TEXTOS E ATIVIDADES SOBRE A POLÊMICA DOS SHORTINHOS

TEXTOS E ATIVIDADES SOBRE A POLÊMICA DOS SHORTINHOS

Texto 1
O SHORTINHO DAS COLEGIAIS
David Coimbra



A escola tem de formar cidadãos, certo?

Errado.

A escola tem de difundir o conhecimento.

Mas não é o que se espera, no Brasil.

Agora mesmo, alunas do Anchieta se rebelaram pelo direito de usar shortinhos três centímetros mais curtos do que o permitido pela escola. Não por pretenderem sensualizar, ressaltaram, mas porque sentem muito calor.

As novas gerações são calorentas, compreende-se. O que não se compreende é a comoção que o tamanho do shortinho causou no Estado. Importa-me muito mais o que é mais importante: quando as protestantes abordaram o currículo escolar. Elas defendem mais "educação social e política".

Educação social e política? Já tivemos isso nas escolas. A disciplina se chamava, exatamente, Organização Social e Política do Brasil, o velho OSPB. Tínhamos, também, Moral e Cívica e Religião.

Era o ensino de "valores". Não é o mesmo que a sociedade pede da escola hoje? "Valores".
Naquele tempo, um dos valores que tentavam nos passar era o patriotismo. Num dia tão quente que faria as anchietanas irem para o colégio de fio dental, a professora nos obrigou a cantar o Hino Nacional tantas vezes, em posição de sentido, debaixo do sol, que passei mal e desmaiei.

E agora, no século 21? Que valores serão transmitidos a nossos efebos e cachopas? "Não nos falaram sobre as operações anticorrupção no Brasil", questionaram as meninas do Anchieta. Sob que ponto de vista os professores abordarão a corrupção? O professor petista dirá que sempre se roubou no Brasil, que o brasileiro fura fila e altera nota fiscal, que é do brasileiro roubar. O professor antipetista dirá que uma quadrilha governa o país e que o PT tornou o roubo sistemático. Quem está certo? Quem tem os valores "certos"?

Essa história de valores não é só brasileira. É ocidental. Einstein, o gênio redescoberto, odiava a escola alemã exatamente porque era pouco "humana" e por demais centrada no conhecimento. Mas da escola alemã saíram, além do próprio Einstein, seus colegas Heisenberg, Niels Bohr, Von Braun e Max Planck, só para ficar em alguns da sua área e do seu tempo. Não fosse a exigente escola alemã, Einstein talvez tivesse se tornado sociólogo.

Enquanto o Ocidente se "humaniza", o Oriente Longínquo se "desumaniza". Até demais, reconheço: no Japão, o governo pediu que as universidades fechem as faculdades de ciências sociais e humanas. De 60 faculdades desta área, 30 deverão ser eliminadas nos próximos meses.

Já no Ensino Médio a concorrência é tão feroz, que o número de suicídios entre adolescentes explode nos três primeiros dias de setembro, no Arquipélago — são os dias da volta às aulas.

Estive na Coreia do Sul, visitei famílias "comuns" para ver como eles vivem. As crianças praticamente não têm infância. Depois da escola, passam as horas restantes do dia em cursos de inglês, matemática, línguas, ciências.

Sim, eles exageram. Mas no que resulta?

Bem, eu aqui vivo na cidade-sede da educação na América. São 55 universidades poderosas, entre elas Harvard, com seus 47 Prêmios Nobel, os gênios do MIT e a Boston University de Luther King. E o que se vê nos campi? Japoneses, coreanos e chineses. Estão tomando as universidades americanas, a ponto de o governo planejar o estabelecimento de cotas para LIMITAR o número de orientais nas faculdades.

Esses alunos de olhos amendoados buscam o conhecimento. Como os japoneses aprendem "valores" na escola? Ajudando a limpar os banheiros e a varrer as salas de aula. Que tal?

Valores são subprodutos do conhecimento. Se o estudante aprender sobre a democracia, por exemplo, saberá que esse não é um sistema em que todos podem tudo. Ao contrário: esse sistema só funciona a partir da lei.

Mas quem se interessa pela lei, no Brasil? O Brasil quer formar gerações de libertários. Está formando gerações de mimados. 

1) Em relação às afirmações abaixo, analise as que estão de acordo com o texto e assinale a alternativa correta.
I - Conforme o autor, a função da escola é formar cidadãos e difundir o conhecimento.
II - Além de reivindicar 3 centímetros a mais no comprimento do short permitido no colégio, as estudantes envolvidas no protesto também pedem por mais educação social e política.
III - De acordo com as adolescentes, as operações anticorrupção no Brasil deveriam ser pauta nas aulas, dando a entender que o assunto não é debatido no colégio.
IV - Segundo o texto, em países do Ocidente, como o Japão, por exemplo, algumas universidades fecharão cursos de ciências sociais e humanas.
V - De acordo com o texto, o resultado da rigidez na formação dos jovens orientais está fazendo com que estes - japoneses, coreanos e chineses - tomem conta das vagas nas melhores Universidades Americanas.

a) Todas estão corretas.
b) Nenhuma está correta.
c) I e IV estão corretas.
d) III e V estão corretas.
e) Apenas a V está correta.

2) O que, segundo o autor, a sociedade pede da escola, atualmente?

3) Que exemplo de valor era ensinado na escola, segundo o autor, na época em que existia a disciplina de OSPB? Por que, na sua opinião, o autor usou o termo valores entre aspas, nesse trecho?

4) Observe a seguinte frase: "E agora, no século 21? Que valores serão transmitidos a nossos efebos e cachopas?" (9º parágrafo). A alternativa que apresenta uma opção de reescrita desta frase, sem alterar o sentido é:
a) "E agora, no século 21? Que valores serão passados a nossos moços e crianças?"
b) "E agora, no século 21? Que valores serão passados a nossos moços e moças?"
c) "E agora, no século 21? Que valores serão noticiados a nossos mestres e moças?"

5) Quais são e de quem são os pontos de vista apresentados pelo autor do texto, acerca da corrupção no Brasil?

6) Como é caracterizada a escola alemã, de acordo com o texto?

7) No 10º parágrafo o autor afirma: "Mas da escola alemã saíram, além do próprio Einstein, seus colegas Heisenberg, Niels Bohr, Von Braun e Max Planck, só para ficar em alguns da sua área e do seu tempo."  A qual área o autor se refere?

8) O autor afirma que, em uma determinada época, no Japão, o número de suicídios entre os jovens aumenta. Que época é essa e qual é o motivo dos suicídios?

9) Como é, segundo o autor, a vida de famílias "comuns", na Coreia do Sul?

10) De que forma, segundo o texto, os valores são ensinados aos alunos, no Japão?

11) Por que, na sua opinião, o autor afirma que os "valores são subprodutos do conhecimento"? (17º parágrafo).

12) Qual é, segundo o autor, a condição necessária para que a democracia funcione?

13) Você concorda com a última afirmação feita pelo autor, no texto? Disserte sua opinião em, no mínimo, 10 linhas.

14) Transcreva, do texto, 3 substantivos comuns de dois gêneros.

15) Transcreva, do texto, 1 substantivo sobrecomum.

16) No 8º parágrafo, há um substantivo derivado. Transcreva-o, indicando-lhe o primitivo.

17) Transcreva, do texto, 5 frases nominais.

18) Indique quantos períodos há em cada um dos parágrafos abaixo:
a) 2º parágrafo:
b) 7º parágrafo:
c) 8º parágrafo:
d) 9º parágrafo:
e) 11º parágrafo:

19) Observe a frase: "Esses alunos de olhos amendoados buscam o conhecimento." (16º parágrafo). Se substituirmos o substantivo "alunos" por "estudante", o número de termos a ser alterado é de: 
a) 2            b) 3           c) 4          d) 5          e) 1

20) O termo "protestantes" empregado pelo autor, no 6º parágrafo, é derivado de qual substantivo?

Texto 2
Conheça a Geração Z: a geração Merthiolate-que-não-arde que não tem mais o que fazer
Flavio Morgenstern

Não é mais pelos 20 centavos: a Revolta do Shortinho mostra que a Geração Z chegou pra ficar: e sem um emprego pra pagar as próprias contas.

http://sensoincomum.org/2016/02/27/conheca-geracao-z-geracao-que-nao-tem-mais-o-que-fazer/


Nosso amigo Guy Franco já escreveu que o mundo está perigosamente no processo de transformação em uma esquete de Monty Python. Analisando as notícias recentes do Brasil, percebemos uma ameaça ainda mais fatal: estamos nos transformando numa reprise infinita das cenas de Malhação.

A crise de saúde no Rio de Janeiro, com hospitais em greve e sem medicamentos necessários para combate ao câncer, chegou à educação, com escolas caindo aos pedaços sem merenda (foi cogitado um dia de merenda fria). Tudo sob gestão do governador peemedebista mais alinhado ao governo federal (e mais aferrado especificamente a Dilma Rousseff): Luiz Fernando Pezão.

No mesmo dia, foi revelada pesquisa mostrando que apenas 8% dos brasileiros dominam os fundamentos do Português e Matemática.

A notícia que mais teve respaldo e gerou memes e discussões nas redes sociais (e, portanto, nos portais de notícia) a respeito da educação brasileira nesta semana: alunas do colégio Anchieta, um dos mais antigos (e caros) de Porto Alegre, fizeram uma mobilização, com ato, demonstração e petição online, pelo direito de usar shortinho quando forem para as aulas.

O colégio é gerido pela Igreja. Os pais de alunos (e os alunos que desejam ter aquela educação) assinam um contrato que prevê as normas de conduta do colégio. Todas as salas de aula possuem ar condicionado. Não mais que de repente, as alunas se revoltam com o código de vestimenta sugerido por 99 em cada 100 escolas e exigem um passe livre para se vestirem “como quiserem”. Dez meninos também aderiram à campanha, e fizeram também um ato de shortinho em apoio às meninas de shortinho, o que foi fato sobejante para nova notícia. Seu argumento era de que “Isso mostra que por trás de toda questão do shorts tem muitas outras, como a luta pela igualdade de gênero e os direitos das pessoas, em usar o que bem entenderem”. Não foram vistos meninos usando fio-dental no cofrinho em apoio às meninas, mas talvez não se deva esperar que isto não aconteça.

As moças das pernocas de fora ganharam o noticiário nacional. A merenda às vezes é comentada en passant. O resultado pífio em Português e Matemática, praticamente nunca.

O evento das pernas, chamado de “Vai ter shortinho, sim”, disfarça pouco em sua página o seu viés político. O Canal da Direita mostrou que a principal articuladora do grupo faz parte do Juntos!, o “coletivo” de atuação pré-adolescente do PSOL, e atuou com afinco na campanha de Luciana Genro. Por que isto não surpreende ninguém, e por que há a necessidade de sempre haver um partido socialista em qualquer algazarra e ziriguidum por mero prazer neste país?

O linguajar do evento é de um pobrismo repapagaiador de todos os clichês que possam caber em um cartaz e num par de pernas juvenis. Fala-se, obviamente, em “machismo”, em “respeito” a roupas (um conceito difícil de ser trabalhado pela metafísica ocidental), em não culpar as mulheres por estupros, em dizer que se alguém deseja as pernas de uma mulher, é um pensamento “machista”.

Já analisamos como estes pensamentos prontos são pré-lingüísticos, símbolos de obediência imediata no falar corrente de uma época (se a palavra “machismo” assusta, basta-se pensar em “nazismo”, “câncer” ou “ditadura”, ou em palavras que já tiveram peso semelhante no passado, como “comunismo”, “AIDS” ou “lepra”).

Se a moda suprema, a forte corrente a levar a multidão irracionalmente hoje é o feminismo, apenas a ideia de associar algo a feminismo gera adesão imediata e pré-consciente, tal como associar qualquer coisa a machismo torna aquilo tão execrável que qualquer forma de repúdio, a mais revolucionária, irrefletida, violenta ou desequilibrada se torna válida, justa e desejável – os argumentos virão a posteriori.

É este hoje o grande dilema do Ocidente: não mais enfrentar o Exército Vermelho e seus estupros, não ser um dos povos europeus ou americanos a enfrentar o nazismo mesmo não sendo judeus, não enfrentar fome, frio terrível, derrubar lenha, caçar o próprio alimento, enfrentar bárbaros e bandoleiros.

Somos já uma civilização assentada – tão assentada e tão opulenta com a produção de riqueza capitalista para as massas que já ignoramos os fundamentos dessa própria civilização. Cremos que tudo o que é civilizacional é natural – a geladeira, o alimento pronto, o ar condicionado, os prédios, a internet, a polícia e as viagens transcontinentais.

Somos o que Ortega y Gasset, no indispensável A Rebelião das Massas, chama de homem-massa: homens divorciados de alguma noção de continuidade histórica que, independentemente de sua “classe” social, acreditam que um computador ou um carro são objetos da natureza que surgem das árvores, e seu grande heroísmo é apenas exigi-los de alguém.

O homem-massa é, por definição, um ser urbano, das cidades cheias, apinhadas. É nelas em que a civilização atinge seu zênite: há não apenas casas e prédios, mas shoppings, museus, escolas, policiais e toda uma infra-estrutura desenhada por outros homens para satisfazer e deleitar seus moradores – o que Olivier Mongin já tão bem definiu em seu ensaio A Condição Urbana.

Sem nenhuma aventura violenta cotidiana, exigindo ritos de passagem e valores como virilidade e força física a separar futuros sobreviventes das presas fáceis do ambiente, resta ao homem-massa, que pode ser um sindicalista ou um médico, um intelectual doutor ou meninas adolescentes de shortinho, apenas sair exigindo “direitos” e vociferando slogans feitos para serem repetidos roboticamente em massa (anteriormente de megafones, hoje de blogs, páginas de Facebook e coletivos do PSOL).

Mesmo um pobre urbano hoje desfruta de luxos, confortos e estofamentos da civilização que um rei ou nobre de poucos séculos atrás não poderia nem imaginar (estude-se a história das privadas).

Para disfarçar este comodismo, o herói adolescente e o intelectual de 140 caracteres fazem analogias, considerando que o uniforme do colégio é o equivalente aos porões da ditadura, que fazer uma página na internet e receber xingamentos é equiparável a enfrentar as tropas nazistas, que segurar um cartaz e “exigir seus direitos” de usar uma roupa curta para paquerar os meninos num colégio caríssimo é o mesmo que vencer o Estado Islâmico.

E, rapidamente, passam a crer que a analogia não é mais analogia, mas que existem mesmo ditadores, nazistas e terroristas ao nosso redor, e estes carrascos é que impedem nosso hedonismo adolescente. Pergunte à Márcia Tiburi.

Esta é a tal “geração Z”, de que falou recentemente a revista Veja em sua capa: uma geração que não tem mais o que fazer. Não tem contra o que lutar. Não lhes falta nada em suas economias. Não são sequer feios, pobres ou “oprimidos” e “explorados”. É uma geração tão almofadada pela civilização que até quando caía de bicicleta ao redor da piscina no condomínio era curada com Merthiolate que não arde.

Que heroísmo, que conquista individual, que missão e vocação podem ter estas pós-crianças? O melhor é apelar para abstrações de definições escorregadias como “machismo”, e ter como causa, como Leitmotiv da primeira fama da vida, uma briguinha para poder mostrar as pernas e xingar de machista o colégio católico em que estudam e seus pais pagam uma fortuna para tal.

A geração Z é uma vida a passeio. Uma vida sem glórias além de conflitos tão profundos, existenciais e exigentes quanto os diálogos de Malhação. É apenas busca por prazer, sem ter nada com que se preocupar. Uma êta vida besta, meu Deus, que trata o hedonismo, o jardim de Epicuro e a banalidade como questão mais urgente da vida e da realidade.

É uma vida de luxo e conforto nunca antes visto na história mundial, mas que precisa se escorar em bodes expiatórios como chamar de “imposição machista da sociedade patriarcal” a proibição de shortinhos curtos num ambiente escolar. Ou tanta macaqueação com “minorias” como transexuais (que não representam 1% da população). As escolas sem merenda, novamente, só merecem atenção quando forem geridas por adversários do PSOL.

A escola dos shortinhos é aquela caríssima, diferente das estatais caindo aos pedaços. É a escola onde estas filhas da elite estão por preparação para uma vida mais confortável ainda, como futuras advogadas, médicas, economistas. Nenhuma profissão com o “direito” de se vestir “como quiser”. A única profissão em que isto é liberado não é exatamente o sonho de nenhuma delas.

Tudo o que as abstrações do PSOL compradas pela geração Z (como mostra a Revolta do Shortinho, rigorosamente indiscerníveis dos conflitos profundos do elenco de Malhação) conseguem fazer é transformar uma birra adolescente, um detalhe chato da vida, numa discussão bizantina sobre “não se julgar o caráter pela roupa” ou as velhas e nonagenárias analogias com estupro.

A geração Z é a geração que ficou mais fanática do que nossas vovós. Com a proposta de “respeito”, só quer impor hedonismo oco de significado além de firula adolescente. Com a proposta de “diversidade”, só quer que todos pensem igualmente, sem discordância para não “ofender”. Com a proposta de “progresso”, só destrói tudo o que garante seu conforto em troca de um prazerzinho momentâneo, sem nunca atentar para o quanto fazem os pais chorarem no banho enquanto se tornam pessoas sem futuro.

Pior: ao crer ser revoltada e futurista, apenas repete um discurso comodista e mais cafona do que uma pochete. Ao crer provocar polêmica e discussão, apenas ativa tédio e bocejos. É a reprise do Mocotó.

1) Que outras situações são citadas pelo autor para reforçar a crítica que fez em relação ao protesto das alunas porto-alegrenses? Por que, na sua opinião, esses fatos não têm tanta repercussão quanto a alcançada pela campanha "vai ter shortinho sim"?

2) Analise as afirmações abaixo e assinale a alternativa correta.
I - "A notícia que mais teve respaldo e gerou memes e discussões [...]" (4º parágrafo) - o termo destacado pode ser substituído por "críticas", sem alterar o sentido da frase.
II - "O colégio é gerido pela Igreja." (5º parágrafo) - Pode-se reescrever essa frase da seguinte maneira: "O colégio é administrado pela Igreja."
III - "O resultado pífio em Português e Matemática, praticamente nunca." (6º parágrafo) - O termo destacado refere-se aos resultados, quase que insignificantes, obtidos por alunos em avaliações de Português e Matemática.
IV - "O evento das pernas, chamado de "Vai ter shortinho, sim" disfarça pouco em sua página o seu viés político." (7º parágrafo) - O termo destacado pode ser substituído por "caráter", sem alterar o sentido da frase.
V - [...] e atuou com afinco na campanha de Luciana Genro." (7º parágrafo) - Pode-se reescrever esse trecho da seguinte maneira: "[...] e trabalhou com empenho na campanha de Luciana Genro."

a) Apenas a I está incorreta.
b) Apenas a II está incorreta.
c) Apenas a III está incorreta.
d) Apenas a IV está incorreta.
e) Apenas a V está incorreta.

3) Que argumentos, segundo o texto, estão por trás da questão do uso do short?

4) Qual a definição e como é caracterizado o "homem-massa", citado no texto?

5) No 10º parágrafo, encontre sinônimos para as seguintes palavras:
a) rejeição:
b) aceitação:
c) superior:
d) abominável:

6) No 14º parágrafo, encontre sinônimos para as seguintes palavras:
a) agradar:
b) auge:
c) lotadas:

7) Observe o seguinte trecho: "Para disfarçar este comodismo, o herói adolescente e o intelectual de 140 caracteres fazem analogias [...]" (17º parágrafo). O que o autor quis dizer com  a expressão destacada.

8) Ao que o autor compara:
a) O uniforme do colégio:
b) Uma página na internet e receber xingamentos:
c) Segurar um cartaz:

9) Como o autor apresenta a Geração Z? E quais as questões que são urgentes para essa geração?

10) De acordo com o autor, qual o objetivo das propostas abaixo, defendidas por essa geração?
a) Respeito:
b) Diversidade:
c) Progresso:

11) Que adjetivos são usados para caracterizar os seguintes substantivos:
a) Notícias (1º parágrafo):
b) Ameaça (1º parágrafo):
c) Reprise (1º parágrafo):
d) Colégio Anchieta (4º parágrafo):
e) Noticiário (6º parágrafo):
f) Partido (7º parágrafo):
g) Pernas (8º parágrafo)
h) Pensamento (8º parágrafo):
i) Heroísmo (13º parágrafo):

Texto 3
Vai ter shortinho sim
Leia a coluna publicada na ZH deste sábado
Por: Cláudia Laitano
27/02/2016 - 06h06min


A ministra Cármen Lúcia Rocha, 61 anos, foi a primeira mulher a usar calças compridas no Supremo Tribunal Federal, em 2007. Ellen Gracie Northfleet, 68, que se tornou a primeira mulher a integrar o STF, em 2000 – 110 anos depois da criação do tribunal –, nunca entrou de calças no plenário.

Nesse debate, como em outros desse tipo, há um valor de face – a calça, proibida na Corte até 2000 – e um subtexto – a histórica sub-representação feminina no Judiciário. Tenho uma filha de 17 anos que, na segunda-feira, começa o curso de Direito na UFRGS. Gosto de imaginar que, quando ela tiver a idade da ministra, o STF terá mais mulheres. Se isso acontecer, terá sido graças a desbravadoras como Ellen Gracie, Cármen Lúcia, Rosa Weber e, por aqui, Maria Berenice Dias – que, anos antes de contrariar o senso comum ao tornar-se a primeira desembargadora do Estado, havia se rebelado contra o comprimento das saias das normalistas no Instituto de Educação.

Cada nova geração de mulheres escolhe suas causas e avança um pouco mais na luta pela igualdade. E isso não acontece sem alguma desobediência às convenções vigentes. A chegada de Ellen Gracie ao STF foi uma grande conquista, mas foi preciso uma mulher um pouco mais nova para que a calça comprida também chegasse lá. E assim, pouco a pouco, o que um dia foi natural vai se tornando ultrapassado e anacrônico. Como o espartilho e a proibição do voto.

O shortinho das meninas, como a calça das magistradas, é a face visível de uma discussão mais profunda. A campanha "vai ter shortinho sim", das alunas do Anchieta, não é apenas uma atualização da velha briga sobre o comprimento das saias. Também não é um debate sobre o uso ou não de uniforme. O que está em discussão é o direito das alunas de questionarem não um uniforme, que não existe, mas o tratamento diferenciado dado a meninos e meninas em um contexto de suposta liberdade de escolhas, onde valem "combinações" e não regulamentos. Uma vez que as escolas permitem que os alunos escolham suas roupas – e as escolhas mais comuns são bermudas de praia e chinelos de dedo para eles e shortinhos para elas –, o rigor (ou falta de) deveria ser o mesmo para ambos os sexos. Não é o que acontece: meninos vão para a escola com cuecas aparecendo e havaianas, sem muitas cobranças sobre a adequação do figurino às convenções do ambiente – enquanto meninas ainda são convidadas a aprender matemática contando os centímetros dos shorts.

Em um país com taxas pornográficas de violência contra a mulher, as escolas fariam um grande serviço à civilização se, em vez de se preocuparem com as roupas que as meninas preferem, ajudassem os meninos a entender, desde cedo, que devem respeitar o sexo oposto independentemente do figurino.

1) No início do texto, a autora faz referência a algumas mulheres. Qual a relevância delas para o tema em debate?

2) Releia a frase: "O shortinho das meninas, como a calça das magistradas é a face visível de uma discussão mais profunda." (4º parágrafo). Que discussão é essa?

3) Assinale a alternativa que apresenta, respectivamente, sinônimos das palavras destacadas no 4º parágrafo. 
a) juízas - polêmica - cenário - traje - normas
b) alunas - discurso - história - uniforme - acordos
c) juízas - discurso - cenário - uniforme - culturas
d) pessoas - polêmica - cenário - traje - normas
e) juízas - discurso - história  - uniforme - culturas

4) Com que sentido a autora empregou o termo "pornográficas" na frase: "Em um país com taxas pornográficas de violência contra a mulher, [...]" (5º parágrafo)?

5) O ponto de vista defendida por Cláudia Laitano é o mesmo defendido por Flavio Morgenstern e David Coimbra? Explique.

6) Transcreva, do texto, os adjetivos usados para caracterizar os substantivos abaixo:
a) calças (1º parágrafo):
b) sendo (2º parágrafo):
c) geração (3º parágrafo):
d) convenções (3º parágrafo):
e) conquista (3º parágrafo):
f) mulher (3º parágrafo):
g) face (4º parágrafo):
h) discussão (4º parágrafo):
i) tratamento (4º parágrafo):
j) liberdade (4º parágrafo):

7) Substitua o adjetivo abaixo, pela locução adjetiva correspondente:
a) sub-representação feminina:

8) Substitua a locução adjetiva abaixo, pelo adjetivo correspondente:
a) convenções do ambiente:

9) A partir da leitura dos três textos, posicione-se sobre o tema em debate, dissertando em, no mínimo, 30 linhas.



TEXTOS E ATIVIDADES SOBRE A POLÊMICA DOS SHORTINHOS

Texto 1
O SHORTINHO DAS COLEGIAIS
David Coimbra



A escola tem de formar cidadãos, certo?

Errado.

A escola tem de difundir o conhecimento.

Mas não é o que se espera, no Brasil.

Agora mesmo, alunas do Anchieta se rebelaram pelo direito de usar shortinhos três centímetros mais curtos do que o permitido pela escola. Não por pretenderem sensualizar, ressaltaram, mas porque sentem muito calor.

As novas gerações são calorentas, compreende-se. O que não se compreende é a comoção que o tamanho do shortinho causou no Estado. Importa-me muito mais o que é mais importante: quando as protestantes abordaram o currículo escolar. Elas defendem mais "educação social e política".

Educação social e política? Já tivemos isso nas escolas. A disciplina se chamava, exatamente, Organização Social e Política do Brasil, o velho OSPB. Tínhamos, também, Moral e Cívica e Religião.

Era o ensino de "valores". Não é o mesmo que a sociedade pede da escola hoje? "Valores".
Naquele tempo, um dos valores que tentavam nos passar era o patriotismo. Num dia tão quente que faria as anchietanas irem para o colégio de fio dental, a professora nos obrigou a cantar o Hino Nacional tantas vezes, em posição de sentido, debaixo do sol, que passei mal e desmaiei.

E agora, no século 21? Que valores serão transmitidos a nossos efebos e cachopas? "Não nos falaram sobre as operações anticorrupção no Brasil", questionaram as meninas do Anchieta. Sob que ponto de vista os professores abordarão a corrupção? O professor petista dirá que sempre se roubou no Brasil, que o brasileiro fura fila e altera nota fiscal, que é do brasileiro roubar. O professor antipetista dirá que uma quadrilha governa o país e que o PT tornou o roubo sistemático. Quem está certo? Quem tem os valores "certos"?

Essa história de valores não é só brasileira. É ocidental. Einstein, o gênio redescoberto, odiava a escola alemã exatamente porque era pouco "humana" e por demais centrada no conhecimento. Mas da escola alemã saíram, além do próprio Einstein, seus colegas Heisenberg, Niels Bohr, Von Braun e Max Planck, só para ficar em alguns da sua área e do seu tempo. Não fosse a exigente escola alemã, Einstein talvez tivesse se tornado sociólogo.

Enquanto o Ocidente se "humaniza", o Oriente Longínquo se "desumaniza". Até demais, reconheço: no Japão, o governo pediu que as universidades fechem as faculdades de ciências sociais e humanas. De 60 faculdades desta área, 30 deverão ser eliminadas nos próximos meses.

Já no Ensino Médio a concorrência é tão feroz, que o número de suicídios entre adolescentes explode nos três primeiros dias de setembro, no Arquipélago — são os dias da volta às aulas.

Estive na Coreia do Sul, visitei famílias "comuns" para ver como eles vivem. As crianças praticamente não têm infância. Depois da escola, passam as horas restantes do dia em cursos de inglês, matemática, línguas, ciências.

Sim, eles exageram. Mas no que resulta?

Bem, eu aqui vivo na cidade-sede da educação na América. São 55 universidades poderosas, entre elas Harvard, com seus 47 Prêmios Nobel, os gênios do MIT e a Boston University de Luther King. E o que se vê nos campi? Japoneses, coreanos e chineses. Estão tomando as universidades americanas, a ponto de o governo planejar o estabelecimento de cotas para LIMITAR o número de orientais nas faculdades.

Esses alunos de olhos amendoados buscam o conhecimento. Como os japoneses aprendem "valores" na escola? Ajudando a limpar os banheiros e a varrer as salas de aula. Que tal?

Valores são subprodutos do conhecimento. Se o estudante aprender sobre a democracia, por exemplo, saberá que esse não é um sistema em que todos podem tudo. Ao contrário: esse sistema só funciona a partir da lei.

Mas quem se interessa pela lei, no Brasil? O Brasil quer formar gerações de libertários. Está formando gerações de mimados. 

1) Em relação às afirmações abaixo, analise as que estão de acordo com o texto e assinale a alternativa correta.
I - Conforme o autor, a função da escola é formar cidadãos e difundir o conhecimento.
II - Além de reivindicar 3 centímetros a mais no comprimento do short permitido no colégio, as estudantes envolvidas no protesto também pedem por mais educação social e política.
III - De acordo com as adolescentes, as operações anticorrupção no Brasil deveriam ser pauta nas aulas, dando a entender que o assunto não é debatido no colégio.
IV - Segundo o texto, em países do Ocidente, como o Japão, por exemplo, algumas universidades fecharão cursos de ciências sociais e humanas.
V - De acordo com o texto, o resultado da rigidez na formação dos jovens orientais está fazendo com que estes - japoneses, coreanos e chineses - tomem conta das vagas nas melhores Universidades Americanas.

a) Todas estão corretas.
b) Nenhuma está correta.
c) I e IV estão corretas.
d) III e V estão corretas.
e) Apenas a V está correta.

2) O que, segundo o autor, a sociedade pede da escola, atualmente?

3) Que exemplo de valor era ensinado na escola, segundo o autor, na época em que existia a disciplina de OSPB? Por que, na sua opinião, o autor usou o termo valores entre aspas, nesse trecho?

4) Observe a seguinte frase: "E agora, no século 21? Que valores serão transmitidos a nossos efebos e cachopas?" (9º parágrafo). A alternativa que apresenta uma opção de reescrita desta frase, sem alterar o sentido é:
a) "E agora, no século 21? Que valores serão passados a nossos moços e crianças?"
b) "E agora, no século 21? Que valores serão passados a nossos moços e moças?"
c) "E agora, no século 21? Que valores serão noticiados a nossos mestres e moças?"

5) Quais são e de quem são os pontos de vista apresentados pelo autor do texto, acerca da corrupção no Brasil?

6) Como é caracterizada a escola alemã, de acordo com o texto?

7) No 10º parágrafo o autor afirma: "Mas da escola alemã saíram, além do próprio Einstein, seus colegas Heisenberg, Niels Bohr, Von Braun e Max Planck, só para ficar em alguns da sua área e do seu tempo."  A qual área o autor se refere?

8) O autor afirma que, em uma determinada época, no Japão, o número de suicídios entre os jovens aumenta. Que época é essa e qual é o motivo dos suicídios?

9) Como é, segundo o autor, a vida de famílias "comuns", na Coreia do Sul?

10) De que forma, segundo o texto, os valores são ensinados aos alunos, no Japão?

11) Por que, na sua opinião, o autor afirma que os "valores são subprodutos do conhecimento"? (17º parágrafo).

12) Qual é, segundo o autor, a condição necessária para que a democracia funcione?

13) Você concorda com a última afirmação feita pelo autor, no texto? Disserte sua opinião em, no mínimo, 10 linhas.

14) Transcreva, do texto, 3 substantivos comuns de dois gêneros.

15) Transcreva, do texto, 1 substantivo sobrecomum.

16) No 8º parágrafo, há um substantivo derivado. Transcreva-o, indicando-lhe o primitivo.

17) Transcreva, do texto, 5 frases nominais.

18) Indique quantos períodos há em cada um dos parágrafos abaixo:
a) 2º parágrafo:
b) 7º parágrafo:
c) 8º parágrafo:
d) 9º parágrafo:
e) 11º parágrafo:

19) Observe a frase: "Esses alunos de olhos amendoados buscam o conhecimento." (16º parágrafo). Se substituirmos o substantivo "alunos" por "estudante", o número de termos a ser alterado é de: 
a) 2            b) 3           c) 4          d) 5          e) 1

20) O termo "protestantes" empregado pelo autor, no 6º parágrafo, é derivado de qual substantivo?

Texto 2
Conheça a Geração Z: a geração Merthiolate-que-não-arde que não tem mais o que fazer
Flavio Morgenstern

Não é mais pelos 20 centavos: a Revolta do Shortinho mostra que a Geração Z chegou pra ficar: e sem um emprego pra pagar as próprias contas.

http://sensoincomum.org/2016/02/27/conheca-geracao-z-geracao-que-nao-tem-mais-o-que-fazer/


Nosso amigo Guy Franco já escreveu que o mundo está perigosamente no processo de transformação em uma esquete de Monty Python. Analisando as notícias recentes do Brasil, percebemos uma ameaça ainda mais fatal: estamos nos transformando numa reprise infinita das cenas de Malhação.

A crise de saúde no Rio de Janeiro, com hospitais em greve e sem medicamentos necessários para combate ao câncer, chegou à educação, com escolas caindo aos pedaços sem merenda (foi cogitado um dia de merenda fria). Tudo sob gestão do governador peemedebista mais alinhado ao governo federal (e mais aferrado especificamente a Dilma Rousseff): Luiz Fernando Pezão.

No mesmo dia, foi revelada pesquisa mostrando que apenas 8% dos brasileiros dominam os fundamentos do Português e Matemática.

A notícia que mais teve respaldo e gerou memes e discussões nas redes sociais (e, portanto, nos portais de notícia) a respeito da educação brasileira nesta semana: alunas do colégio Anchieta, um dos mais antigos (e caros) de Porto Alegre, fizeram uma mobilização, com ato, demonstração e petição online, pelo direito de usar shortinho quando forem para as aulas.

O colégio é gerido pela Igreja. Os pais de alunos (e os alunos que desejam ter aquela educação) assinam um contrato que prevê as normas de conduta do colégio. Todas as salas de aula possuem ar condicionado. Não mais que de repente, as alunas se revoltam com o código de vestimenta sugerido por 99 em cada 100 escolas e exigem um passe livre para se vestirem “como quiserem”. Dez meninos também aderiram à campanha, e fizeram também um ato de shortinho em apoio às meninas de shortinho, o que foi fato sobejante para nova notícia. Seu argumento era de que “Isso mostra que por trás de toda questão do shorts tem muitas outras, como a luta pela igualdade de gênero e os direitos das pessoas, em usar o que bem entenderem”. Não foram vistos meninos usando fio-dental no cofrinho em apoio às meninas, mas talvez não se deva esperar que isto não aconteça.

As moças das pernocas de fora ganharam o noticiário nacional. A merenda às vezes é comentada en passant. O resultado pífio em Português e Matemática, praticamente nunca.

O evento das pernas, chamado de “Vai ter shortinho, sim”, disfarça pouco em sua página o seu viés político. O Canal da Direita mostrou que a principal articuladora do grupo faz parte do Juntos!, o “coletivo” de atuação pré-adolescente do PSOL, e atuou com afinco na campanha de Luciana Genro. Por que isto não surpreende ninguém, e por que há a necessidade de sempre haver um partido socialista em qualquer algazarra e ziriguidum por mero prazer neste país?

O linguajar do evento é de um pobrismo repapagaiador de todos os clichês que possam caber em um cartaz e num par de pernas juvenis. Fala-se, obviamente, em “machismo”, em “respeito” a roupas (um conceito difícil de ser trabalhado pela metafísica ocidental), em não culpar as mulheres por estupros, em dizer que se alguém deseja as pernas de uma mulher, é um pensamento “machista”.

Já analisamos como estes pensamentos prontos são pré-lingüísticos, símbolos de obediência imediata no falar corrente de uma época (se a palavra “machismo” assusta, basta-se pensar em “nazismo”, “câncer” ou “ditadura”, ou em palavras que já tiveram peso semelhante no passado, como “comunismo”, “AIDS” ou “lepra”).

Se a moda suprema, a forte corrente a levar a multidão irracionalmente hoje é o feminismo, apenas a ideia de associar algo a feminismo gera adesão imediata e pré-consciente, tal como associar qualquer coisa a machismo torna aquilo tão execrável que qualquer forma de repúdio, a mais revolucionária, irrefletida, violenta ou desequilibrada se torna válida, justa e desejável – os argumentos virão a posteriori.

É este hoje o grande dilema do Ocidente: não mais enfrentar o Exército Vermelho e seus estupros, não ser um dos povos europeus ou americanos a enfrentar o nazismo mesmo não sendo judeus, não enfrentar fome, frio terrível, derrubar lenha, caçar o próprio alimento, enfrentar bárbaros e bandoleiros.

Somos já uma civilização assentada – tão assentada e tão opulenta com a produção de riqueza capitalista para as massas que já ignoramos os fundamentos dessa própria civilização. Cremos que tudo o que é civilizacional é natural – a geladeira, o alimento pronto, o ar condicionado, os prédios, a internet, a polícia e as viagens transcontinentais.

Somos o que Ortega y Gasset, no indispensável A Rebelião das Massas, chama de homem-massa: homens divorciados de alguma noção de continuidade histórica que, independentemente de sua “classe” social, acreditam que um computador ou um carro são objetos da natureza que surgem das árvores, e seu grande heroísmo é apenas exigi-los de alguém.

O homem-massa é, por definição, um ser urbano, das cidades cheias, apinhadas. É nelas em que a civilização atinge seu zênite: há não apenas casas e prédios, mas shoppings, museus, escolas, policiais e toda uma infra-estrutura desenhada por outros homens para satisfazer e deleitar seus moradores – o que Olivier Mongin já tão bem definiu em seu ensaio A Condição Urbana.

Sem nenhuma aventura violenta cotidiana, exigindo ritos de passagem e valores como virilidade e força física a separar futuros sobreviventes das presas fáceis do ambiente, resta ao homem-massa, que pode ser um sindicalista ou um médico, um intelectual doutor ou meninas adolescentes de shortinho, apenas sair exigindo “direitos” e vociferando slogans feitos para serem repetidos roboticamente em massa (anteriormente de megafones, hoje de blogs, páginas de Facebook e coletivos do PSOL).

Mesmo um pobre urbano hoje desfruta de luxos, confortos e estofamentos da civilização que um rei ou nobre de poucos séculos atrás não poderia nem imaginar (estude-se a história das privadas).

Para disfarçar este comodismo, o herói adolescente e o intelectual de 140 caracteres fazem analogias, considerando que o uniforme do colégio é o equivalente aos porões da ditadura, que fazer uma página na internet e receber xingamentos é equiparável a enfrentar as tropas nazistas, que segurar um cartaz e “exigir seus direitos” de usar uma roupa curta para paquerar os meninos num colégio caríssimo é o mesmo que vencer o Estado Islâmico.

E, rapidamente, passam a crer que a analogia não é mais analogia, mas que existem mesmo ditadores, nazistas e terroristas ao nosso redor, e estes carrascos é que impedem nosso hedonismo adolescente. Pergunte à Márcia Tiburi.

Esta é a tal “geração Z”, de que falou recentemente a revista Veja em sua capa: uma geração que não tem mais o que fazer. Não tem contra o que lutar. Não lhes falta nada em suas economias. Não são sequer feios, pobres ou “oprimidos” e “explorados”. É uma geração tão almofadada pela civilização que até quando caía de bicicleta ao redor da piscina no condomínio era curada com Merthiolate que não arde.

Que heroísmo, que conquista individual, que missão e vocação podem ter estas pós-crianças? O melhor é apelar para abstrações de definições escorregadias como “machismo”, e ter como causa, como Leitmotiv da primeira fama da vida, uma briguinha para poder mostrar as pernas e xingar de machista o colégio católico em que estudam e seus pais pagam uma fortuna para tal.

A geração Z é uma vida a passeio. Uma vida sem glórias além de conflitos tão profundos, existenciais e exigentes quanto os diálogos de Malhação. É apenas busca por prazer, sem ter nada com que se preocupar. Uma êta vida besta, meu Deus, que trata o hedonismo, o jardim de Epicuro e a banalidade como questão mais urgente da vida e da realidade.

É uma vida de luxo e conforto nunca antes visto na história mundial, mas que precisa se escorar em bodes expiatórios como chamar de “imposição machista da sociedade patriarcal” a proibição de shortinhos curtos num ambiente escolar. Ou tanta macaqueação com “minorias” como transexuais (que não representam 1% da população). As escolas sem merenda, novamente, só merecem atenção quando forem geridas por adversários do PSOL.

A escola dos shortinhos é aquela caríssima, diferente das estatais caindo aos pedaços. É a escola onde estas filhas da elite estão por preparação para uma vida mais confortável ainda, como futuras advogadas, médicas, economistas. Nenhuma profissão com o “direito” de se vestir “como quiser”. A única profissão em que isto é liberado não é exatamente o sonho de nenhuma delas.

Tudo o que as abstrações do PSOL compradas pela geração Z (como mostra a Revolta do Shortinho, rigorosamente indiscerníveis dos conflitos profundos do elenco de Malhação) conseguem fazer é transformar uma birra adolescente, um detalhe chato da vida, numa discussão bizantina sobre “não se julgar o caráter pela roupa” ou as velhas e nonagenárias analogias com estupro.

A geração Z é a geração que ficou mais fanática do que nossas vovós. Com a proposta de “respeito”, só quer impor hedonismo oco de significado além de firula adolescente. Com a proposta de “diversidade”, só quer que todos pensem igualmente, sem discordância para não “ofender”. Com a proposta de “progresso”, só destrói tudo o que garante seu conforto em troca de um prazerzinho momentâneo, sem nunca atentar para o quanto fazem os pais chorarem no banho enquanto se tornam pessoas sem futuro.

Pior: ao crer ser revoltada e futurista, apenas repete um discurso comodista e mais cafona do que uma pochete. Ao crer provocar polêmica e discussão, apenas ativa tédio e bocejos. É a reprise do Mocotó.

1) Que outras situações são citadas pelo autor para reforçar a crítica que fez em relação ao protesto das alunas porto-alegrenses? Por que, na sua opinião, esses fatos não têm tanta repercussão quanto a alcançada pela campanha "vai ter shortinho sim"?

2) Analise as afirmações abaixo e assinale a alternativa correta.
I - "A notícia que mais teve respaldo e gerou memes e discussões [...]" (4º parágrafo) - o termo destacado pode ser substituído por "críticas", sem alterar o sentido da frase.
II - "O colégio é gerido pela Igreja." (5º parágrafo) - Pode-se reescrever essa frase da seguinte maneira: "O colégio é administrado pela Igreja."
III - "O resultado pífio em Português e Matemática, praticamente nunca." (6º parágrafo) - O termo destacado refere-se aos resultados, quase que insignificantes, obtidos por alunos em avaliações de Português e Matemática.
IV - "O evento das pernas, chamado de "Vai ter shortinho, sim" disfarça pouco em sua página o seu viés político." (7º parágrafo) - O termo destacado pode ser substituído por "caráter", sem alterar o sentido da frase.
V - [...] e atuou com afinco na campanha de Luciana Genro." (7º parágrafo) - Pode-se reescrever esse trecho da seguinte maneira: "[...] e trabalhou com empenho na campanha de Luciana Genro."

a) Apenas a I está incorreta.
b) Apenas a II está incorreta.
c) Apenas a III está incorreta.
d) Apenas a IV está incorreta.
e) Apenas a V está incorreta.

3) Que argumentos, segundo o texto, estão por trás da questão do uso do short?

4) Qual a definição e como é caracterizado o "homem-massa", citado no texto?

5) No 10º parágrafo, encontre sinônimos para as seguintes palavras:
a) rejeição:
b) aceitação:
c) superior:
d) abominável:

6) No 14º parágrafo, encontre sinônimos para as seguintes palavras:
a) agradar:
b) auge:
c) lotadas:

7) Observe o seguinte trecho: "Para disfarçar este comodismo, o herói adolescente e o intelectual de 140 caracteres fazem analogias [...]" (17º parágrafo). O que o autor quis dizer com  a expressão destacada.

8) Ao que o autor compara:
a) O uniforme do colégio:
b) Uma página na internet e receber xingamentos:
c) Segurar um cartaz:

9) Como o autor apresenta a Geração Z? E quais as questões que são urgentes para essa geração?

10) De acordo com o autor, qual o objetivo das propostas abaixo, defendidas por essa geração?
a) Respeito:
b) Diversidade:
c) Progresso:

11) Que adjetivos são usados para caracterizar os seguintes substantivos:
a) Notícias (1º parágrafo):
b) Ameaça (1º parágrafo):
c) Reprise (1º parágrafo):
d) Colégio Anchieta (4º parágrafo):
e) Noticiário (6º parágrafo):
f) Partido (7º parágrafo):
g) Pernas (8º parágrafo)
h) Pensamento (8º parágrafo):
i) Heroísmo (13º parágrafo):

Texto 3
Vai ter shortinho sim
Leia a coluna publicada na ZH deste sábado
Por: Cláudia Laitano
27/02/2016 - 06h06min


A ministra Cármen Lúcia Rocha, 61 anos, foi a primeira mulher a usar calças compridas no Supremo Tribunal Federal, em 2007. Ellen Gracie Northfleet, 68, que se tornou a primeira mulher a integrar o STF, em 2000 – 110 anos depois da criação do tribunal –, nunca entrou de calças no plenário.

Nesse debate, como em outros desse tipo, há um valor de face – a calça, proibida na Corte até 2000 – e um subtexto – a histórica sub-representação feminina no Judiciário. Tenho uma filha de 17 anos que, na segunda-feira, começa o curso de Direito na UFRGS. Gosto de imaginar que, quando ela tiver a idade da ministra, o STF terá mais mulheres. Se isso acontecer, terá sido graças a desbravadoras como Ellen Gracie, Cármen Lúcia, Rosa Weber e, por aqui, Maria Berenice Dias – que, anos antes de contrariar o senso comum ao tornar-se a primeira desembargadora do Estado, havia se rebelado contra o comprimento das saias das normalistas no Instituto de Educação.

Cada nova geração de mulheres escolhe suas causas e avança um pouco mais na luta pela igualdade. E isso não acontece sem alguma desobediência às convenções vigentes. A chegada de Ellen Gracie ao STF foi uma grande conquista, mas foi preciso uma mulher um pouco mais nova para que a calça comprida também chegasse lá. E assim, pouco a pouco, o que um dia foi natural vai se tornando ultrapassado e anacrônico. Como o espartilho e a proibição do voto.

O shortinho das meninas, como a calça das magistradas, é a face visível de uma discussão mais profunda. A campanha "vai ter shortinho sim", das alunas do Anchieta, não é apenas uma atualização da velha briga sobre o comprimento das saias. Também não é um debate sobre o uso ou não de uniforme. O que está em discussão é o direito das alunas de questionarem não um uniforme, que não existe, mas o tratamento diferenciado dado a meninos e meninas em um contexto de suposta liberdade de escolhas, onde valem "combinações" e não regulamentos. Uma vez que as escolas permitem que os alunos escolham suas roupas – e as escolhas mais comuns são bermudas de praia e chinelos de dedo para eles e shortinhos para elas –, o rigor (ou falta de) deveria ser o mesmo para ambos os sexos. Não é o que acontece: meninos vão para a escola com cuecas aparecendo e havaianas, sem muitas cobranças sobre a adequação do figurino às convenções do ambiente – enquanto meninas ainda são convidadas a aprender matemática contando os centímetros dos shorts.

Em um país com taxas pornográficas de violência contra a mulher, as escolas fariam um grande serviço à civilização se, em vez de se preocuparem com as roupas que as meninas preferem, ajudassem os meninos a entender, desde cedo, que devem respeitar o sexo oposto independentemente do figurino.

1) No início do texto, a autora faz referência a algumas mulheres. Qual a relevância delas para o tema em debate?

2) Releia a frase: "O shortinho das meninas, como a calça das magistradas é a face visível de uma discussão mais profunda." (4º parágrafo). Que discussão é essa?

3) Assinale a alternativa que apresenta, respectivamente, sinônimos das palavras destacadas no 4º parágrafo. 
a) juízas - polêmica - cenário - traje - normas
b) alunas - discurso - história - uniforme - acordos
c) juízas - discurso - cenário - uniforme - culturas
d) pessoas - polêmica - cenário - traje - normas
e) juízas - discurso - história  - uniforme - culturas

4) Com que sentido a autora empregou o termo "pornográficas" na frase: "Em um país com taxas pornográficas de violência contra a mulher, [...]" (5º parágrafo)?

5) O ponto de vista defendida por Cláudia Laitano é o mesmo defendido por Flavio Morgenstern e David Coimbra? Explique.

6) Transcreva, do texto, os adjetivos usados para caracterizar os substantivos abaixo:
a) calças (1º parágrafo):
b) sendo (2º parágrafo):
c) geração (3º parágrafo):
d) convenções (3º parágrafo):
e) conquista (3º parágrafo):
f) mulher (3º parágrafo):
g) face (4º parágrafo):
h) discussão (4º parágrafo):
i) tratamento (4º parágrafo):
j) liberdade (4º parágrafo):

7) Substitua o adjetivo abaixo, pela locução adjetiva correspondente:
a) sub-representação feminina:

8) Substitua a locução adjetiva abaixo, pelo adjetivo correspondente:
a) convenções do ambiente:

9) A partir da leitura dos três textos, posicione-se sobre o tema em debate, dissertando em, no mínimo, 30 linhas.




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