ENTRE A ESPADA E A ROSA - Marina Colasanti - Atividades para o 7º ano
ENTRE A ESPADA E A ROSA
Marina Colasanti
Qual
é a hora de casar, senão aquela em que o coração diz "quero"? A hora
que o pai escolhe. Isso descobriu a Princesa na tarde em que o Rei
mandou chamá-la e, sem rodeios, lhe disse que, tendo decidido fazer
aliança com o povo das fronteiras do Norte, prometera dá-la em casamento
ao seu chefe. Se era velho e feio, que importância tinha frente aos
soldados que traria para o reino, às ovelhas que poria nos pastos e às
moedas que despejaria nos cofres? Estivesse pronta, pois breve o noivo
viria buscá-la.
De
volta ao quarto, a Princesa chorou mais lágrimas do que acreditava ter
para chorar. Embotada na cama, aos soluços, implorou ao seu corpo, a sua
mente, que lhe fizesse achar uma solução para escapar da decisão do
pai. Afinal, esgotada, adormeceu.
E
na noite sua mente ordenou, e no escuro seu corpo ficou. E ao acordar
de manhã, os olhos ainda ardendo de tanto chorar, a Princesa percebeu
que algo estranho se passava. Com quanto medo correu ao espelho! Com
quanto espanto viu cachos ruivos rodeando-lhe o queixo! Não podia
acreditar, mas era verdade. Em seu rosto, uma barba havia crescido.
Passou
os dedos lentamente entre os fios sedosos. E já estendia a mão
procurando a tesoura, quando afinal compreendeu. Aquela era a sua
resposta. Podia vir o noivo buscá-la. Podia vir com seus soldados, suas
ovelhas e suas moedas. Mas, quando a visse, não mais a quereria. Nem ele
nem qualquer outro escolhido pelo Rei.
Salva
a filha, perdia-se porém a aliança do pai. Que tomado de horror e fúria
diante da jovem barbada, e alegando a vergonha que cairia sobre seu
reino diante de tal estranheza, ordenou-lhe abandonar o palácio
imediatamente.
A
Princesa fez uma trouxa pequena com suas jóias, escolheu um vestido de
veludo cor de sangue. E, sem despedidas, atravessou a ponte levadiça,
passando para o outro lado do fosso. Atrás ficava tudo o que havia sido
seu, adiante estava aquilo que não conhecia.
Na
primeira aldeia aonde chegou, depois de muito caminhar, ofereceu-se de
casa em casa para fazer serviços de mulher. Porém ninguém quis aceitá-la
porque, com aquela barba, parecia-lhes evidente que fosse homem.
Na
segunda aldeia, esperando ter mais sorte, ofereceu-se para fazer
serviços de homem. E novamente ninguém quis aceitá-la porque, com aquele
corpo, tinham certeza de que era mulher.
Cansada
mas ainda esperançosa, ao ver de longe as casas da terceira aldeia, a
Princesa pediu uma faca emprestada a um pastor, e raspou a barba. Porém,
antes mesmo de chegar, a barba havia crescido outra vez, mais cacheada,
brilhante e rubra do que antes.
Então,
sem mais nada pedir, a Princesa vendeu suas jóias para um armeiro, em
troca de uma couraça, uma espada e um elmo. E, tirando do dedo o anel
que havia sido de sua mãe, vendeu-o para um mercador, em troca de um
cavalo.
Agora,
debaixo da couraça, ninguém veria seu corpo, debaixo do elmo, ninguém
veria sua barba. Montada a cavalo, espada em punho, não seria mais
homem, nem mulher. Seria guerreiro.
E
guerreiro valente tornou-se, à medida que servia aos Senhores dos
castelos e aprendia a manejar as armas. Em breve, não havia quem a
superasse nos torneios, nem a vencesse nas batalhas. A fama da sua
coragem espalhava-se por toda parte e a precedia. Já ninguém recusava
seus serviços. A couraça falava mais que o nome.
Pouco
se demorava em cada lugar. Lutava cumprindo seu trato e seu dever,
batia-se com lealdade pelo Senhor. Porém suas vitórias atraíam os
olhares da corte, e cedo os murmúrios começavam a percorrer os
corredores. Quem era aquele cavaleiro, ousado e gentil, que nunca tirava
os trajes de batalha? Por que não participava das festas, nem cantava
para as damas? Quando as perguntas se faziam em voz alta, ela sabia que
era chegada a hora de partir. E ao amanhecer montava seu cavalo, deixava
o castelo, sem romper o mistério com que havia chegado.
Somente
sozinha, cavalgando no campo, ousava levantar a viseira para que o
vento lhe refrescasse o rosto acariciando os cachos rubros. Mas tornava a
baixá-la, tão logo via tremular na distância as bandeiras de algum
torreão.
Assim, de castelo em castelo, havia chegado àquele governado por um jovem Rei. E fazia algum tempo que ali estava.
Desde
o dia em que a vira, parada diante do grande portão, cabeça erguida,
oferecendo sua espada, ele havia demonstrado preferi-la aos outros
guerreiros. Era a seu lado que a queria nas batalhas, era ela que
chamava para os exercícios na sala de armas, era ela sua companhia
preferida, seu melhor conselheiro. Com o tempo, mais de uma vez, um
havia salvo a vida do outro. E parecia natural, como o fluir dos dias,
que suas vidas transcorressem juntas.
Companheiro
nas lutas e nas caçadas, inquietava-se porém o Rei vendo que seu amigo
mais fiel jamais tirava o elmo. E mais ainda inquietava-se, ao sentir
crescer dentro de si um sentimento novo, diferente de todos, devoção
mais funda por aquele amigo do que um homem sente por um homem. Pois não
podia saber que à noite, trancado o quarto, a princesa encostava seu
escudo na parede, vestia o vestido de veludo vermelho, soltava os
cabelos, e diante do seu reflexo no metal polido, suspirava longamente
pensando nele.
Muitos
dias se passaram em que, tentando fugir do que sentia, o Rei evitava
vê-la. E outros tantos em que, percebendo que isso não a afastava da sua
lembrança, mandava chamá-la, para arrepender-se em seguida e pedia-lhe
que se fosse.
Por
fim, como nada disso acalmasse seu tormento, ordenou que viesse ter com
ele. E, em voz áspera, lhe disse que há muito tempo tolerava ter a seu
lado um cavaleiro de rosto sempre encoberto. Mas que não podia mais
confiar em alguém que se escondia atrás do ferro. Tirasse o elmo,
mostrasse o rosto. Ou teria cinco dias para deixar o castelo.
Sem
resposta, ou gesto, a Princesa deixou o salão, refugiando-se no seu
quarto. Nunca o Rei poderia amá-la, com sua barba ruiva. Nem mais a
quereria como guerreiro, com seu corpo de mulher. Chorou todas as
lágrimas que ainda tinha para chorar. Dobrada sobre si mesma, aos
soluços, implorou ao seu corpo que lhe desse uma solução. Afinal,
esgotada, adormeceu.
E
na noite seu mente ordenou, e no escuro seu corpo brotou. E ao acordar
de manhã, com os olhos inchados de tanto chorar, a Princesa percebeu que
algo estranho se passava. Não ousou levar as mãos ao rosto. Com medo,
quanto medo! Aproximou-se do escudo polido, procurou seu reflexo. E com
espanto, quanto espanto! Viu que, sim, a barba havia desaparecido. Mas
em seu lugar, rubras como os cachos, rosas lhe rodeavam o queixo.
Naquele
dia não ousou sair do quarto, para não ser denunciada pelo perfume, tão
intenso, que ela própria sentia-se embriagar de primavera. E
perguntava-se de que adiantava ter trocado a barba por flores, quando,
olhando no escudo com atenção, pareceu-lhe que algumas rosas perdiam o
viço vermelho, fazendo-se mais escuras que o vinho. De fato, ao
amanhecer, havia pétalas no seu travesseiro.
Uma
após a outra, as rosas murcharam, despetalando-se lentamente. Sem que
nenhum botão viesse substituir as flores que se iam. Aos poucos, a rósea
pele aparecia. Até que não houve mais flor alguma. Só um delicado rosto
de mulher.
Era
chegado o quinto dia. A Princesa soltou os cabelos, trajou seu vestido
cor de sangue. E, arrastando a cauda de veludo, desceu as escadarias que
a levariam até o Rei, enquanto um perfume de rosas se espalhava no
castelo.
1) Qual é a hora de casar, segundo o texto?
2) Em troca de que o Rei daria a princesa em casamento?
3) Observe a frase: “E na noite sua mente ordenou, e no escuro seu corpo ficou.” (3º parágrafo). O que a mente da princesa ordenou? Qual foi a consequência disso?
4) Qual foi a reação do rei? Por que ele agiu dessa forma?
5) O que a princesa levou consigo, ao deixar o castelo?
6) Quais foram os serviços que a Princesa procurou e por que ela foi rejeitada?
7) Por que ela vendeu suas jóias? De que forma ela passou a viver depois disso?
8) Quanto tempo a princesa ficava em cada reino? E quando ela sabia que era a hora de partir? Por quê?
9) Certo dia a princesa chegou ao reino de um jovem Rei. Como ele a tratava?
10) Observe a frase: “Muitos dias se passaram em que, tentando fugir do que sentia, o Rei evitava vê-la.”(18º parágrafo). Do que o rei fugia? E por quê?
11) Depois disso, o que o jovem Rei ordenou?
12) Observe: “E na noite sua mente ordenou, e no escuro seu corpo brotou”(20º parágrafo). O que a mente da princesa ordenou dessa vez? A solução foi a mesma da primeira vez? Justifique:
13) Releia a frase: “Salva a filha, perdia-se porém a aliança do pai.”(5º parágrafo). Pesquise o significado da palavra destacada e responda com qual sentido ela foi empregada no texto.
14) Observe a frase: “Por fim, como nada disso acalmasse seu tormento, ordenou que viesse ter com ele.” (19º parágrafo).
a) Ao que se refere, no texto, o pronome “(d)isso” destacado?
b) Pesquise o significado da palavra “tormento” e responda: o que nada conseguia acalmar?
c) Explique a expressão: “viesse ter com ele”.
15)
Há, no texto, diversas passagens que se referem a cor vermelha. A cor
vermelha está presente em que? Por que você acha que foi escolhida essa
cor?
16) De que forma o narrador refere-se ao “espelho”?
17) Há, no texto, uma palavra sinônima de “cochichos”. Que palavra é essa?
19) Que palavra foi usada para introduzir a pergunta, no primeiro parágrafo do texto?
20) O pronome demonstrativo "aquela" refere-se a que termo empregado anteriormente, na frase?
21) O pronome demonstrativo "isso", no primeiro parágrafo do texto, faz referência a quê?
22) Releia a frase: "Isso descobriu a Princesa na tarde em que o Rei mandou chamá-la e, sem rodeios, lhe disse que, tendo decidido fazer aliança com o povo das fronteiras do Norte, prometera dá-la em casamento ao seu chefe." (1º parágrafo).
a) O pronome pessoal obliíuo "la" foi usado para referir-se a quem?
b) Que outro pronome foi usado para referir-se à princesa, neste trecho?
c) O pronome possessivo "seu" estabelece uma relação de posse entre quais substantivos deste contexto?
23) Há, no segundo parágrafo do texto, dois pronomes possessivos, ou seja, pronomes que indicam que algo pertence a alguém. Destaque-os e indique a relação de posse estabelecida.
24) Observe o seguinte trecho: "Podia vir o noivo buscá-la. Podia vir com seus soldados, suas ovelhas, suas moedas. (4º parágrafo).
a) Os pronomes possessivos destacados indicam que os soldados, as ovelhas e as moedas pertencem a quem?
b) O pronome pessoal oblíquo "la" refere-se a quem?
25) Observe: "E tirando do dedo o anel que havia sido de sua mãe, vendeu-o para um mercador em troca de um cavalo." (10º parágrafo).
a) Destaque o pronome possessivo.
b) O pronome pessoal oblíquo destacado "o" foi usado para evitar a repetição de que outro termo já usado anteriormente.
26) Na frase: "A fama de sua coragem espalhava-se por toda a parte e a precedia." *
(12º parágrafo).
a) Localize o pronome possessivo presente na frase e indique o que pertence a quem.
b) O pronome pessoal oblíquo "a" refere-se a quem?
27) Na frase: "Mas tornava a baixá-la." (14º parágrafo). O pronome destacado refere-se:
( ) à viseira.
( ) às bandeiras.
( ) à princesa.
28) Assinale a alternativa que substitui, corretamente, as expressões destacadas nas frases abaixo:
a) "Soltava os cabelos." (17º parágrafo)
( ) Soltava-os.
( ) Soltava-o.
( ) Soltava-lhes.
b) "Ou teria cinco dias para deixar o castelo." (18º parágrafo).
( ) Ou teria cinco dias para deixar-o.
( ) Ou teria cinco dias para deixá-lo.
( ) Ou teria cinco dias para deixar-lhe.
c) "Sem que nenhum botão viesse substituir as flores [...]." (23º parágrafo).
( ) Sem que nenhum botão viesse substituí-lhe."
( ) Sem que nenhum botão viesse substituir-lhe."
( ) Sem que nenhum botão viesse substituí-las"
29) Releia o trecho abaixo e responda as questões:
"E outros tantos em que percebendo que isso não a afastava da sua lembrança, mandava chamá-la para arrepender-se em seguida e pedia-lhe que se fosse." (18º parágrafo).
a) Qual (is) dos pronomes destacados refere-se à princesa?
b) Qual (is) se referem ao Rei?
ENTRE A ESPADA E A ROSA - Marina Colasanti - Atividades para o 7º ano
ENTRE A ESPADA E A ROSA
Marina Colasanti
Qual
é a hora de casar, senão aquela em que o coração diz "quero"? A hora
que o pai escolhe. Isso descobriu a Princesa na tarde em que o Rei
mandou chamá-la e, sem rodeios, lhe disse que, tendo decidido fazer
aliança com o povo das fronteiras do Norte, prometera dá-la em casamento
ao seu chefe. Se era velho e feio, que importância tinha frente aos
soldados que traria para o reino, às ovelhas que poria nos pastos e às
moedas que despejaria nos cofres? Estivesse pronta, pois breve o noivo
viria buscá-la.
De
volta ao quarto, a Princesa chorou mais lágrimas do que acreditava ter
para chorar. Embotada na cama, aos soluços, implorou ao seu corpo, a sua
mente, que lhe fizesse achar uma solução para escapar da decisão do
pai. Afinal, esgotada, adormeceu.
E
na noite sua mente ordenou, e no escuro seu corpo ficou. E ao acordar
de manhã, os olhos ainda ardendo de tanto chorar, a Princesa percebeu
que algo estranho se passava. Com quanto medo correu ao espelho! Com
quanto espanto viu cachos ruivos rodeando-lhe o queixo! Não podia
acreditar, mas era verdade. Em seu rosto, uma barba havia crescido.
Passou
os dedos lentamente entre os fios sedosos. E já estendia a mão
procurando a tesoura, quando afinal compreendeu. Aquela era a sua
resposta. Podia vir o noivo buscá-la. Podia vir com seus soldados, suas
ovelhas e suas moedas. Mas, quando a visse, não mais a quereria. Nem ele
nem qualquer outro escolhido pelo Rei.
Salva
a filha, perdia-se porém a aliança do pai. Que tomado de horror e fúria
diante da jovem barbada, e alegando a vergonha que cairia sobre seu
reino diante de tal estranheza, ordenou-lhe abandonar o palácio
imediatamente.
A
Princesa fez uma trouxa pequena com suas jóias, escolheu um vestido de
veludo cor de sangue. E, sem despedidas, atravessou a ponte levadiça,
passando para o outro lado do fosso. Atrás ficava tudo o que havia sido
seu, adiante estava aquilo que não conhecia.
Na
primeira aldeia aonde chegou, depois de muito caminhar, ofereceu-se de
casa em casa para fazer serviços de mulher. Porém ninguém quis aceitá-la
porque, com aquela barba, parecia-lhes evidente que fosse homem.
Na
segunda aldeia, esperando ter mais sorte, ofereceu-se para fazer
serviços de homem. E novamente ninguém quis aceitá-la porque, com aquele
corpo, tinham certeza de que era mulher.
Cansada
mas ainda esperançosa, ao ver de longe as casas da terceira aldeia, a
Princesa pediu uma faca emprestada a um pastor, e raspou a barba. Porém,
antes mesmo de chegar, a barba havia crescido outra vez, mais cacheada,
brilhante e rubra do que antes.
Então,
sem mais nada pedir, a Princesa vendeu suas jóias para um armeiro, em
troca de uma couraça, uma espada e um elmo. E, tirando do dedo o anel
que havia sido de sua mãe, vendeu-o para um mercador, em troca de um
cavalo.
Agora,
debaixo da couraça, ninguém veria seu corpo, debaixo do elmo, ninguém
veria sua barba. Montada a cavalo, espada em punho, não seria mais
homem, nem mulher. Seria guerreiro.
E
guerreiro valente tornou-se, à medida que servia aos Senhores dos
castelos e aprendia a manejar as armas. Em breve, não havia quem a
superasse nos torneios, nem a vencesse nas batalhas. A fama da sua
coragem espalhava-se por toda parte e a precedia. Já ninguém recusava
seus serviços. A couraça falava mais que o nome.
Pouco
se demorava em cada lugar. Lutava cumprindo seu trato e seu dever,
batia-se com lealdade pelo Senhor. Porém suas vitórias atraíam os
olhares da corte, e cedo os murmúrios começavam a percorrer os
corredores. Quem era aquele cavaleiro, ousado e gentil, que nunca tirava
os trajes de batalha? Por que não participava das festas, nem cantava
para as damas? Quando as perguntas se faziam em voz alta, ela sabia que
era chegada a hora de partir. E ao amanhecer montava seu cavalo, deixava
o castelo, sem romper o mistério com que havia chegado.
Somente
sozinha, cavalgando no campo, ousava levantar a viseira para que o
vento lhe refrescasse o rosto acariciando os cachos rubros. Mas tornava a
baixá-la, tão logo via tremular na distância as bandeiras de algum
torreão.
Assim, de castelo em castelo, havia chegado àquele governado por um jovem Rei. E fazia algum tempo que ali estava.
Desde
o dia em que a vira, parada diante do grande portão, cabeça erguida,
oferecendo sua espada, ele havia demonstrado preferi-la aos outros
guerreiros. Era a seu lado que a queria nas batalhas, era ela que
chamava para os exercícios na sala de armas, era ela sua companhia
preferida, seu melhor conselheiro. Com o tempo, mais de uma vez, um
havia salvo a vida do outro. E parecia natural, como o fluir dos dias,
que suas vidas transcorressem juntas.
Companheiro
nas lutas e nas caçadas, inquietava-se porém o Rei vendo que seu amigo
mais fiel jamais tirava o elmo. E mais ainda inquietava-se, ao sentir
crescer dentro de si um sentimento novo, diferente de todos, devoção
mais funda por aquele amigo do que um homem sente por um homem. Pois não
podia saber que à noite, trancado o quarto, a princesa encostava seu
escudo na parede, vestia o vestido de veludo vermelho, soltava os
cabelos, e diante do seu reflexo no metal polido, suspirava longamente
pensando nele.
Muitos
dias se passaram em que, tentando fugir do que sentia, o Rei evitava
vê-la. E outros tantos em que, percebendo que isso não a afastava da sua
lembrança, mandava chamá-la, para arrepender-se em seguida e pedia-lhe
que se fosse.
Por
fim, como nada disso acalmasse seu tormento, ordenou que viesse ter com
ele. E, em voz áspera, lhe disse que há muito tempo tolerava ter a seu
lado um cavaleiro de rosto sempre encoberto. Mas que não podia mais
confiar em alguém que se escondia atrás do ferro. Tirasse o elmo,
mostrasse o rosto. Ou teria cinco dias para deixar o castelo.
Sem
resposta, ou gesto, a Princesa deixou o salão, refugiando-se no seu
quarto. Nunca o Rei poderia amá-la, com sua barba ruiva. Nem mais a
quereria como guerreiro, com seu corpo de mulher. Chorou todas as
lágrimas que ainda tinha para chorar. Dobrada sobre si mesma, aos
soluços, implorou ao seu corpo que lhe desse uma solução. Afinal,
esgotada, adormeceu.
E
na noite seu mente ordenou, e no escuro seu corpo brotou. E ao acordar
de manhã, com os olhos inchados de tanto chorar, a Princesa percebeu que
algo estranho se passava. Não ousou levar as mãos ao rosto. Com medo,
quanto medo! Aproximou-se do escudo polido, procurou seu reflexo. E com
espanto, quanto espanto! Viu que, sim, a barba havia desaparecido. Mas
em seu lugar, rubras como os cachos, rosas lhe rodeavam o queixo.
Naquele
dia não ousou sair do quarto, para não ser denunciada pelo perfume, tão
intenso, que ela própria sentia-se embriagar de primavera. E
perguntava-se de que adiantava ter trocado a barba por flores, quando,
olhando no escudo com atenção, pareceu-lhe que algumas rosas perdiam o
viço vermelho, fazendo-se mais escuras que o vinho. De fato, ao
amanhecer, havia pétalas no seu travesseiro.
Uma
após a outra, as rosas murcharam, despetalando-se lentamente. Sem que
nenhum botão viesse substituir as flores que se iam. Aos poucos, a rósea
pele aparecia. Até que não houve mais flor alguma. Só um delicado rosto
de mulher.
Era
chegado o quinto dia. A Princesa soltou os cabelos, trajou seu vestido
cor de sangue. E, arrastando a cauda de veludo, desceu as escadarias que
a levariam até o Rei, enquanto um perfume de rosas se espalhava no
castelo.
1) Qual é a hora de casar, segundo o texto?
2) Em troca de que o Rei daria a princesa em casamento?
3) Observe a frase: “E na noite sua mente ordenou, e no escuro seu corpo ficou.” (3º parágrafo). O que a mente da princesa ordenou? Qual foi a consequência disso?
4) Qual foi a reação do rei? Por que ele agiu dessa forma?
5) O que a princesa levou consigo, ao deixar o castelo?
6) Quais foram os serviços que a Princesa procurou e por que ela foi rejeitada?
7) Por que ela vendeu suas jóias? De que forma ela passou a viver depois disso?
8) Quanto tempo a princesa ficava em cada reino? E quando ela sabia que era a hora de partir? Por quê?
9) Certo dia a princesa chegou ao reino de um jovem Rei. Como ele a tratava?
10) Observe a frase: “Muitos dias se passaram em que, tentando fugir do que sentia, o Rei evitava vê-la.”(18º parágrafo). Do que o rei fugia? E por quê?
11) Depois disso, o que o jovem Rei ordenou?
12) Observe: “E na noite sua mente ordenou, e no escuro seu corpo brotou”(20º parágrafo). O que a mente da princesa ordenou dessa vez? A solução foi a mesma da primeira vez? Justifique:
13) Releia a frase: “Salva a filha, perdia-se porém a aliança do pai.”(5º parágrafo). Pesquise o significado da palavra destacada e responda com qual sentido ela foi empregada no texto.
14) Observe a frase: “Por fim, como nada disso acalmasse seu tormento, ordenou que viesse ter com ele.” (19º parágrafo).
a) Ao que se refere, no texto, o pronome “(d)isso” destacado?
b) Pesquise o significado da palavra “tormento” e responda: o que nada conseguia acalmar?
c) Explique a expressão: “viesse ter com ele”.
15)
Há, no texto, diversas passagens que se referem a cor vermelha. A cor
vermelha está presente em que? Por que você acha que foi escolhida essa
cor?
16) De que forma o narrador refere-se ao “espelho”?
17) Há, no texto, uma palavra sinônima de “cochichos”. Que palavra é essa?
19) Que palavra foi usada para introduzir a pergunta, no primeiro parágrafo do texto?
20) O pronome demonstrativo "aquela" refere-se a que termo empregado anteriormente, na frase?
21) O pronome demonstrativo "isso", no primeiro parágrafo do texto, faz referência a quê?
22) Releia a frase: "Isso descobriu a Princesa na tarde em que o Rei mandou chamá-la e, sem rodeios, lhe disse que, tendo decidido fazer aliança com o povo das fronteiras do Norte, prometera dá-la em casamento ao seu chefe." (1º parágrafo).
a) O pronome pessoal obliíuo "la" foi usado para referir-se a quem?
b) Que outro pronome foi usado para referir-se à princesa, neste trecho?
c) O pronome possessivo "seu" estabelece uma relação de posse entre quais substantivos deste contexto?
23) Há, no segundo parágrafo do texto, dois pronomes possessivos, ou seja, pronomes que indicam que algo pertence a alguém. Destaque-os e indique a relação de posse estabelecida.
24) Observe o seguinte trecho: "Podia vir o noivo buscá-la. Podia vir com seus soldados, suas ovelhas, suas moedas. (4º parágrafo).
a) Os pronomes possessivos destacados indicam que os soldados, as ovelhas e as moedas pertencem a quem?
b) O pronome pessoal oblíquo "la" refere-se a quem?
25) Observe: "E tirando do dedo o anel que havia sido de sua mãe, vendeu-o para um mercador em troca de um cavalo." (10º parágrafo).
a) Destaque o pronome possessivo.
b) O pronome pessoal oblíquo destacado "o" foi usado para evitar a repetição de que outro termo já usado anteriormente.
26) Na frase: "A fama de sua coragem espalhava-se por toda a parte e a precedia." *
(12º parágrafo).
a) Localize o pronome possessivo presente na frase e indique o que pertence a quem.
b) O pronome pessoal oblíquo "a" refere-se a quem?
27) Na frase: "Mas tornava a baixá-la." (14º parágrafo). O pronome destacado refere-se:
( ) à viseira.
( ) às bandeiras.
( ) à princesa.
28) Assinale a alternativa que substitui, corretamente, as expressões destacadas nas frases abaixo:
a) "Soltava os cabelos." (17º parágrafo)
( ) Soltava-os.
( ) Soltava-o.
( ) Soltava-lhes.
b) "Ou teria cinco dias para deixar o castelo." (18º parágrafo).
( ) Ou teria cinco dias para deixar-o.
( ) Ou teria cinco dias para deixá-lo.
( ) Ou teria cinco dias para deixar-lhe.
c) "Sem que nenhum botão viesse substituir as flores [...]." (23º parágrafo).
( ) Sem que nenhum botão viesse substituí-lhe."
( ) Sem que nenhum botão viesse substituir-lhe."
( ) Sem que nenhum botão viesse substituí-las"
29) Releia o trecho abaixo e responda as questões:
"E outros tantos em que percebendo que isso não a afastava da sua lembrança, mandava chamá-la para arrepender-se em seguida e pedia-lhe que se fosse." (18º parágrafo).
a) Qual (is) dos pronomes destacados refere-se à princesa?
b) Qual (is) se referem ao Rei?
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