TEXTOS E ATIVIDADES SOBRE A POLÊMICA DOS SHORTINHOS
Texto 1
O SHORTINHO DAS COLEGIAIS
O SHORTINHO DAS COLEGIAIS
David Coimbra
A escola tem de formar cidadãos, certo?
Errado.
A escola tem de difundir o conhecimento.
Mas não é o que se espera, no Brasil.
Agora
mesmo, alunas do Anchieta se rebelaram pelo direito de usar shortinhos
três centímetros mais curtos do que o permitido pela escola. Não por
pretenderem sensualizar, ressaltaram, mas porque sentem muito calor.
As
novas gerações são calorentas, compreende-se. O que não se compreende é
a comoção que o tamanho do shortinho causou no Estado. Importa-me muito
mais o que é mais importante: quando as protestantes abordaram o
currículo escolar. Elas defendem mais "educação social e política".
Educação
social e política? Já tivemos isso nas escolas. A disciplina se
chamava, exatamente, Organização Social e Política do Brasil, o velho
OSPB. Tínhamos, também, Moral e Cívica e Religião.
Era o ensino de "valores". Não é o mesmo que a sociedade pede da escola hoje? "Valores".
Naquele
tempo, um dos valores que tentavam nos passar era o patriotismo. Num
dia tão quente que faria as anchietanas irem para o colégio de fio
dental, a professora nos obrigou a cantar o Hino Nacional tantas vezes,
em posição de sentido, debaixo do sol, que passei mal e desmaiei.
E
agora, no século 21? Que valores serão transmitidos a nossos efebos e
cachopas? "Não nos falaram sobre as operações anticorrupção no Brasil",
questionaram as meninas do Anchieta. Sob que ponto de vista os
professores abordarão a corrupção? O professor petista dirá que sempre
se roubou no Brasil, que o brasileiro fura fila e altera nota fiscal,
que é do brasileiro roubar. O professor antipetista dirá que uma
quadrilha governa o país e que o PT tornou o roubo sistemático. Quem
está certo? Quem tem os valores "certos"?
Essa história de valores
não é só brasileira. É ocidental. Einstein, o gênio redescoberto,
odiava a escola alemã exatamente porque era pouco "humana" e por demais
centrada no conhecimento. Mas da escola alemã saíram, além do próprio
Einstein, seus colegas Heisenberg, Niels Bohr, Von Braun e Max Planck,
só para ficar em alguns da sua área e do seu tempo. Não fosse a exigente
escola alemã, Einstein talvez tivesse se tornado sociólogo.
Enquanto
o Ocidente se "humaniza", o Oriente Longínquo se "desumaniza". Até
demais, reconheço: no Japão, o governo pediu que as universidades fechem
as faculdades de ciências sociais e humanas. De 60 faculdades desta
área, 30 deverão ser eliminadas nos próximos meses.
Já no Ensino
Médio a concorrência é tão feroz, que o número de suicídios entre
adolescentes explode nos três primeiros dias de setembro, no Arquipélago
— são os dias da volta às aulas.
Estive na Coreia do Sul, visitei
famílias "comuns" para ver como eles vivem. As crianças praticamente
não têm infância. Depois da escola, passam as horas restantes do dia em
cursos de inglês, matemática, línguas, ciências.
Sim, eles exageram. Mas no que resulta?
Bem,
eu aqui vivo na cidade-sede da educação na América. São 55
universidades poderosas, entre elas Harvard, com seus 47 Prêmios Nobel,
os gênios do MIT e a Boston University de Luther King. E o que se vê nos
campi? Japoneses, coreanos e chineses. Estão tomando as universidades
americanas, a ponto de o governo planejar o estabelecimento de cotas
para LIMITAR o número de orientais nas faculdades.
Esses alunos de
olhos amendoados buscam o conhecimento. Como os japoneses aprendem
"valores" na escola? Ajudando a limpar os banheiros e a varrer as salas
de aula. Que tal?
Valores são subprodutos do conhecimento. Se o
estudante aprender sobre a democracia, por exemplo, saberá que esse não é
um sistema em que todos podem tudo. Ao contrário: esse sistema só
funciona a partir da lei.
Mas quem se interessa pela lei, no Brasil? O Brasil quer formar gerações de libertários. Está formando gerações de mimados.
1) Em relação às afirmações abaixo, analise as que estão de acordo com o texto e assinale a alternativa correta.
I - Conforme o autor, a função da escola é formar cidadãos e difundir o conhecimento.
II
- Além de reivindicar 3 centímetros a mais no comprimento do short
permitido no colégio, as estudantes envolvidas no protesto também pedem
por mais educação social e política.
III
- De acordo com as adolescentes, as operações anticorrupção no Brasil
deveriam ser pauta nas aulas, dando a entender que o assunto não é
debatido no colégio.
IV
- Segundo o texto, em países do Ocidente, como o Japão, por exemplo,
algumas universidades fecharão cursos de ciências sociais e humanas.
V
- De acordo com o texto, o resultado da rigidez na formação dos jovens
orientais está fazendo com que estes - japoneses, coreanos e chineses -
tomem conta das vagas nas melhores Universidades Americanas.
a) Todas estão corretas.
b) Nenhuma está correta.
c) I e IV estão corretas.
d) III e V estão corretas.
e) Apenas a V está correta.
2) O que, segundo o autor, a sociedade pede da escola, atualmente?
3)
Que exemplo de valor era ensinado na escola, segundo o autor, na época
em que existia a disciplina de OSPB? Por que, na sua opinião, o autor
usou o termo valores entre aspas, nesse trecho?
4) Observe a seguinte frase: "E agora, no século 21? Que valores serão transmitidos a nossos efebos e cachopas?" (9º parágrafo). A alternativa que apresenta uma opção de reescrita desta frase, sem alterar o sentido é:
a) "E agora, no século 21? Que valores serão passados a nossos moços e crianças?"
b) "E agora, no século 21? Que valores serão passados a nossos moços e moças?"
c) "E agora, no século 21? Que valores serão noticiados a nossos mestres e moças?"
5) Quais são e de quem são os pontos de vista apresentados pelo autor do texto, acerca da corrupção no Brasil?
6) Como é caracterizada a escola alemã, de acordo com o texto?
7) No 10º parágrafo o autor afirma: "Mas da escola alemã saíram, além do próprio Einstein, seus colegas Heisenberg, Niels Bohr, Von Braun e Max Planck, só para ficar em alguns da sua área e do seu tempo." A qual área o autor se refere?
8)
O autor afirma que, em uma determinada época, no Japão, o número de
suicídios entre os jovens aumenta. Que época é essa e qual é o motivo
dos suicídios?
9) Como é, segundo o autor, a vida de famílias "comuns", na Coreia do Sul?
10) De que forma, segundo o texto, os valores são ensinados aos alunos, no Japão?
11) Por que, na sua opinião, o autor afirma que os "valores são subprodutos do conhecimento"? (17º parágrafo).
12) Qual é, segundo o autor, a condição necessária para que a democracia funcione?
13) Você concorda com a última afirmação feita pelo autor, no texto? Disserte sua opinião em, no mínimo, 10 linhas.
14) Transcreva, do texto, 3 substantivos comuns de dois gêneros.
15) Transcreva, do texto, 1 substantivo sobrecomum.
16) No 8º parágrafo, há um substantivo derivado. Transcreva-o, indicando-lhe o primitivo.
17) Transcreva, do texto, 5 frases nominais.
18) Indique quantos períodos há em cada um dos parágrafos abaixo:
a) 2º parágrafo:
b) 7º parágrafo:
c) 8º parágrafo:
d) 9º parágrafo:
e) 11º parágrafo:
19) Observe a frase: "Esses alunos de olhos amendoados buscam o conhecimento." (16º parágrafo). Se substituirmos o substantivo "alunos" por "estudante", o número de termos a ser alterado é de:
a) 2 b) 3 c) 4 d) 5 e) 1
Texto 2
Conheça a Geração Z: a geração Merthiolate-que-não-arde que não tem mais o que fazer
Flavio Morgenstern
Flavio Morgenstern
Não
é mais pelos 20 centavos: a Revolta do Shortinho mostra que a Geração Z
chegou pra ficar: e sem um emprego pra pagar as próprias contas.
http://sensoincomum.org/2016/02/27/conheca-geracao-z-geracao-que-nao-tem-mais-o-que-fazer/
Nosso
amigo Guy Franco já escreveu que o mundo está perigosamente no processo
de transformação em uma esquete de Monty Python. Analisando as notícias
recentes do Brasil, percebemos uma ameaça ainda mais fatal: estamos nos
transformando numa reprise infinita das cenas de Malhação.
A
crise de saúde no Rio de Janeiro, com hospitais em greve e sem
medicamentos necessários para combate ao câncer, chegou à educação, com
escolas caindo aos pedaços sem merenda (foi cogitado um dia de merenda
fria). Tudo sob gestão do governador peemedebista mais alinhado ao
governo federal (e mais aferrado especificamente a Dilma Rousseff): Luiz
Fernando Pezão.
No mesmo dia, foi revelada pesquisa mostrando que apenas 8% dos brasileiros dominam os fundamentos do Português e Matemática.
A
notícia que mais teve respaldo e gerou memes e discussões nas redes
sociais (e, portanto, nos portais de notícia) a respeito da educação
brasileira nesta semana: alunas do colégio Anchieta, um dos mais antigos
(e caros) de Porto Alegre, fizeram uma mobilização, com ato,
demonstração e petição online, pelo direito de usar shortinho quando
forem para as aulas.
O
colégio é gerido pela Igreja. Os pais de alunos (e os alunos que
desejam ter aquela educação) assinam um contrato que prevê as normas de
conduta do colégio. Todas as salas de aula possuem ar condicionado. Não
mais que de repente, as alunas se revoltam com o código de vestimenta
sugerido por 99 em cada 100 escolas e exigem um passe livre para se
vestirem “como quiserem”. Dez meninos também aderiram à campanha, e
fizeram também um ato de shortinho em apoio às meninas de shortinho, o
que foi fato sobejante para nova notícia. Seu argumento era de que “Isso
mostra que por trás de toda questão do shorts tem muitas outras, como a
luta pela igualdade de gênero e os direitos das pessoas, em usar o que
bem entenderem”. Não foram vistos meninos usando fio-dental no cofrinho
em apoio às meninas, mas talvez não se deva esperar que isto não
aconteça.
As
moças das pernocas de fora ganharam o noticiário nacional. A merenda às
vezes é comentada en passant. O resultado pífio em Português e
Matemática, praticamente nunca.
O
evento das pernas, chamado de “Vai ter shortinho, sim”, disfarça pouco
em sua página o seu viés político. O Canal da Direita mostrou que a
principal articuladora do grupo faz parte do Juntos!, o “coletivo” de
atuação pré-adolescente do PSOL, e atuou com afinco na campanha de
Luciana Genro. Por que isto não surpreende ninguém, e por que há a
necessidade de sempre haver um partido socialista em qualquer algazarra e
ziriguidum por mero prazer neste país?
O
linguajar do evento é de um pobrismo repapagaiador de todos os clichês
que possam caber em um cartaz e num par de pernas juvenis. Fala-se,
obviamente, em “machismo”, em “respeito” a roupas (um conceito difícil
de ser trabalhado pela metafísica ocidental), em não culpar as mulheres
por estupros, em dizer que se alguém deseja as pernas de uma mulher, é
um pensamento “machista”.
Já
analisamos como estes pensamentos prontos são pré-lingüísticos,
símbolos de obediência imediata no falar corrente de uma época (se a
palavra “machismo” assusta, basta-se pensar em “nazismo”, “câncer” ou
“ditadura”, ou em palavras que já tiveram peso semelhante no passado,
como “comunismo”, “AIDS” ou “lepra”).
Se
a moda suprema, a forte corrente a levar a multidão irracionalmente
hoje é o feminismo, apenas a ideia de associar algo a feminismo gera
adesão imediata e pré-consciente, tal como associar qualquer coisa a
machismo torna aquilo tão execrável que qualquer forma de repúdio, a
mais revolucionária, irrefletida, violenta ou desequilibrada se torna
válida, justa e desejável – os argumentos virão a posteriori.
É
este hoje o grande dilema do Ocidente: não mais enfrentar o Exército
Vermelho e seus estupros, não ser um dos povos europeus ou americanos a
enfrentar o nazismo mesmo não sendo judeus, não enfrentar fome, frio
terrível, derrubar lenha, caçar o próprio alimento, enfrentar bárbaros e
bandoleiros.
Somos
já uma civilização assentada – tão assentada e tão opulenta com a
produção de riqueza capitalista para as massas que já ignoramos os
fundamentos dessa própria civilização. Cremos que tudo o que é
civilizacional é natural – a geladeira, o alimento pronto, o ar
condicionado, os prédios, a internet, a polícia e as viagens
transcontinentais.
Somos
o que Ortega y Gasset, no indispensável A Rebelião das Massas, chama de
homem-massa: homens divorciados de alguma noção de continuidade
histórica que, independentemente de sua “classe” social, acreditam que
um computador ou um carro são objetos da natureza que surgem das
árvores, e seu grande heroísmo é apenas exigi-los de alguém.
O
homem-massa é, por definição, um ser urbano, das cidades cheias,
apinhadas. É nelas em que a civilização atinge seu zênite: há não apenas
casas e prédios, mas shoppings, museus, escolas, policiais e toda uma
infra-estrutura desenhada por outros homens para satisfazer e deleitar
seus moradores – o que Olivier Mongin já tão bem definiu em seu ensaio A
Condição Urbana.
Sem
nenhuma aventura violenta cotidiana, exigindo ritos de passagem e
valores como virilidade e força física a separar futuros sobreviventes
das presas fáceis do ambiente, resta ao homem-massa, que pode ser um
sindicalista ou um médico, um intelectual doutor ou meninas adolescentes
de shortinho, apenas sair exigindo “direitos” e vociferando slogans
feitos para serem repetidos roboticamente em massa (anteriormente de
megafones, hoje de blogs, páginas de Facebook e coletivos do PSOL).
Mesmo
um pobre urbano hoje desfruta de luxos, confortos e estofamentos da
civilização que um rei ou nobre de poucos séculos atrás não poderia nem
imaginar (estude-se a história das privadas).
Para
disfarçar este comodismo, o herói adolescente e o intelectual de 140
caracteres fazem analogias, considerando que o uniforme do colégio é o
equivalente aos porões da ditadura, que fazer uma página na internet e
receber xingamentos é equiparável a enfrentar as tropas nazistas, que
segurar um cartaz e “exigir seus direitos” de usar uma roupa curta para
paquerar os meninos num colégio caríssimo é o mesmo que vencer o Estado
Islâmico.
E,
rapidamente, passam a crer que a analogia não é mais analogia, mas que
existem mesmo ditadores, nazistas e terroristas ao nosso redor, e estes
carrascos é que impedem nosso hedonismo adolescente. Pergunte à Márcia
Tiburi.
Esta
é a tal “geração Z”, de que falou recentemente a revista Veja em sua
capa: uma geração que não tem mais o que fazer. Não tem contra o que
lutar. Não lhes falta nada em suas economias. Não são sequer feios,
pobres ou “oprimidos” e “explorados”. É uma geração tão almofadada pela
civilização que até quando caía de bicicleta ao redor da piscina no
condomínio era curada com Merthiolate que não arde.
Que
heroísmo, que conquista individual, que missão e vocação podem ter
estas pós-crianças? O melhor é apelar para abstrações de definições
escorregadias como “machismo”, e ter como causa, como Leitmotiv da
primeira fama da vida, uma briguinha para poder mostrar as pernas e
xingar de machista o colégio católico em que estudam e seus pais pagam
uma fortuna para tal.
A
geração Z é uma vida a passeio. Uma vida sem glórias além de conflitos
tão profundos, existenciais e exigentes quanto os diálogos de Malhação. É
apenas busca por prazer, sem ter nada com que se preocupar. Uma êta
vida besta, meu Deus, que trata o hedonismo, o jardim de Epicuro e a
banalidade como questão mais urgente da vida e da realidade.
É
uma vida de luxo e conforto nunca antes visto na história mundial, mas
que precisa se escorar em bodes expiatórios como chamar de “imposição
machista da sociedade patriarcal” a proibição de shortinhos curtos num
ambiente escolar. Ou tanta macaqueação com “minorias” como transexuais
(que não representam 1% da população). As escolas sem merenda,
novamente, só merecem atenção quando forem geridas por adversários do
PSOL.
A
escola dos shortinhos é aquela caríssima, diferente das estatais caindo
aos pedaços. É a escola onde estas filhas da elite estão por preparação
para uma vida mais confortável ainda, como futuras advogadas, médicas,
economistas. Nenhuma profissão com o “direito” de se vestir “como
quiser”. A única profissão em que isto é liberado não é exatamente o
sonho de nenhuma delas.
Tudo
o que as abstrações do PSOL compradas pela geração Z (como mostra a
Revolta do Shortinho, rigorosamente indiscerníveis dos conflitos
profundos do elenco de Malhação) conseguem fazer é transformar uma birra
adolescente, um detalhe chato da vida, numa discussão bizantina sobre
“não se julgar o caráter pela roupa” ou as velhas e nonagenárias
analogias com estupro.
A
geração Z é a geração que ficou mais fanática do que nossas vovós. Com a
proposta de “respeito”, só quer impor hedonismo oco de significado além
de firula adolescente. Com a proposta de “diversidade”, só quer que
todos pensem igualmente, sem discordância para não “ofender”. Com a
proposta de “progresso”, só destrói tudo o que garante seu conforto em
troca de um prazerzinho momentâneo, sem nunca atentar para o quanto
fazem os pais chorarem no banho enquanto se tornam pessoas sem futuro.
Pior:
ao crer ser revoltada e futurista, apenas repete um discurso comodista e
mais cafona do que uma pochete. Ao crer provocar polêmica e discussão,
apenas ativa tédio e bocejos. É a reprise do Mocotó.
1)
Que outras situações são citadas pelo autor para reforçar a crítica que
fez em relação ao protesto das alunas porto-alegrenses? Por que, na sua
opinião, esses fatos não têm tanta repercussão quanto a alcançada pela
campanha "vai ter shortinho sim"?
2) Analise as afirmações abaixo e assinale a alternativa correta.
I - "A notícia que mais teve respaldo e
gerou memes e discussões [...]" (4º parágrafo) - o termo destacado pode
ser substituído por "críticas", sem alterar o sentido da frase.
II - "O colégio é gerido pela Igreja." (5º parágrafo) - Pode-se reescrever essa frase da seguinte maneira: "O colégio é administrado pela Igreja."
III - "O resultado pífio em
Português e Matemática, praticamente nunca." (6º parágrafo) - O termo
destacado refere-se aos resultados, quase que insignificantes, obtidos
por alunos em avaliações de Português e Matemática.
IV - "O evento das pernas, chamado de "Vai ter shortinho, sim" disfarça pouco em sua página o seu viés político." (7º parágrafo) - O termo destacado pode ser substituído por "caráter", sem alterar o sentido da frase.
V - [...] e atuou com afinco na
campanha de Luciana Genro." (7º parágrafo) - Pode-se reescrever esse
trecho da seguinte maneira: "[...] e trabalhou com empenho na campanha
de Luciana Genro."
a) Apenas a I está incorreta.
b) Apenas a II está incorreta.
c) Apenas a III está incorreta.
d) Apenas a IV está incorreta.
e) Apenas a V está incorreta.
3) Que argumentos, segundo o texto, estão por trás da questão do uso do short?
4) Qual a definição e como é caracterizado o "homem-massa", citado no texto?
5) No 10º parágrafo, encontre sinônimos para as seguintes palavras:
a) rejeição:
b) aceitação:
c) superior:
d) abominável:
6) No 14º parágrafo, encontre sinônimos para as seguintes palavras:
a) agradar:
b) auge:
c) lotadas:
7) Observe o seguinte trecho: "Para disfarçar este comodismo, o herói adolescente e o intelectual de 140 caracteres fazem analogias [...]" (17º parágrafo). O que o autor quis dizer com a expressão destacada.
8) Ao que o autor compara:
a) O uniforme do colégio:
b) Uma página na internet e receber xingamentos:
c) Segurar um cartaz:
9) Como o autor apresenta a Geração Z? E quais as questões que são urgentes para essa geração?
10) De acordo com o autor, qual o objetivo das propostas abaixo, defendidas por essa geração?
a) Respeito:
b) Diversidade:
c) Progresso:
11) Que adjetivos são usados para caracterizar os seguintes substantivos:
a) Notícias (1º parágrafo):
b) Ameaça (1º parágrafo):
c) Reprise (1º parágrafo):
d) Colégio Anchieta (4º parágrafo):
e) Noticiário (6º parágrafo):
f) Partido (7º parágrafo):
g) Pernas (8º parágrafo)
h) Pensamento (8º parágrafo):
i) Heroísmo (13º parágrafo):
Vai ter shortinho sim
Leia a coluna publicada na ZH deste sábado
Por: Cláudia Laitano
27/02/2016 - 06h06min
A
ministra Cármen Lúcia Rocha, 61 anos, foi a primeira mulher a usar
calças compridas no Supremo Tribunal Federal, em 2007. Ellen Gracie
Northfleet, 68, que se tornou a primeira mulher a integrar o STF, em 2000 – 110 anos depois da criação do tribunal –, nunca entrou de calças no plenário.
Nesse
debate, como em outros desse tipo, há um valor de face – a calça,
proibida na Corte até 2000 – e um subtexto – a histórica
sub-representação feminina no Judiciário. Tenho uma filha de 17 anos
que, na segunda-feira, começa o curso de Direito na UFRGS. Gosto de
imaginar que, quando ela tiver a idade da ministra, o STF terá mais
mulheres. Se isso acontecer, terá sido graças a desbravadoras como Ellen
Gracie, Cármen Lúcia, Rosa Weber e, por aqui, Maria Berenice Dias –
que, anos antes de contrariar o senso comum ao tornar-se a primeira
desembargadora do Estado, havia se rebelado contra o comprimento das
saias das normalistas no Instituto de Educação.
Cada
nova geração de mulheres escolhe suas causas e avança um pouco mais na
luta pela igualdade. E isso não acontece sem alguma desobediência às
convenções vigentes. A chegada de Ellen Gracie ao STF foi uma grande
conquista, mas foi preciso uma mulher um pouco mais nova para que a
calça comprida também chegasse lá. E assim, pouco a pouco, o que um dia
foi natural vai se tornando ultrapassado e anacrônico. Como o espartilho
e a proibição do voto.
O shortinho das meninas, como a calça das magistradas,
é a face visível de uma discussão mais profunda. A campanha "vai ter
shortinho sim", das alunas do Anchieta, não é apenas uma atualização da
velha briga sobre o comprimento das saias. Também não é um debate sobre
o uso ou não de uniforme. O que está em discussão é o direito das
alunas de questionarem não um uniforme, que não existe, mas o tratamento
diferenciado dado a meninos e meninas em um contexto de
suposta liberdade de escolhas, onde valem "combinações" e não
regulamentos. Uma vez que as escolas permitem que os alunos escolham
suas roupas – e as escolhas mais comuns são bermudas de praia e chinelos
de dedo para eles e shortinhos para elas –, o rigor (ou falta de)
deveria ser o mesmo para ambos os sexos. Não é o que acontece: meninos
vão para a escola com cuecas aparecendo e havaianas, sem muitas
cobranças sobre a adequação do figurino às convenções do ambiente – enquanto meninas ainda são convidadas a aprender matemática contando os centímetros dos shorts.
Em
um país com taxas pornográficas de violência contra a mulher, as
escolas fariam um grande serviço à civilização se, em vez de se
preocuparem com as roupas que as meninas preferem, ajudassem os meninos a
entender, desde cedo, que devem respeitar o sexo oposto
independentemente do figurino.
1) No início do texto, a autora faz referência a algumas mulheres. Qual a relevância delas para o tema em debate?
2) Releia a frase: "O shortinho das meninas, como a calça das magistradas é a face visível de uma discussão mais profunda." (4º parágrafo). Que discussão é essa?
3) Assinale a alternativa que apresenta, respectivamente, sinônimos das palavras destacadas no 4º parágrafo.
a) juízas - polêmica - cenário - traje - normas
b) alunas - discurso - história - uniforme - acordos
c) juízas - discurso - cenário - uniforme - culturas
d) pessoas - polêmica - cenário - traje - normas
e) juízas - discurso - história - uniforme - culturas
4) Com que sentido a autora empregou o termo "pornográficas" na frase: "Em um país com taxas pornográficas de violência contra a mulher, [...]" (5º parágrafo)?
5) O ponto de vista defendida por Cláudia Laitano é o mesmo defendido por Flavio Morgenstern e David Coimbra? Explique.
6) Transcreva, do texto, os adjetivos usados para caracterizar os substantivos abaixo:
a) calças (1º parágrafo):
b) sendo (2º parágrafo):
c) geração (3º parágrafo):
d) convenções (3º parágrafo):
e) conquista (3º parágrafo):
f) mulher (3º parágrafo):
g) face (4º parágrafo):
h) discussão (4º parágrafo):
i) tratamento (4º parágrafo):
j) liberdade (4º parágrafo):
7) Substitua o adjetivo abaixo, pela locução adjetiva correspondente:
a) sub-representação feminina:
8) Substitua a locução adjetiva abaixo, pelo adjetivo correspondente:
a) convenções do ambiente:
6) Transcreva, do texto, os adjetivos usados para caracterizar os substantivos abaixo:
a) calças (1º parágrafo):
b) sendo (2º parágrafo):
c) geração (3º parágrafo):
d) convenções (3º parágrafo):
e) conquista (3º parágrafo):
f) mulher (3º parágrafo):
g) face (4º parágrafo):
h) discussão (4º parágrafo):
i) tratamento (4º parágrafo):
j) liberdade (4º parágrafo):
7) Substitua o adjetivo abaixo, pela locução adjetiva correspondente:
a) sub-representação feminina:
8) Substitua a locução adjetiva abaixo, pelo adjetivo correspondente:
a) convenções do ambiente:
9) A partir da leitura dos três textos, posicione-se sobre o tema em debate, dissertando em, no mínimo, 30 linhas.
TEXTOS E ATIVIDADES SOBRE A POLÊMICA DOS SHORTINHOS
Texto 1
O SHORTINHO DAS COLEGIAIS
O SHORTINHO DAS COLEGIAIS
David Coimbra
A escola tem de formar cidadãos, certo?
Errado.
A escola tem de difundir o conhecimento.
Mas não é o que se espera, no Brasil.
Agora
mesmo, alunas do Anchieta se rebelaram pelo direito de usar shortinhos
três centímetros mais curtos do que o permitido pela escola. Não por
pretenderem sensualizar, ressaltaram, mas porque sentem muito calor.
As
novas gerações são calorentas, compreende-se. O que não se compreende é
a comoção que o tamanho do shortinho causou no Estado. Importa-me muito
mais o que é mais importante: quando as protestantes abordaram o
currículo escolar. Elas defendem mais "educação social e política".
Educação
social e política? Já tivemos isso nas escolas. A disciplina se
chamava, exatamente, Organização Social e Política do Brasil, o velho
OSPB. Tínhamos, também, Moral e Cívica e Religião.
Era o ensino de "valores". Não é o mesmo que a sociedade pede da escola hoje? "Valores".
Naquele
tempo, um dos valores que tentavam nos passar era o patriotismo. Num
dia tão quente que faria as anchietanas irem para o colégio de fio
dental, a professora nos obrigou a cantar o Hino Nacional tantas vezes,
em posição de sentido, debaixo do sol, que passei mal e desmaiei.
E
agora, no século 21? Que valores serão transmitidos a nossos efebos e
cachopas? "Não nos falaram sobre as operações anticorrupção no Brasil",
questionaram as meninas do Anchieta. Sob que ponto de vista os
professores abordarão a corrupção? O professor petista dirá que sempre
se roubou no Brasil, que o brasileiro fura fila e altera nota fiscal,
que é do brasileiro roubar. O professor antipetista dirá que uma
quadrilha governa o país e que o PT tornou o roubo sistemático. Quem
está certo? Quem tem os valores "certos"?
Essa história de valores
não é só brasileira. É ocidental. Einstein, o gênio redescoberto,
odiava a escola alemã exatamente porque era pouco "humana" e por demais
centrada no conhecimento. Mas da escola alemã saíram, além do próprio
Einstein, seus colegas Heisenberg, Niels Bohr, Von Braun e Max Planck,
só para ficar em alguns da sua área e do seu tempo. Não fosse a exigente
escola alemã, Einstein talvez tivesse se tornado sociólogo.
Enquanto
o Ocidente se "humaniza", o Oriente Longínquo se "desumaniza". Até
demais, reconheço: no Japão, o governo pediu que as universidades fechem
as faculdades de ciências sociais e humanas. De 60 faculdades desta
área, 30 deverão ser eliminadas nos próximos meses.
Já no Ensino
Médio a concorrência é tão feroz, que o número de suicídios entre
adolescentes explode nos três primeiros dias de setembro, no Arquipélago
— são os dias da volta às aulas.
Estive na Coreia do Sul, visitei
famílias "comuns" para ver como eles vivem. As crianças praticamente
não têm infância. Depois da escola, passam as horas restantes do dia em
cursos de inglês, matemática, línguas, ciências.
Sim, eles exageram. Mas no que resulta?
Bem,
eu aqui vivo na cidade-sede da educação na América. São 55
universidades poderosas, entre elas Harvard, com seus 47 Prêmios Nobel,
os gênios do MIT e a Boston University de Luther King. E o que se vê nos
campi? Japoneses, coreanos e chineses. Estão tomando as universidades
americanas, a ponto de o governo planejar o estabelecimento de cotas
para LIMITAR o número de orientais nas faculdades.
Esses alunos de
olhos amendoados buscam o conhecimento. Como os japoneses aprendem
"valores" na escola? Ajudando a limpar os banheiros e a varrer as salas
de aula. Que tal?
Valores são subprodutos do conhecimento. Se o
estudante aprender sobre a democracia, por exemplo, saberá que esse não é
um sistema em que todos podem tudo. Ao contrário: esse sistema só
funciona a partir da lei.
Mas quem se interessa pela lei, no Brasil? O Brasil quer formar gerações de libertários. Está formando gerações de mimados.
1) Em relação às afirmações abaixo, analise as que estão de acordo com o texto e assinale a alternativa correta.
I - Conforme o autor, a função da escola é formar cidadãos e difundir o conhecimento.
II
- Além de reivindicar 3 centímetros a mais no comprimento do short
permitido no colégio, as estudantes envolvidas no protesto também pedem
por mais educação social e política.
III
- De acordo com as adolescentes, as operações anticorrupção no Brasil
deveriam ser pauta nas aulas, dando a entender que o assunto não é
debatido no colégio.
IV
- Segundo o texto, em países do Ocidente, como o Japão, por exemplo,
algumas universidades fecharão cursos de ciências sociais e humanas.
V
- De acordo com o texto, o resultado da rigidez na formação dos jovens
orientais está fazendo com que estes - japoneses, coreanos e chineses -
tomem conta das vagas nas melhores Universidades Americanas.
a) Todas estão corretas.
b) Nenhuma está correta.
c) I e IV estão corretas.
d) III e V estão corretas.
e) Apenas a V está correta.
2) O que, segundo o autor, a sociedade pede da escola, atualmente?
3)
Que exemplo de valor era ensinado na escola, segundo o autor, na época
em que existia a disciplina de OSPB? Por que, na sua opinião, o autor
usou o termo valores entre aspas, nesse trecho?
4) Observe a seguinte frase: "E agora, no século 21? Que valores serão transmitidos a nossos efebos e cachopas?" (9º parágrafo). A alternativa que apresenta uma opção de reescrita desta frase, sem alterar o sentido é:
a) "E agora, no século 21? Que valores serão passados a nossos moços e crianças?"
b) "E agora, no século 21? Que valores serão passados a nossos moços e moças?"
c) "E agora, no século 21? Que valores serão noticiados a nossos mestres e moças?"
5) Quais são e de quem são os pontos de vista apresentados pelo autor do texto, acerca da corrupção no Brasil?
6) Como é caracterizada a escola alemã, de acordo com o texto?
7) No 10º parágrafo o autor afirma: "Mas da escola alemã saíram, além do próprio Einstein, seus colegas Heisenberg, Niels Bohr, Von Braun e Max Planck, só para ficar em alguns da sua área e do seu tempo." A qual área o autor se refere?
8)
O autor afirma que, em uma determinada época, no Japão, o número de
suicídios entre os jovens aumenta. Que época é essa e qual é o motivo
dos suicídios?
9) Como é, segundo o autor, a vida de famílias "comuns", na Coreia do Sul?
10) De que forma, segundo o texto, os valores são ensinados aos alunos, no Japão?
11) Por que, na sua opinião, o autor afirma que os "valores são subprodutos do conhecimento"? (17º parágrafo).
12) Qual é, segundo o autor, a condição necessária para que a democracia funcione?
13) Você concorda com a última afirmação feita pelo autor, no texto? Disserte sua opinião em, no mínimo, 10 linhas.
14) Transcreva, do texto, 3 substantivos comuns de dois gêneros.
15) Transcreva, do texto, 1 substantivo sobrecomum.
16) No 8º parágrafo, há um substantivo derivado. Transcreva-o, indicando-lhe o primitivo.
17) Transcreva, do texto, 5 frases nominais.
18) Indique quantos períodos há em cada um dos parágrafos abaixo:
a) 2º parágrafo:
b) 7º parágrafo:
c) 8º parágrafo:
d) 9º parágrafo:
e) 11º parágrafo:
19) Observe a frase: "Esses alunos de olhos amendoados buscam o conhecimento." (16º parágrafo). Se substituirmos o substantivo "alunos" por "estudante", o número de termos a ser alterado é de:
a) 2 b) 3 c) 4 d) 5 e) 1
Texto 2
Conheça a Geração Z: a geração Merthiolate-que-não-arde que não tem mais o que fazer
Flavio Morgenstern
Flavio Morgenstern
Não
é mais pelos 20 centavos: a Revolta do Shortinho mostra que a Geração Z
chegou pra ficar: e sem um emprego pra pagar as próprias contas.
http://sensoincomum.org/2016/02/27/conheca-geracao-z-geracao-que-nao-tem-mais-o-que-fazer/
Nosso
amigo Guy Franco já escreveu que o mundo está perigosamente no processo
de transformação em uma esquete de Monty Python. Analisando as notícias
recentes do Brasil, percebemos uma ameaça ainda mais fatal: estamos nos
transformando numa reprise infinita das cenas de Malhação.
A
crise de saúde no Rio de Janeiro, com hospitais em greve e sem
medicamentos necessários para combate ao câncer, chegou à educação, com
escolas caindo aos pedaços sem merenda (foi cogitado um dia de merenda
fria). Tudo sob gestão do governador peemedebista mais alinhado ao
governo federal (e mais aferrado especificamente a Dilma Rousseff): Luiz
Fernando Pezão.
No mesmo dia, foi revelada pesquisa mostrando que apenas 8% dos brasileiros dominam os fundamentos do Português e Matemática.
A
notícia que mais teve respaldo e gerou memes e discussões nas redes
sociais (e, portanto, nos portais de notícia) a respeito da educação
brasileira nesta semana: alunas do colégio Anchieta, um dos mais antigos
(e caros) de Porto Alegre, fizeram uma mobilização, com ato,
demonstração e petição online, pelo direito de usar shortinho quando
forem para as aulas.
O
colégio é gerido pela Igreja. Os pais de alunos (e os alunos que
desejam ter aquela educação) assinam um contrato que prevê as normas de
conduta do colégio. Todas as salas de aula possuem ar condicionado. Não
mais que de repente, as alunas se revoltam com o código de vestimenta
sugerido por 99 em cada 100 escolas e exigem um passe livre para se
vestirem “como quiserem”. Dez meninos também aderiram à campanha, e
fizeram também um ato de shortinho em apoio às meninas de shortinho, o
que foi fato sobejante para nova notícia. Seu argumento era de que “Isso
mostra que por trás de toda questão do shorts tem muitas outras, como a
luta pela igualdade de gênero e os direitos das pessoas, em usar o que
bem entenderem”. Não foram vistos meninos usando fio-dental no cofrinho
em apoio às meninas, mas talvez não se deva esperar que isto não
aconteça.
As
moças das pernocas de fora ganharam o noticiário nacional. A merenda às
vezes é comentada en passant. O resultado pífio em Português e
Matemática, praticamente nunca.
O
evento das pernas, chamado de “Vai ter shortinho, sim”, disfarça pouco
em sua página o seu viés político. O Canal da Direita mostrou que a
principal articuladora do grupo faz parte do Juntos!, o “coletivo” de
atuação pré-adolescente do PSOL, e atuou com afinco na campanha de
Luciana Genro. Por que isto não surpreende ninguém, e por que há a
necessidade de sempre haver um partido socialista em qualquer algazarra e
ziriguidum por mero prazer neste país?
O
linguajar do evento é de um pobrismo repapagaiador de todos os clichês
que possam caber em um cartaz e num par de pernas juvenis. Fala-se,
obviamente, em “machismo”, em “respeito” a roupas (um conceito difícil
de ser trabalhado pela metafísica ocidental), em não culpar as mulheres
por estupros, em dizer que se alguém deseja as pernas de uma mulher, é
um pensamento “machista”.
Já
analisamos como estes pensamentos prontos são pré-lingüísticos,
símbolos de obediência imediata no falar corrente de uma época (se a
palavra “machismo” assusta, basta-se pensar em “nazismo”, “câncer” ou
“ditadura”, ou em palavras que já tiveram peso semelhante no passado,
como “comunismo”, “AIDS” ou “lepra”).
Se
a moda suprema, a forte corrente a levar a multidão irracionalmente
hoje é o feminismo, apenas a ideia de associar algo a feminismo gera
adesão imediata e pré-consciente, tal como associar qualquer coisa a
machismo torna aquilo tão execrável que qualquer forma de repúdio, a
mais revolucionária, irrefletida, violenta ou desequilibrada se torna
válida, justa e desejável – os argumentos virão a posteriori.
É
este hoje o grande dilema do Ocidente: não mais enfrentar o Exército
Vermelho e seus estupros, não ser um dos povos europeus ou americanos a
enfrentar o nazismo mesmo não sendo judeus, não enfrentar fome, frio
terrível, derrubar lenha, caçar o próprio alimento, enfrentar bárbaros e
bandoleiros.
Somos
já uma civilização assentada – tão assentada e tão opulenta com a
produção de riqueza capitalista para as massas que já ignoramos os
fundamentos dessa própria civilização. Cremos que tudo o que é
civilizacional é natural – a geladeira, o alimento pronto, o ar
condicionado, os prédios, a internet, a polícia e as viagens
transcontinentais.
Somos
o que Ortega y Gasset, no indispensável A Rebelião das Massas, chama de
homem-massa: homens divorciados de alguma noção de continuidade
histórica que, independentemente de sua “classe” social, acreditam que
um computador ou um carro são objetos da natureza que surgem das
árvores, e seu grande heroísmo é apenas exigi-los de alguém.
O
homem-massa é, por definição, um ser urbano, das cidades cheias,
apinhadas. É nelas em que a civilização atinge seu zênite: há não apenas
casas e prédios, mas shoppings, museus, escolas, policiais e toda uma
infra-estrutura desenhada por outros homens para satisfazer e deleitar
seus moradores – o que Olivier Mongin já tão bem definiu em seu ensaio A
Condição Urbana.
Sem
nenhuma aventura violenta cotidiana, exigindo ritos de passagem e
valores como virilidade e força física a separar futuros sobreviventes
das presas fáceis do ambiente, resta ao homem-massa, que pode ser um
sindicalista ou um médico, um intelectual doutor ou meninas adolescentes
de shortinho, apenas sair exigindo “direitos” e vociferando slogans
feitos para serem repetidos roboticamente em massa (anteriormente de
megafones, hoje de blogs, páginas de Facebook e coletivos do PSOL).
Mesmo
um pobre urbano hoje desfruta de luxos, confortos e estofamentos da
civilização que um rei ou nobre de poucos séculos atrás não poderia nem
imaginar (estude-se a história das privadas).
Para
disfarçar este comodismo, o herói adolescente e o intelectual de 140
caracteres fazem analogias, considerando que o uniforme do colégio é o
equivalente aos porões da ditadura, que fazer uma página na internet e
receber xingamentos é equiparável a enfrentar as tropas nazistas, que
segurar um cartaz e “exigir seus direitos” de usar uma roupa curta para
paquerar os meninos num colégio caríssimo é o mesmo que vencer o Estado
Islâmico.
E,
rapidamente, passam a crer que a analogia não é mais analogia, mas que
existem mesmo ditadores, nazistas e terroristas ao nosso redor, e estes
carrascos é que impedem nosso hedonismo adolescente. Pergunte à Márcia
Tiburi.
Esta
é a tal “geração Z”, de que falou recentemente a revista Veja em sua
capa: uma geração que não tem mais o que fazer. Não tem contra o que
lutar. Não lhes falta nada em suas economias. Não são sequer feios,
pobres ou “oprimidos” e “explorados”. É uma geração tão almofadada pela
civilização que até quando caía de bicicleta ao redor da piscina no
condomínio era curada com Merthiolate que não arde.
Que
heroísmo, que conquista individual, que missão e vocação podem ter
estas pós-crianças? O melhor é apelar para abstrações de definições
escorregadias como “machismo”, e ter como causa, como Leitmotiv da
primeira fama da vida, uma briguinha para poder mostrar as pernas e
xingar de machista o colégio católico em que estudam e seus pais pagam
uma fortuna para tal.
A
geração Z é uma vida a passeio. Uma vida sem glórias além de conflitos
tão profundos, existenciais e exigentes quanto os diálogos de Malhação. É
apenas busca por prazer, sem ter nada com que se preocupar. Uma êta
vida besta, meu Deus, que trata o hedonismo, o jardim de Epicuro e a
banalidade como questão mais urgente da vida e da realidade.
É
uma vida de luxo e conforto nunca antes visto na história mundial, mas
que precisa se escorar em bodes expiatórios como chamar de “imposição
machista da sociedade patriarcal” a proibição de shortinhos curtos num
ambiente escolar. Ou tanta macaqueação com “minorias” como transexuais
(que não representam 1% da população). As escolas sem merenda,
novamente, só merecem atenção quando forem geridas por adversários do
PSOL.
A
escola dos shortinhos é aquela caríssima, diferente das estatais caindo
aos pedaços. É a escola onde estas filhas da elite estão por preparação
para uma vida mais confortável ainda, como futuras advogadas, médicas,
economistas. Nenhuma profissão com o “direito” de se vestir “como
quiser”. A única profissão em que isto é liberado não é exatamente o
sonho de nenhuma delas.
Tudo
o que as abstrações do PSOL compradas pela geração Z (como mostra a
Revolta do Shortinho, rigorosamente indiscerníveis dos conflitos
profundos do elenco de Malhação) conseguem fazer é transformar uma birra
adolescente, um detalhe chato da vida, numa discussão bizantina sobre
“não se julgar o caráter pela roupa” ou as velhas e nonagenárias
analogias com estupro.
A
geração Z é a geração que ficou mais fanática do que nossas vovós. Com a
proposta de “respeito”, só quer impor hedonismo oco de significado além
de firula adolescente. Com a proposta de “diversidade”, só quer que
todos pensem igualmente, sem discordância para não “ofender”. Com a
proposta de “progresso”, só destrói tudo o que garante seu conforto em
troca de um prazerzinho momentâneo, sem nunca atentar para o quanto
fazem os pais chorarem no banho enquanto se tornam pessoas sem futuro.
Pior:
ao crer ser revoltada e futurista, apenas repete um discurso comodista e
mais cafona do que uma pochete. Ao crer provocar polêmica e discussão,
apenas ativa tédio e bocejos. É a reprise do Mocotó.
1)
Que outras situações são citadas pelo autor para reforçar a crítica que
fez em relação ao protesto das alunas porto-alegrenses? Por que, na sua
opinião, esses fatos não têm tanta repercussão quanto a alcançada pela
campanha "vai ter shortinho sim"?
2) Analise as afirmações abaixo e assinale a alternativa correta.
I - "A notícia que mais teve respaldo e
gerou memes e discussões [...]" (4º parágrafo) - o termo destacado pode
ser substituído por "críticas", sem alterar o sentido da frase.
II - "O colégio é gerido pela Igreja." (5º parágrafo) - Pode-se reescrever essa frase da seguinte maneira: "O colégio é administrado pela Igreja."
III - "O resultado pífio em
Português e Matemática, praticamente nunca." (6º parágrafo) - O termo
destacado refere-se aos resultados, quase que insignificantes, obtidos
por alunos em avaliações de Português e Matemática.
IV - "O evento das pernas, chamado de "Vai ter shortinho, sim" disfarça pouco em sua página o seu viés político." (7º parágrafo) - O termo destacado pode ser substituído por "caráter", sem alterar o sentido da frase.
V - [...] e atuou com afinco na
campanha de Luciana Genro." (7º parágrafo) - Pode-se reescrever esse
trecho da seguinte maneira: "[...] e trabalhou com empenho na campanha
de Luciana Genro."
a) Apenas a I está incorreta.
b) Apenas a II está incorreta.
c) Apenas a III está incorreta.
d) Apenas a IV está incorreta.
e) Apenas a V está incorreta.
3) Que argumentos, segundo o texto, estão por trás da questão do uso do short?
4) Qual a definição e como é caracterizado o "homem-massa", citado no texto?
5) No 10º parágrafo, encontre sinônimos para as seguintes palavras:
a) rejeição:
b) aceitação:
c) superior:
d) abominável:
6) No 14º parágrafo, encontre sinônimos para as seguintes palavras:
a) agradar:
b) auge:
c) lotadas:
7) Observe o seguinte trecho: "Para disfarçar este comodismo, o herói adolescente e o intelectual de 140 caracteres fazem analogias [...]" (17º parágrafo). O que o autor quis dizer com a expressão destacada.
8) Ao que o autor compara:
a) O uniforme do colégio:
b) Uma página na internet e receber xingamentos:
c) Segurar um cartaz:
9) Como o autor apresenta a Geração Z? E quais as questões que são urgentes para essa geração?
10) De acordo com o autor, qual o objetivo das propostas abaixo, defendidas por essa geração?
a) Respeito:
b) Diversidade:
c) Progresso:
11) Que adjetivos são usados para caracterizar os seguintes substantivos:
a) Notícias (1º parágrafo):
b) Ameaça (1º parágrafo):
c) Reprise (1º parágrafo):
d) Colégio Anchieta (4º parágrafo):
e) Noticiário (6º parágrafo):
f) Partido (7º parágrafo):
g) Pernas (8º parágrafo)
h) Pensamento (8º parágrafo):
i) Heroísmo (13º parágrafo):
Vai ter shortinho sim
Leia a coluna publicada na ZH deste sábado
Por: Cláudia Laitano
27/02/2016 - 06h06min
A
ministra Cármen Lúcia Rocha, 61 anos, foi a primeira mulher a usar
calças compridas no Supremo Tribunal Federal, em 2007. Ellen Gracie
Northfleet, 68, que se tornou a primeira mulher a integrar o STF, em 2000 – 110 anos depois da criação do tribunal –, nunca entrou de calças no plenário.
Nesse
debate, como em outros desse tipo, há um valor de face – a calça,
proibida na Corte até 2000 – e um subtexto – a histórica
sub-representação feminina no Judiciário. Tenho uma filha de 17 anos
que, na segunda-feira, começa o curso de Direito na UFRGS. Gosto de
imaginar que, quando ela tiver a idade da ministra, o STF terá mais
mulheres. Se isso acontecer, terá sido graças a desbravadoras como Ellen
Gracie, Cármen Lúcia, Rosa Weber e, por aqui, Maria Berenice Dias –
que, anos antes de contrariar o senso comum ao tornar-se a primeira
desembargadora do Estado, havia se rebelado contra o comprimento das
saias das normalistas no Instituto de Educação.
Cada
nova geração de mulheres escolhe suas causas e avança um pouco mais na
luta pela igualdade. E isso não acontece sem alguma desobediência às
convenções vigentes. A chegada de Ellen Gracie ao STF foi uma grande
conquista, mas foi preciso uma mulher um pouco mais nova para que a
calça comprida também chegasse lá. E assim, pouco a pouco, o que um dia
foi natural vai se tornando ultrapassado e anacrônico. Como o espartilho
e a proibição do voto.
O shortinho das meninas, como a calça das magistradas,
é a face visível de uma discussão mais profunda. A campanha "vai ter
shortinho sim", das alunas do Anchieta, não é apenas uma atualização da
velha briga sobre o comprimento das saias. Também não é um debate sobre
o uso ou não de uniforme. O que está em discussão é o direito das
alunas de questionarem não um uniforme, que não existe, mas o tratamento
diferenciado dado a meninos e meninas em um contexto de
suposta liberdade de escolhas, onde valem "combinações" e não
regulamentos. Uma vez que as escolas permitem que os alunos escolham
suas roupas – e as escolhas mais comuns são bermudas de praia e chinelos
de dedo para eles e shortinhos para elas –, o rigor (ou falta de)
deveria ser o mesmo para ambos os sexos. Não é o que acontece: meninos
vão para a escola com cuecas aparecendo e havaianas, sem muitas
cobranças sobre a adequação do figurino às convenções do ambiente – enquanto meninas ainda são convidadas a aprender matemática contando os centímetros dos shorts.
Em
um país com taxas pornográficas de violência contra a mulher, as
escolas fariam um grande serviço à civilização se, em vez de se
preocuparem com as roupas que as meninas preferem, ajudassem os meninos a
entender, desde cedo, que devem respeitar o sexo oposto
independentemente do figurino.
1) No início do texto, a autora faz referência a algumas mulheres. Qual a relevância delas para o tema em debate?
2) Releia a frase: "O shortinho das meninas, como a calça das magistradas é a face visível de uma discussão mais profunda." (4º parágrafo). Que discussão é essa?
3) Assinale a alternativa que apresenta, respectivamente, sinônimos das palavras destacadas no 4º parágrafo.
a) juízas - polêmica - cenário - traje - normas
b) alunas - discurso - história - uniforme - acordos
c) juízas - discurso - cenário - uniforme - culturas
d) pessoas - polêmica - cenário - traje - normas
e) juízas - discurso - história - uniforme - culturas
4) Com que sentido a autora empregou o termo "pornográficas" na frase: "Em um país com taxas pornográficas de violência contra a mulher, [...]" (5º parágrafo)?
5) O ponto de vista defendida por Cláudia Laitano é o mesmo defendido por Flavio Morgenstern e David Coimbra? Explique.
6) Transcreva, do texto, os adjetivos usados para caracterizar os substantivos abaixo:
a) calças (1º parágrafo):
b) sendo (2º parágrafo):
c) geração (3º parágrafo):
d) convenções (3º parágrafo):
e) conquista (3º parágrafo):
f) mulher (3º parágrafo):
g) face (4º parágrafo):
h) discussão (4º parágrafo):
i) tratamento (4º parágrafo):
j) liberdade (4º parágrafo):
7) Substitua o adjetivo abaixo, pela locução adjetiva correspondente:
a) sub-representação feminina:
8) Substitua a locução adjetiva abaixo, pelo adjetivo correspondente:
a) convenções do ambiente:
6) Transcreva, do texto, os adjetivos usados para caracterizar os substantivos abaixo:
a) calças (1º parágrafo):
b) sendo (2º parágrafo):
c) geração (3º parágrafo):
d) convenções (3º parágrafo):
e) conquista (3º parágrafo):
f) mulher (3º parágrafo):
g) face (4º parágrafo):
h) discussão (4º parágrafo):
i) tratamento (4º parágrafo):
j) liberdade (4º parágrafo):
7) Substitua o adjetivo abaixo, pela locução adjetiva correspondente:
a) sub-representação feminina:
8) Substitua a locução adjetiva abaixo, pelo adjetivo correspondente:
a) convenções do ambiente:
9) A partir da leitura dos três textos, posicione-se sobre o tema em debate, dissertando em, no mínimo, 30 linhas.
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