de governantes coniventes com a escravidão e, do ponto de vista islâmico, de infiéis.
A estratégia ruiu como um castelo de cartas, ao ser delatado ou relatado por Guilhermina, outra personagem polêmica: há quem diga que ela fez isso sob tortura; outros, que ela teria procurado o marido, que, sendo um dos participantes da organização, ausentava-se sempre à noite, despertando seu ciúme; e outros ainda dizem que ela teria procurado o juiz de paz de Salvador — pois devia favores a ele — e, de posse da informação, foi retribuir. E uma nova versão responsabiliza um marceneiro afro-brasileiro de ter denunciado o grupo.
Enfim, os historiadores são unânimes em dizer que a Revolta dos Malês seria fatalmente derrotada, pois não contava com o apoio de toda a população negra, já que os organizadores buscaram apenas os convertidos ao Islã e determinadas etnias africanas. Os excluídos, temerosos de um governo negro, mas islâmico, imaginaram que seriam inclusive perseguidos pelos vitoriosos pela adesão ao catolicismo ou às religiões de matriz africana.
O certo é que Luiza Mahin foi surpreendida com seu grupo pela força policial, e, obrigados a se lançarem em combate sem o elemento-surpresa, foram derrotados. Ela e outras lideranças conseguiram escapar da perseguição, e Luiza partiu para o Rio de Janeiro, deixando Luis Gama, com apenas 5 anos, aos cuidados de seu pai verdadeiro.
O destino de Luiza Mahin é apenas sugerido. Há rumores de que tenha participado de outros movimentos de insurreição na capital do Império e que, dessa vez capturada, foi detida e deportada para a África. O próprio Luis Gama tentou por toda a vida ter informações do destino de sua mãe, mas sem sucesso.


PERSONAGENS HISTÓRICOS DA RESISTÊNCIA NEGRA

Dandara
Dandara foi uma das lideranças femininas negras que lutaram, junto com Zumbi dos Palmares, contra o sistema escravocrata do século XVII. Não há registro do local de seu nascimento, tampouco de sua ascendência africana. Relatos nos levam a crer que nasceu no Brasil e estabeleceu-se no Quilombo dos Palmares ainda menina.
Quando os primeiros negros se rebelaram contra a escravidão no Brasil e formaram o Quilombo dos Palmares, na Serra da Barriga, em Alagoas, Dandara estava junto com Ganga-Zumba. Participou de todos os ataques e defesas da resistência palmarina. Na condição de líder, Dandara chegou a questionar os termos do tratado de paz assinado por Ganga-Zumba e pelo governo português. Posicionando-se contra o tratado, opôs-se a Ganga-Zumba, ao lado de Zumbi.

Sempre perseguindo o ideal de liberdade, Dandara não tinha limites quando estavam em jogo a segurança de Palmares e a eliminação do inimigo. Chegando perto da cidade do Recife, depois de vencer várias batalhas, Dandara pediu a Zumbi que tomasse a cidade. Sua posição era compartilhada por outras lideranças palmarinas. Para Dandara, a paz em troca de terras no Vale do Cacau era a destruição da República de Palmares e a volta à escravidão. Dandara foi morta, com outros palmarinos, em 6 de fevereiro de 1694, após a destruição da Cerca Real dos Macacos, que fazia parte do Quilombo dos Palmares.

Aleijadinho, artista insuperável
Da união de um arquiteto português, Manoel Francisco Lisboa, e de sua escrava africana Izabel, nasceu, na cidade de Vila Rica, por volta de 1730, Antônio Francisco Lisboa — o Aleijadinho. Considerado filho bastardo, foi alforriado pelo pai no dia em que nasceu.
Como sempre acompanhava o pai e o tio, Antônio Francisco Lisboa, aprendeu, observando-os trabalhar, a desenhar, projetar e esculpir. Logo se tornou ajudante deles e, aos 13 anos, fez seu primeiro projeto, o desenho de um chafariz para o pátio do palácio do governador. A sua primeira encomenda remunerada foi a de esculpir quatro anjos para o andor de São Francisco de Borja, padroeiro de Portugal.

Considerado o marco da arquitetura mineira no século XVIII, pode-se dizer que Aleijadinho dividiu a história do Barroco brasileiro em antes e depois dele. Porém, só teve o seu nome reconhecido depois que o jurista Rodrigo José Ferreira Bretãs resgatou parte de sua biografia, com a ajuda da nora do artista, Joana Lopes, no livro Traços Biográf icos Relativos ao Finado Antônio Francisco Lisboa, de 1858.
Em vez do mármore europeu, esculpia em pedra-sabão. Com a pedra-sabão, foi possível para o escultor desenvolver a complexidade e a delicadeza dos relevos de suas obras; através dela, ele conseguiu transmitir a descontração, a dor, a austeridade e a maldade do ser humano.
Passando um pouco dos 50 anos de idade, já havia sido acometido por uma doença que deformou completamente o escultor, o mais famoso e expressivo do Barroco brasileiro, e que lhe deu o apelido de Aleijadinho.
Esse grandioso artista nos deixa como legado maior o exemplo de que, para um homem com determinação, vontade e um grande espírito de luta, não existem obstáculos.

Antônio Francisco Lisboa faleceu pobre, em novembro de 1814, mas faz-se vivo até os nossos dias através de suas obras, que, testemunhando o passado, enriquecem o presente e acolhem o futuro.

Nelson Mandela
Depois de ter passado 28 anos na prisão e de se tornar um dos presos políticos mais famosos do mundo, Nelson Mandela elegeu-se, em 1994, o primeiro presidente negro da África do Sul, o que representou o fim definitivo do regime do apartheid no país.
Nelson Rolihlahla Mandela nasceu em Umtata, Transkei, em 18 de julho de 1918. Filho do chefe da casa real do Transkei (tribo Tembu), estudou nas universidades de Fort Hare e Witwatersrand. Formou-se em Letras e Direito em 1942. Dois anos depois, ingressou no Congresso Nacional Africano e passou a combater a política racista do apartheid. Julgado por traição de 1956 a 1961, foi absolvido. No ano seguinte, contudo, voltou a ser preso e foi condenado a cinco anos de prisão.
Ainda no cárcere, Mandela foi acusado de subversão, com vários outros acusados, depois que a polícia encontrou, no bairro de Rivonia, em Johannesburg, grande quantidade de armas e equipamentos na sede da ala militar do Congresso Nacional africano. Em junho de 1964, foi condenado à prisão perpétua. Em 1979, Mandela recebeu o Prêmio Jawaharlal Nehru e publicou I Am Prepared to Die (Estou Disposto a Morrer). Onze anos depois, teve sua pena revogada, como conseqüência do plano de abertura política do governo sul-africano, que, pressionado pela opinião pública internacional, aboliu oficialmente o apartheid. O movimento de democratização culminou com a eleição de Mandela para a Presidência da África do Sul, em abril de 1994.

Lélia Gonzalez
Lélia Gonzalez viveu intensamente a história política e cultural brasileira. Mineira de nascimento, filha de um ferroviário negro e mãe de origem indígena, empregada doméstica e penúltima de dezoito irmãos, migrou em 1942 para o Rio de Janeiro. Sua trajetória guarda pouca semelhança com a maioria da população negra, pois ascende na década de 70, no Rio de Janeiro, ainda um período de forte repressão dos governos militares. Pioneira nos cursos sobre Cultura Negra, entre os quais se destaca o 1º Curso de Cultura Negra na Escola de Artes Visuais no Parque Lage. Essa escola foi também lugar de expressão de vários artistas e de intelectuais negros. Fez inúmeras viagens pelo Brasil e ao exterior (EUA, países da África, da América Central, do Caribe e da Europa), buscando denunciar o mito da democracia racial brasileira e o regime de exceção em que o Brasil vivia. Sua meta era, enquanto intelectual e ativista, oferecer instrumentos práticos e teóricos de desmonte das opressões vividas pela maioria da população brasileira.

Cuti
Cuti é pseudônimo de Luiz Silva — poeta, ensaísta e escritor negro. Nasceu em Ourinhos, interior de São Paulo, em 31 de outubro de 1951. É um dos mais engajados militantes da literatura afro-brasileira. Formou-se em Letras (Português–Francês) pela Universidade de São Paulo em 1980 e pós-graduou-se em Teoria da Literatura no Instituto de Estudos da Linguagem (Unicamp). Autor de livros como Poemas da Carapinha e Batuque de Tocaia (edição do autor), foi um dos fundadores e membro do Quilombhoje Literatura — grupo paulistano de escritores surgido em 1980 e dedicado a discutir e aprofundar a experiência afro-brasileira na literatura — e um dos criadores e mantenedores da série Cadernos Negros, “nascida no bojo de um incipiente movimento que pretendia dar continuidade à histórica epopéia de uma imprensa negra”.
“Democracia racial é uma camisa de força da literatura negra.” O poeta e militante negro Luiz Silva, o Cuti, diz que a falsa idéia da boa convivência faz parte da ideologia racista.

Luiz Gama
Luiz Gonzaga Pinto da Gama (Salvador/BA, 1830 – São Paulo/SP, 1882) era filho de escravos e foi vendido pelo pai, em 1840, por causa de uma dívida de jogo. Comprado em leilão pelo alferes Antonio Pereira Cardoso, passou a viver em cativeiro em Lorena/SP. Em 1847, foi alfabetizado por Antonio Rodrigues do Prado Júnior, hóspede de Antonio Pereira Cardoso. No ano seguinte, fugiu da fazenda e foi para São Paulo/SP. Lá, casou-se, por volta de 1850, e freqüentou o curso de Direito como ouvinte, mas não chegou a completá-lo. Em 1864, fundou o jornal Diabo Coxo, do qual foi redator. O periódico era ilustrado pelo italiano Angelo Agostini, considerado marco da imprensa humorística de São Paulo. Entre 1864 e 1875, colaborou nos jornais Ipiranga, Cabrião, Coroaci e O Polichileno. Fundou, em 1869, o jornal Radical Paulistano, com Rui Barbosa. Sempre utilizou seu trabalho na imprensa para a divulgação de suas idéias antiescravistas e republicanas. Em 1873, foi um dos fundadores do Partido Republicano Paulista, em Itu/SP. Nos anos seguintes, teve intensa participação em sociedades emancipadoras, na organização de sociedades secretas para fugas e ajuda financeira a negros, além do auxílio na libertação, nos tribunais, de mais de 500 escravos foragidos. Por volta de 1880, foi líder da Mocidade Abolicionista e Republicana.

Solano Trindade
De todos os escritores negros ligados à coletividade negra brasileira, o que deixou presença mais forte foi Solano Trindade. Foi o primeiro, naquele tempo, a escrever com especificidade, para negros.
Solano Trindade era poeta, pintor, teatrólogo, ator e folclorista. Nasceu no dia 24 de julho de 1908, no bairro de São José, no Recife, capital de Pernambuco. Era filho de Manuel Abílio, mestiço, sapateiro, e da quituteira Merença (Emerenciana). Estudou até completar um ano de desenho no Liceu de Artes e Ofícios. A partir de então, começou a escrever. Solano Trindade foi o poeta da resistência negra por excelência.

Em 1940, transferiu-se para Belo Horizonte. Depois, chegou ao Rio Grande do Sul, fixando-se por um tempo em Pelotas, onde fundou, com o poeta Balduíno de Oliveira, um grupo de arte popular. Essa foi sua primeira tentativa de criar um teatro do povo, o que não se concretizou devido à enchente de 1941, que carregou todo o material. Voltou então para o Recife, indo logo depois para o Rio, onde, no “Café Vermelhinho”, detinha-se a discutir e a conversar com jovens poetas e intelectuais, artistas de teatro, políticos e jornalistas. Ali fez sucesso.
Em 1944, editou o livro Poemas de uma vida simples, no qual se encontra o seu declamadíssimo Trem sujo da Leopoldina. Em 1945, fundou o Comitê Democrático Afro-brasileiro, com Raimundo Souza Dantas, Aladir Custódio e Corsino de Brito.
Em 1954, esteve em São Paulo, criando, na cidade de Embu, um pólo de cultura e tradições afro-americanas. Em São Paulo, também fundou o Teatro Popular Brasileiro (TPB), onde desenvolveu uma intensa atividade cultural voltada para o folclore e para a denúncia do racismo. Em 1955, viajou para a Europa com o TPB, onde deu espetáculos de canto e dança. Em 1958, editou Seis tempos de poesia; em 1961, Cantares ao meu povo (com uma reunião de poemas anteriores).
Solano Trindade faleceu no Rio de Janeiro, em 19 de fevereiro de 1974; sua obra, não! Continuará eternamente viva, como que escrita com brasas na pele escura de todo afro-descendente, mesmo que não queira, mesmo que não saiba.

André Rebouças
Nascido na Bahia, seguiu a carreira de engenheiro, tornando-se o responsável por importantes obras ferroviárias, portuárias e de saneamento em diversas províncias do Brasil. Foi militante do movimento abolicionista junto com José do Patrocínio, tendo fundado, com Joaquim Nabuco, o Centro Abolicionista da Escola Politécnica, onde era professor e jornalista. Amigo íntimo de Carlos Gomes, registrou em seus diários fatos importantes da carreira do maestro no Brasil e na Europa. Intercedeu diversas vezes junto ao Imperador Pedro II e a políticos brasileiros, solicitando ajuda financeira para encenações das óperas do maestro. Rebouças era presença constante na casa da família Gomes, em Milão, sendo padrinho de batismo de Carlos André. Defensor da Monarquia e leal a Pedro II, após a Proclamação da República, exilou-se em Funchal, na Ilha da Madeira, onde morreu em 1898.

José Correia Leite
Nascido em 23 de agosto de 1900, o fundador do jornal O Clarim da Alvorada, José Correia Leite, ergueu-se como um símbolo imperecível que prova, de forma eloqüente, a tenacidade e a natureza insubmissa dos afro-descendentes. Imaginem, os senhores, o que seria de penoso e desgastante fazer um jornal dedicado exclusivamente para negros pelos idos da década de 20; pois foi o que José Correia Leite e Jayme de Aguiar tiveram a audácia de fazer. José Correia Leite era um negro simples, dotado de uma argúcia, de uma capacidade de percepção da dura realidade que envolvia um descendente de escravo que pretendesse transpor a linha ou os limites da cor impostos a ele por uma sociedade branca, machista, escravagista e usurpadora. Poucos homens de sua estatura humilde, mas altiva — como ele mesmo dizia: “Eu sou um autodidata” —, podem estabelecer-se como uma luminosa referência no centro das dramáticas trepidações que fizeram com que a primeira, ou a Velha República, viesse a ruir inapelavelmente da forma que se deu de 1890 a 1930, como se verificou com a vida amarga, mas gloriosa, de José Correia Leite. (...) Como epicentro desses acontecimentos, nós podemos ter um corte amplo e profundo na carnadura da vida social, econômica, política e cultural de São Paulo, do Brasil e do mundo dos dias em que esse extraordinário personagem viveu, quando os episódios se projetaram em nossa etnia de modo quase cinematográfico. Portanto, ler o livro de José Correia Leite, tão bem escrito e interpretado pelo escritor, teatrólogo e ensaísta Cuti (Luiz Silva), intitulado... E Disse o Velho Militante José Correia Leite, é uma maneira deleitosa e instrutiva de se enriquecer de novos conhecimentos.
(Fonte: Quem é quem na negritude brasileira, Prof. Eduardo de Oliveira. Informações: www.luizcuti.silva.nom.br.)

Martin Luther King
Quando Martin Luther King foi atingido pela bala de um atirador solitário, em abril de 1968, muitas pessoas, em todo o mundo, choraram. O líder assassinado era um grande homem. Figura central da campanha pelos direitos civis do povo negro dos Estados Unidos, King sempre temeu, um dia, morrer pelas mãos dos brancos que se opunham a ele.
No sul dos Estados Unidos, os negros libertados da escravidão durante a Guerra Civil ainda não podiam freqüentar a mesma escola que os brancos, comer nos mesmos restaurantes e usar os mesmos banheiros. Os brancos queriam manter a situação como estava, mas Luther King decidira lutar para acabar com essa desigualdade. Tinha, porém, consciência de que o ódio não era a melhor resposta. Influenciado pelos escritos de Gandhi, King liderou seus seguidores na dramática campanha contra a violência. Aqueles que o apoiavam poderiam ser atacados e banidos das ruas. Poderiam ser presos e até mortos. Mesmo assim, King ensinava que não deveriam jamais enveredar pelos caminhos do ódio. Luther King morreu pelas suas idéias, mas, hoje, os negros norte-americanos podem caminhar com orgulho pelas ruas.

Milton Santos
Biografia incomum. Milton Santos nasceu em Brotas de Macaúbas, no interior da Bahia, em 1926. Os pais, professores primários, o alfabetizaram em casa. Aos 8 anos, já havia concluído o equivalente ao curso primário. Neto de escravos por parte de pai, foi incentivado a estudar sempre e muito. Dos 8 aos 10 anos, por exemplo, quando vivia em Alcobaça, aprendeu francês e boas maneiras, sempre em casa, enquanto aguardava o tempo para ingressar no ginasial. Os benefícios de sua aplicação nos estudos, o País nunca poderá negar, mas o geógrafo confessava uma frustração: embora Alcobaça seja um pedaço de terra entre o Oceano Atlântico e um rio, Milton, sempre às voltas com livros, nunca aprendeu a nadar. Da mesma forma, nunca participou das peladas e jamais entrou num estádio de futebol. Já em Salvador, custeava suas aulas no colégio, lecionando Geografia na própria escola aos alunos do que seria, atualmente, o Ensino Médio. Depois, incentivado por um tio advogado, cursou Direito. Diplomado, não chegou a exercer a profissão; prestou concurso público para professor secundário e foi lecionar Geografia em Ilhéus. Iniciou, então, carreira repleta de desafios, não raro impostos pela sua condição de negro. Rodou o mundo estudando e lecionando, numa trajetória impressionante. Aprendeu e ensinou na Europa, nas Américas e na África. Fez trabalhar em seu favor o doloroso exílio que a ditadura militar lhe impôs por treze anos.

Rainha Nzinga Mbandi
Nasceu no Ndongo Oriental (Angola atual), em 1582. Foi embaixatriz em Luanda, durante o reinado do seu irmão, e travou luta sem quartel durante trinta anos contra os portugueses, pela independência da sua gente e pela sobrevivência do seu reino.
Com a morte do irmão, tornou-se a rainha de Ndongo e, para enfrentar os portugueses, formou uma tríplice aliança com o rei do Congo e os holandeses.

Tendo um compromisso total com a libertação de Angola, Nzinga foi, durante toda a sua vida, a personalidade mais importante daquele país, sendo reverenciada como uma das inspirações do nacionalismo angolano atual, não só pela resistência aos invasores, mas também pela sua habilidade diplomática e sua altivez.
Um episódio revela bem essas qualidades: quando se apresentou como embaixatriz em Luanda, o governador a recebeu numa sala onde havia apenas uma cadeira e uma almofada. O governador lhe ofereceu a almofada, o que Nzinga recusou, por ofender a sua dignidade real, e sentou-se no corpo ajoelhado de um dos acompanhantes da sua corte, eliminando a posição de inferioridade que sutilmente lhe foi oferecida pelo governador. Em seguida, discutiu um acordo de respeito à soberania do seu reino, expressando-se na língua portuguesa com perfeição. O efeito dessas atitudes causou um impacto psicológico que a levou a conseguir uma vitória diplomática naquela ocasião.
Sempre foi muito respeitada pela estratégia que empregava e que se aproximava da moderna guerrilha. Essa tática de luta influenciou diretamente o quilombo dos Palmares, já que os negros palmarinos eram foragidos dos estados de Pernambuco e de Alagoas, região para onde foram trazidos os africanos de Angola.
Nzinga morreu em 1663, mas, no Nordeste brasileiro, sua imagem sobrevive no folclore negro, especialmente nos congos e nas congadas, onde ela é a Rainha Jinga (Ginga).

Alzira Rufino
Alzira Rufino nasceu em Santos (São Paulo, Brasil), em 06 de julho de 1949. De família negra e pobre, tendo trabalhado desde criança, aos 17 anos foi admitida em um hospital como auxiliar de cozinha. Ficou na função por dois anos, período em que ganhou seu primeiro prêmio literário. Aos 19 anos, iniciou os estudos na área da saúde. Dedicando-se seriamente, galgou os diferentes níveis de sua área de atuação, até graduar-se em Enfermagem.
Em março de 1985, organizou a primeira Semana da Mulher da Região da Baixada Santista, reunindo todas as organizações de mulheres. Em 1986, fundou o Coletivo de Mulheres Negras da Baixada Santista, um dos mais antigos grupos de mulheres negras do Brasil. Em 1990, fundou a Casa de Cultura da Mulher Negra (CCMN).
Alzira é ialorixá, poeta e presidente da Casa de Cultura da Mulher Negra e tem recebido inúmeras homenagens e distinções, dentre elas: do Conselho Nacional da Mulher Brasileira, da Câmara Municipal de Santos e da Câmara Municipal do Cubatão; indicada por organizações brasileiras para integrar a delegação não-governamental para a Conferência Mundial de Direitos Humanos, em Viena. Em 2005, foi uma das mil mulheres indicadas para o Prêmio Nobel da Paz 2005. Recebeu homenagem da Subcomissão do Advogado Negro (Subseção Santos/SP da Ordem dos Advogados do Brasil); foi homenageada, juntamente com a CCMN, pela Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, com o Prêmio Zumbi dos Palmares; recebeu o Troféu Anid (Ação Negra de Integração e Desenvolvimento), na cidade de Barueri/SP.
Desde 1992, a ativista é fellow da Ashoka, tendo coordenado a Rede Feminista Latino-americana e do Caribe contra a Violência Doméstica, Sexual e Racial, na sub-região Brasil (de 1995 a 1998). A Casa de Cultura da Mulher Negra (CCMN), presidida por Alzira, foi a primeira ONG brasileira a ser credenciada pela OEA (OAS), em 2001.

Tem publicado artigos em jornais e revistas brasileiras e do exterior. Ganhou diversos prêmios de poesia em nível local e nacional e tem publicações de poesia, ficção e ensaios.

Abdias do Nascimento
Abdias do Nascimento foi um dos fundadores da Frente Negra Brasileira (importante movimento iniciado em São Paulo), em 1931: criou o Teatro Experimental do Negro (TEN), em 1944; foi secretário de Defesa da Promoção das Populações Afro-brasileiras do Rio de Janeiro, deputado federal pelo mesmo estado em 1983 e senador da República em 1997.
É autor de vários livros: Sortilégio, Dramas para Negros e Prólogo para Brancos, O Negro Revoltado, entre outros.
É professor benemérito da Universidade do Estado de Nova York e doutor honoris causa pelo Estado do Rio de Janeiro.
Abdias do Nascimento é, sem dúvida, um fundamental militante no combate à discriminação racial no Brasil. Sua história confunde-se com as conquistas sociais dos negros nos últimos sessenta anos.
Abdias nasceu no interior de São Paulo, na cidade de Franca, em 14 de março de 1914. Filho de uma doceira e de um sapateiro, desde cedo aprendeu a lutar por seus ideais e objetivos. Foi protagonista de vários fatos históricos, como a criação do Movimento Negro Unificado, em São Paulo.

Malcom X
Malcom Little nasceu em 26 de maio de 1925, na pequena cidade de Lansing, perto do centro industrial de Detroit. Suas pregações, entrevistas e sua postura dinâmica o tornaram um líder e centro de atenções onde quer que discursasse.
Sua autobiografia começa com a descrição de uma noite em que sua mãe, ainda grávida dele, abre a porta da casa e vê homens da Ku Klux Klan brandindo rifles e gritando ameaças contra seu pai. O reverendo Earl Little era ministro batista e militante ativo da Universal Negro Improvement Association (Unia) — Associação Universal para Emancipação do Negro, de Marcus Gave. Outras cenas semelhantes voltariam a acontecer, e a família seria obrigada a mudar de cidade mais uma vez por causa da perseguição.
Na juventude, Malcom trocou o sul pelo leste dos Estados Unidos, indo primeiro morar com uma irmã em Boston e, depois, transferindo-se para Nova York, no Harlem, em cujas ruas ele faria seu curso de malandragem, envolvendo-se com a alta bandidagem e com jogos de azar, tornando-se traficante de drogas e ladrão, até ser preso em 1946, aos 20 anos de idade.

“O fato de ter uma namorada branca chamada Sophia é que foi o fator determinante para minha prisão”, explica Malcom em sua biografia. Foi na prisão que a vida de Malcom Little começaria a mudar. Ali ele se dedicou a intensas leituras até tomar contato e aderir, através de sua própria família, à nação perdida e encontrada do Islã, nome do grupo conhecido como Muçulmanos Negros. A partir do ingresso no Islã é que ele abandonaria o sobrenome Little, passando a se chamar Malcom X. Aliás, sobre essa questão dos sobrenomes, é preciso explicar que os muçulmanos da nação Islã repudiam a palavra negro, que, para eles, é vinculada à escravidão.
É o próprio Malcom quem explica: “Para mim, o X substituía o nome de senhor de escravo branco “Little”, que algum demônio de olhos azuis impusera aos meus pais”. Assim como Malcom Little se tornou Malcom X, havia um Luis X no templo de Boston ou um Wilfred X em Detroit e um Lucius X em Washington.
A brilhante trajetória de Malcom, seu brilhante carisma pessoal, sua dedicação à causa da nação logo iriam levá-lo a uma posição de destaque dentro da nação Islã e fora dela também.
Malcom, quando esteve vinculado à nação, opunha-se à não-violência pregada por Martin Luther King e a todas as propostas de integração à sociedade branca. Para ele — Malcom —, o homem branco era o diabo e não havia a mínima possibilidade de negociar com o demônio.
Em 1954, Malcom voltou para o Harlem e fundou o templo número sete, onde também encontrou a sua esposa, “irmã” Betty.
Nos cincos anos que se seguiram, os Muçulmanos Negros se tornaram notícia nos principais jornais e revistas americanas. A ascensão de Malcom X e o afastamento cada vez maior por parte do líder Elijah Muhammad acabaram resultando num conflito. O velho líder estava esperando um motivo para destruir Malcom X e toda a influência que tinha conquistado junto à comunidade Islã.
Mas o assassinato de John F. Kennedy, em novembro de 1963, iria selar o destino dos dois principais líderes da nação Islã. Logo depois do assassinato, Muhammad determinou que os ministros não deviam fazer qualquer comentário sobre o assunto. Mas, perguntado a respeito, Malcom acabou respondendo que “era um caso típico do tiro que saiu pela culatra”, explicando que o ódio dos homens brancos não se havia detido com a morte de pretos indefesos. Esse ódio, que haviam permitido que se espalhasse sem qualquer controle, acabaria por atingir o próprio chefe de Estado desse país.
A declaração repercutiu intensamente, e Malcom foi proibido por Elijah de falar, acelerando o processo que levaria Malcom a se desligar da nação do Islã e, possivelmente, ao seu assassinato.
Daí para frente, os confrontos entre Malcom X e Elijah Muhammad tornaram-se constantes e cada vez mais evidentes, e a separação era inevitável.
Quando retornou de sua peregrinação a Meca, ele declarou estar na corda bamba, pois era diferente demais para os muçulmanos; demasiadamente religioso para outros grupos; moderado demais para os militares; demasiadamente militante para os moderados. Perto do fim da vida, declarou a um amigo: “Irmão, você sabe que alguns dos maiores líderes da história nunca foram reconhecidos enquanto não estavam seguramente enterrados?”.
Malcom X morreu aos 39 anos, no dia 21 de fevereiro de 1965. Um tiro de revolver pôs fim à vida do ex-condenado que se redimiu através da disciplina, do autodidatismo e do exame penetrante de si mesmo. Suas últimas palavras, segundo os registros, foram: “Paz. Vamos manter a calma, irmãos”.
Como ele mesmo havia anunciado, não viu sua biografia chegar às livrarias. Alex Haley, com seu talento, transformou a história do líder no livro Malcom X. Spike Lee transformou o livro em filme.
Atualmente os jovens têm Malcom X como orgulho e referência política por ter mostrado ao mundo o seu orgulho de ser negro.
Hoje, nas comunidades negras, a história de sua vida é mostrada como exemplo para os jovens. E seu legado político, a idéia de que não pode haver unidade entre brancos e pretos antes de os pretos terem se unido, continua vivo.

Luiza Mahin
A descrição de Luiza Mahin é escassa, despertando, assim, a curiosidade dessa africana de etnia mina-jeje que participou de uma das maiores rebeliões negras e muçulmanas — a Revolta dos Malês, em 1835.
Sobre o ano de nascimento de Luiza Mahin, não dá para definir. Ela teria vindo para o Brasil embarcada no Forte de El-Mina, ou São Jorge da Mina, localizado no antigo reino de Daomé. Os escravizados enviados para lá eram, em geral, prisioneiros de guerra ou capturados na região de Biad-Es-Sudan — em grande maioria praticantes do islamismo.
Outro dado interessante é que o Mahin do sobrenome dela, na verdade, é referente à sua descendência da etnia mahi — povo ioruba, também de Daomé. E outra informação não confirmada é que ela poderia ser uma princesa, por isso o grau de formação política que tinha.
A descrição física de Luiza Mahin é comum em qualquer fonte de informação: negra, baixa, magra e bonita; de personalidade forte, solidária, mas um tanto sofrida. Profissionalmente, era vendedora de quitutes e teria obtido a liberdade em 1812. Essa data é colocada como referência de seu nascimento, mas sem documentos oficiais para confirmação.
Religiosamente, Luiza era muçulmana, negando-se sistematicamente a ser submetida aos ritos católicos. Era letrada em árabe e lia o Alcorão, sendo, inclusive, responsável pela disseminação das palavras do profeta Maomé entre os negros não convertidos.
Unida com um grupo de mais de 600 pessoas, participou da organização da frustrada Revolta dos Malês, de 1835. Na madrugada do dia 25 de janeiro, após meses de arregimentação e planejamento, pretendiam instalar em Salvador um governo teocrático inspirado no Islã. O evento tinha motivação nas jihads — guerras santas —, que, simultaneamente, na África, visavam a destituição de governantes coniventes com a escravidão e, do ponto de vista islâmico, de infiéis.
A estratégia ruiu como um castelo de cartas, ao ser delatado ou relatado por Guilhermina, outra personagem polêmica: há quem diga que ela fez isso sob tortura; outros, que ela teria procurado o marido, que, sendo um dos participantes da organização, ausentava-se sempre à noite, despertando seu ciúme; e outros ainda dizem que ela teria procurado o juiz de paz de Salvador — pois devia favores a ele — e, de posse da informação, foi retribuir. E uma nova versão responsabiliza um marceneiro afro-brasileiro de ter denunciado o grupo.
Enfim, os historiadores são unânimes em dizer que a Revolta dos Malês seria fatalmente derrotada, pois não contava com o apoio de toda a população negra, já que os organizadores buscaram apenas os convertidos ao Islã e determinadas etnias africanas. Os excluídos, temerosos de um governo negro, mas islâmico, imaginaram que seriam inclusive perseguidos pelos vitoriosos pela adesão ao catolicismo ou às religiões de matriz africana.
O certo é que Luiza Mahin foi surpreendida com seu grupo pela força policial, e, obrigados a se lançarem em combate sem o elemento-surpresa, foram derrotados. Ela e outras lideranças conseguiram escapar da perseguição, e Luiza partiu para o Rio de Janeiro, deixando Luis Gama, com apenas 5 anos, aos cuidados de seu pai verdadeiro.
O destino de Luiza Mahin é apenas sugerido. Há rumores de que tenha participado de outros movimentos de insurreição na capital do Império e que, dessa vez capturada, foi detida e deportada para a África. O próprio Luis Gama tentou por toda a vida ter informações do destino de sua mãe, mas sem sucesso.


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